Bloomberg — A Ford está recalibrando novamente a sua estratégia de eletrificação, cancelando planos para um veículo esportivo totalmente elétrico, em uma mudança que pode custar à montadora cerca de US$ 1,9 bilhão.
Além de descartar um utilitário esportivo totalmente elétrico que já havia sido adiado, a Ford atrasará ainda mais o lançamento de uma picape elétrica de próxima geração e reduzirá os gastos com elétricos para 30% de suas despesas de capital anuais, em comparação com cerca de 40% anteriormente.
A montadora também anunciou nesta quarta-feira (21) que está mudando os planos de fornecimento de baterias, citando a necessidade de competir melhor com os concorrentes chineses de custo mais baixo.
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As ações representam um recuo adicional do CEO Jim Farley, que inicialmente acelerou a mudança da Ford para os veículos elétricos quando assumiu o cargo há quase quatro anos.
A montadora incorreu em custos significativos para aumentar a produção quando o crescimento das vendas do setor começou a diminuir, levando a Ford a prever que sua unidade de veículos elétricos perderá até US$ 5,5 bilhões este ano.
Farley agora está apostando que a Ford pode fornecer veículos elétricos com preços equivalentes aos dos veículos tradicionais, incluindo uma picape média movida a bateria que deve ser lançada em 2027, e obter lucro com esses modelos dentro de um ano após o lançamento.
“Essa é uma grande virada de chave para nós, e não vamos fazer isso sem fazer muita lição de casa para nos convencermos de que é o plano certo”, disse Farley, 62 anos, em uma entrevista. “Estou muito confiante.˜
As ações da Ford caem cerca de 12% no acumulado do ano.
Critérios de elétricos
A Ford reagiu à desaceleração da demanda por veículos elétricos aumentando a produção de modelos híbridos, que foram mais bem recebidos pelos consumidores.
Farley está particularmente otimista em relação a um tipo de híbrido chamado de veículos elétricos de alcance estendido, ou EREVs, na sigla em inglês, que decolaram na China. Os veículos usam um pequeno motor a gasolina para manter a bateria de bordo carregada durante a condução, permitindo maior autonomia.
A Ford agora está considerando a tecnologia de elétricos de alcance estendido para sua próxima geração de SUVs de três fileiras de bancos, enquanto busca oferecer uma variedade de opções em toda a sua linha.
Mas a montadora acabou determinando que não conseguiria ganhar dinheiro com um SUV grande totalmente elétrico.
“Adoramos nosso crossover de três fileiras de assentos e eu estava muito animado para mostrar a todos o trabalho que fizemos”, disse Farley. “Mas era simplesmente impossível que ele atendesse aos nossos critérios de lucratividade.”
Como resultado dessa mudança de planos, a Ford assumirá um encargo especial não monetário de cerca de US$ 400 milhões relacionado à redução do valor dos ativos de fabricação que não serão mais usados.
A fábrica canadense onde o SUV elétrico seria construído agora está programada para produzir picapes com motor a combustão, altamente lucrativas.
A Ford também pode incorrer em até US$ 1,5 bilhão em despesas adicionais, incluindo despesas de caixa, em trimestres futuros como itens especiais relacionados ao cancelamento do SUV elétrico e à mudança de opções de trem de força.
Enquanto o utilitário esportivo será deixado de lado, a Ford produzirá uma nova van comercial totalmente elétrica em Ohio a partir de 2026, seguida por duas novas picapes em 2027.
Uma dessas caminhonetes será um modelo de tamanho médio baseado em uma plataforma liderada pelo ex-líder de engenharia do modelo Y, o mais vendido da Tesla (TSLA).
A outra é uma caminhonete de última geração que a Ford construirá no Tennessee cerca de dois anos depois do planejado inicialmente.
Para melhorar o desempenho financeiro de seu negócio de elétricos, a Ford aumentará seu mix de produção de baterias nos EUA para se qualificar para créditos fiscais de fabricação incluídos na Lei de Redução da Inflação de 2022 do governo Biden.
A montadora está trabalhando com um de seus fornecedores de células – a LG, da Coreia do Sul – para transferir parte da produção de baterias necessárias para os SUVs elétricos Mustang Mach-E da Polônia para Holland, Michigan, no próximo ano.
“Isso será uma grande parte de nossa caminhada rumo à lucratividade”, disse John Lawler, diretor financeiro da Ford, em uma entrevista.
A BlueOval SK - joint venture da Ford com outra fabricante de células sul-coreana, a SK On - também começará a fabricar baterias para as atuais vans E-Transit da montadora antes do planejado, a partir de meados de 2025.
No final do próximo ano, a BlueOval produzirá células para a van comercial que será construída em Ohio. A montadora descobriu que seus clientes comerciais têm sido mais receptivos aos elétricos.
Baterias de baixo custo
A Ford está no caminho certo para começar a fabricar baterias de fosfato de ferro e lítio, ou LFP, de baixo custo em Michigan a partir de 2026.
A montadora espera que essa seja a primeira fábrica de células LFP nos EUA e que as baterias se qualifiquem para créditos fiscais de até US$ 7.500 para os consumidores. A Ford reduziu a capacidade planejada para a fábrica em quase metade no final do ano passado.
Farley disse que a picape de médio porte, que será alimentada pela bateria LFP fabricada em Michigan, será mais barata do que um motor de combustão interna tradicional ou um modelo híbrido.
“É um produto que muda o jogo do ponto de vista do custo“, disse Farley.
Ele não quis dizer quando a unidade de elétricos da Ford, chamada Model e, dará lucro. Essas respostas podem vir no primeiro semestre do próximo ano, quando a empresa planeja fornecer uma atualização sobre sua estratégia de eletrificação.
Por enquanto, Farley disse que a abordagem da Ford para qualquer novo elétrico proposto é simples: “Não vamos aprová-los a menos que sejam lucrativos no primeiro ano.”
--Com a colaboração de Craig Trudell.
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