Bloomberg — A Ford (F) divulgou um plano em que aposta em elétricos pequenos e baratos para conter as perdas em seus carros com motores eletrificados e competir com a Tesla (TSLA) e montadoras chinesas.
O CEO Jim Farley revelou os planos aos analistas na terça-feira (6), depois que a montadora anunciou um lucro ajustado por ação de 29 centavos de dólar, mais que o dobro dos 13 centavos esperados em média pelos analistas. A receita do quarto trimestre de US$ 46 bilhões superou os US$ 40,3 bilhões esperados por analistas.
A Ford recalibrou sua estratégia de veículos elétricos para afastar-se de modelos grandes e caros, pois os preços altos são a maior barreira para convencer os compradores de carros convencionais a adotarem a tecnologia elétrica, Farley diz.
“Também ajustamos nosso capital, focamos mais em produtos elétricos menores”, afirmou Farley aos analistas em uma teleconferência. Ele disse que a Ford “fez uma aposta silenciosa dois anos atrás” para montar uma equipe e criar uma plataforma de veículo elétrico de baixo custo.
A pequena equipe é liderada por Alan Clarke, diretor executivo de desenvolvimento avançado de veículos elétricos, que ingressou na Ford há dois anos após mais de 12 anos desenvolvendo modelos para a Tesla.
A nova plataforma elétrica será a base de “vários tipos de veículos”, diz Farley, o que deve gerar lucro.
Os modelos atuais movidos a bateria da Ford tiveram prejuízo de US$ 4,7 bilhões no ano passado, e a empresa projeta que as perdas aumentarão para até US$ 5,5 bilhões neste ano.
“Estamos longe de nosso potencial de ganhos”, diz Farley. “Todas as nossas equipes de veículos elétricos estão focadas implacavelmente em custos e eficiência em nossos produtos elétricos, porque a competição final é com o Tesla acessível e os modelos elétricos chineses.”
À medida que as vendas de veículos elétricos diminuem, Farley tenta equilibrar a redução dos gastos da empresa com veículos elétricos em US$ 12 bilhões, ao mesmo tempo em que aumenta a produção de modelos tradicionais a combustão interna, que geram lucros necessários para financiar o crescimento futuro.
Para o ano atual, a Ford prevê lucro de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões antes de juros e impostos, em comparação com US$ 10,4 bilhões na mesma base em 2023.
O resultado fica no topo da previsão de US$ 10 bilhões a US$ 10,5 bilhões que a empresa fez em novembro, quando reduziu as expectativas de lucro após uma greve de seis semanas pelo sindicato United Auto Workers (UAW).
Como parte dessa iniciativa para obter mais lucros, a montadora planeja cortes de custos de US$ 2 bilhões, mirando áreas como materiais, frete e operações de fabricação.
“Esperamos que as ações subam” com os resultados trimestrais melhores do que o esperado e a orientação otimista para o ano inteiro, disse o banco Wells Fargo (WFC) em uma nota de research escrita por analistas liderados por Colin Langan.
As ações da Ford subíam 5,5% às 9h39 em Nova York. Até o fechamento de terça-feira, as ações tinha queda acumulada de 1% no ano.
A montadora vai conceder aos investidores um dividendo suplementar de 18 centavos por ação, além do dividendo trimestral regular de 15 centavos. Ambos serão pagos em 1º de março aos acionistas registrados em 16 de fevereiro.
Problemas com veículos elétricos
Em dezembro, a montadora reduziu à metade a produção de picapes elétricas F-150 Lightning, ao mesmo tempo em que aumentou a produção de seus altamente lucrativos utilitários esportivos Bronco e picapes Ranger.
O diretor financeiro John Lawler disse aos analistas que a empresa não espera mais atingir sua meta de margem de 8% em veículos elétricos até 2026.
A aposta da Ford em veículos elétricos em 2023 se traduziu em uma perda de cerca de US$ 28.000 para cada modelo movido a bateria vendido, de acordo com uma análise do analista da Bloomberg Intelligence, Joel Levington, que observou que essas perdas são “insustentáveis”.
Um ponto positivo são os veículos híbridos, para os quais a Ford mudou de direção em resposta à forte demanda dos consumidores. Farley diz esperar que as vendas de modelos híbridos cresçam 40% este ano, em comparação com o salto de 25% no ano passado.
Custos trabalhistas
A montadora também enfrenta custos trabalhistas mais altos do que sua rival de Detroit, a General Motors (GM), que impressionou Wall Street na semana passada com uma previsão de lucros antes de juros e impostos de US$ 12 bilhões a US$ 14 bilhões em 2024.
A GM diz que o contrato firmado com o UAW adicionará cerca de US$ 575 em custos por carro, enquanto a Ford prevê um aumento de até US$ 900 por veículo devido ao acordo que eleva os salários dos trabalhadores em 33% ao longo de quatro anos e meio.
“A GM está mais preparada para absorver esses custos trabalhistas porque já tinha uma base de custos mais saudável na América do Norte”, diz David Whiston, analista da Morningstar em Chicago, em uma entrevista antes da divulgação dos resultados da Ford. “E a Ford tem mais funcionários do UAW nos EUA do que a GM.”
Em seu negócio tradicional de motores a combustão, conhecido como Ford Blue, a empresa obtém lucro de US$ 813 milhões antes de juros e impostos no quarto trimestre, menos que os US$ 866,5 milhões esperados pelos analistas.
As vendas da Ford nos EUA sobem menos de 1% no quarto trimestre, pois a greve do UAW custa a produção de modelos de alto lucro como a picape F-Series Super Duty e o utilitário Explorer.
Em seu negócio comercial, conhecido como Ford Pro, a montadora obtém US$ 1,81 bilhão antes de juros e impostos, mais que os US$ 1,43 bilhão esperados pelos analistas.
A Bloomberg Intelligence prevê que a Ford Pro verá margens expandirem este ano, enquanto sua unidade Ford Blue experimentará pressão nas margens à medida que os preços caem devido ao fato de os revendedores terem reabastecido seus estoques após escassez relacionada à pandemia.
“O lucro da Ford está em uma corda bamba, pois a transição para veículos elétricos está levando mais tempo do que o esperado, exigindo adequação para cortar perdas com veículos elétricos enquanto gerencia a competição de preços crescente para a Ford Blue”, escrevem os analistas da BI Steve Man e Peter Lau em uma nota de 2 de fevereiro.
“Nossa previsão vê as vendas de veículos elétricos nos EUA aumentando 9% este ano, após crescerem a uma taxa anual composta de 65% nos últimos três anos.”
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