Bloomberg News — Semanas antes do retorno de Donald Trump à Casa Branca, as fábricas chinesas estão expandindo sua produção no exterior e ampliando sua base de clientes fora dos Estados Unidos à medida que se preparam para novas taxas a serem impostas pelo autoproclamado “homem das tarifas”.
Uma fabricante de equipamentos esportivos está finalizando uma nova fábrica no Vietnã, com o objetivo de evitar novas medidas comerciais contra produtos feitos na China. Uma fabricante de chapéus planeja vender mais para europeus. E uma empresa de fundição de metais pode voltar sua atenção ao mercado chinês, apesar da economia em desaceleração.
Mas os chefes das fábricas também reconhecem que suas tentativas de proteger seus negócios contra Trump são vulneráveis aos caprichos de suas políticas comerciais, destacando a crescente ansiedade mesmo antes da posse do presidente eleito.
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Repórteres da Bloomberg News conversaram com gerentes e executivos de fábricas em toda a China para descobrir como estão se preparando para uma segunda guerra comercial com os EUA sob liderança de Trump. Alguns pediram que seus nomes e os de suas empresas e clientes não fossem publicados para que pudessem falar abertamente sobre seus planos.
Lar, doce lar
Empresa: Dawang Metals
Produtos: Fundição de metais
Clientes: Grandes fabricantes de equipamentos industriais
Exposição aos EUA: Aproximadamente 50% das vendas
Diante de possíveis tarifas dos EUA, a empresa está buscando vender mais de seus produtos em outros mercados, incluindo o doméstico.
“Fazemos principalmente exportações agora porque o lucro no exterior era melhor. Mas, se a situação no exterior não for boa, podemos focar novamente em nossos clientes chineses, que são muito confiáveis e têm grande capacidade de encomendas”, disse Heather Kuang, vice-presidente da Dawang Metals.
A empresa não tem planos de mover a produção, pois o processo de fabricação é intensivo em energia e requer matérias-primas da China, como metais e areia de fundição, destacando os limites do plano de Trump de usar tarifas elevadas para atrair empresas a se instalarem e criarem empregos nos EUA.
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Em vez disso, tarifas adicionais sobre produtos chineses podem acabar prejudicando a competitividade das empresas americanas que dependem desses insumos. A China produz cerca de metade da fundição mundial de metais, mais do que a produção combinada dos oito países seguintes, de acordo com dados de 2020 da World Foundry Organization.
“Se houver tarifas, o custo será definitivamente transferido para os americanos”, disse Kuang. “A produção das empresas americanas provavelmente terá que diminuir, pois não há como arcar com custos tão altos. Elas terão dificuldade em vender os produtos, pois os concorrentes poderão oferecer preços mais baixos.”
Contudo, vender no mercado doméstico pode significar margens menores. A feroz competição de preços tem pressionado os lucros dos fabricantes nos últimos anos.
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Pensando no governo Vance
Empresa: Fabricante de produtos químicos e de saúde
Produtos: Vitaminas, aminoácidos e resinas
Clientes: Empresas globais de beleza, energia, química e alimentos
Exposição aos EUA: Menos de 20% das exportações
A empresa perdeu participação de mercado durante a primeira guerra comercial, quando manteve os preços e deixou os importadores dos EUA arcarem com as tarifas. Desta vez, está construindo uma nova fábrica na Europa Oriental, na esperança de que as importações dessa região não sejam tarifadas — ou que as tarifas sejam menores.
O fabricante químico está planejando não apenas para os próximos quatro anos, mas para a próxima década, devido à possibilidade de o vice-presidente eleito JD Vance continuar a política de Trump após 2028, segundo um executivo responsável por investimentos e desenvolvimento.
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A empresa considera mover a produção para os EUA, já que Trump ameaçou tarifas universais de 10% a 20% que se aplicariam aos produtos mesmo que fossem feitos fora da China. Ele também teme que os EUA usem investigações de antidumping como armas na guerra comercial e está preparado para vender mais para o Sudeste Asiático e a América do Sul caso as tarifas nos EUA sejam altas.
O representante da empresa disse que abrir fábricas nos EUA pode ser uma solução em que todos ganham, pois cria empregos no país e ajuda a empresa a manter acesso ao mercado americano. Mas ele prefere não fazer isso, afirmando que a China é o local mais eficiente para produzir.
Vendendo para a Europa
Empresa: Superb International
Produtos: Chapéus, cachecóis e luvas
Clientes: Grandes varejistas nos EUA e na Europa
Exposição aos EUA: 30-35% das exportações
A expectativa de retorno de Trump já afetou os pedidos, disse Howard Yuan, gerente de negócios da Superb International, que fabrica acessórios de vestuário no leste da China.
“Temos alguns clientes dos EUA que costumavam pedir 10 mil ou 20 mil unidades e agora reduziram pela metade porque não sabem o que vai acontecer”, disse Yuan, acrescentando que sua empresa tem uma receita anual de US$ 20 milhões.
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Com um tempo de produção de dois meses para chapéus, isso significa que os produtos pedidos agora chegarão aos portos americanos após a posse de Trump. Com o risco de tarifas de magnitude desconhecida, a empresa está voltando sua atenção a outros clientes.
“Os clientes americanos são complicados neste ambiente e há muitas variáveis, então precisamos prestar mais atenção aos clientes europeus”, afirmou.
Construção de Marca
Empresa: Yunbang Technology
Produtos: Iluminação de palco
Clientes: Consumidores finais através de marketplaces online
Exposição aos EUA: 65% das vendas
A Yunbang entrou no negócio de iluminação de palco em 2015 fornecendo para marcas internacionais, principalmente dos EUA. Durante a última guerra comercial, a empresa lançou sua própria marca, Shehds, em 2018, após investir em pesquisa e desenvolvimento por três anos.
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“Com controle de tecnologia, inovação e construção de marca, temos plena confiança para manter o crescimento no mercado global mesmo com mudanças na política comercial”, disse Cheng Li, diretor de vendas.
Offshoring
Empresa: Fabricante de equipamentos esportivos
Produtos: Caiaques e pranchas
Exposição aos EUA: Menos de 20% das vendas
Após a guerra comercial de 2018, a empresa começou a construir uma fábrica no Vietnã, com previsão de produção para Europa e eventualmente para os EUA.
“Temos ferramentas para combater as tarifas”, disse Stanley Sun, gerente de vendas.
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