Flexibilidade é chave para atrair talentos, defende CEO de empresa global tech

Para Otávio Argenton, que comanda o grupo suíço SoftwareOne no Brasil, restrições impostas por empresas reduzem o engajamento e, consequentemente, o nível de entrega de profissionais

Escritório SoftwareOne no Brasil
18 de Agosto, 2024 | 08:57 AM

Bloomberg Línea — Liberdade geográfica e flexibilidade de horário são dois conceitos cada vez mais em evidência e valorizados no mercado de trabalho. Na busca global por talentos, empresas apostam em novas políticas associadas a esses pontos para atrair e reter jovens funcionários, como os da Geração Z.

Além do desenvolvimento na carreira, a nova geração está cada vez mais preocupada com o bem-estar, segundo o CEO do grupo suíço de tecnologia SoftwareOne no Brasil, Otávio Argenton.

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“Sempre que uma empresa impõe restrições, como em relação ao home office, o funcionário não vai estar 100% feliz. Estamos lidando com uma geração que, quanto mais liberdade ela tiver, melhor. E quanto mais cuidado tivermos com ela, mais engajada será”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

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A empresa, que conta com gigantes da indústria e do varejo na carteira de clientes, já operava com o modelo de trabalho híbrido antes da pandemia.

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O grupo, que atua com soluções em nuvem e inteligência artificial, teve um faturamento global de cerca de R$ 6 bilhões em 2023. Na operação brasileira, são cerca de 350 funcionários em três escritórios: um em Belo Horizonte e dois em São Paulo (um na capital e outro recém-inaugurado em Alphaville).

“É preciso ter um propósito para ir ao escritório. Não adianta só marcar presença”, disse.

A média de idade dos funcionários da empresa no Brasil é de 32 anos, o que engloba boa parte da faixa daqueles considerados da Geração Z, entre 14 e 29 anos (nascidos entre 1995 e 2010).

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Em segmento que enfrenta dificuldades para atrair e reter talentos e tem competidores globais como Deloitte e Accenture, ele afirmou que esses cuidados precisam ir além do plano de saúde e do vale-refeição, que são considerados itens básicos.

“Oferecemos auxílio academia e plano de saúde para pet, bem como incentivos para idiomas. Isso ajuda a criar conexão com a empresa”, defendeu.

O executivo salientou que o home office também ajuda o funcionário a reforçar os laços com a família. “Muitas vezes você perde essa conexão se estiver nove ou dez horas por dia fora de casa.”

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CEO do grupo suíço SoftwareOne, Otávio Argenton

Argenton também levantou questões sobre a flexibilidade do expediente de trabalho. Segundo ele, o funcionário não será necessariamente mais produtivo das 8 às 17 horas. “Temos um colaborador que vai ao futebol com o filho em um determinado dia da semana no horário do expediente. Isso está acordado conosco porque acreditamos em performance, e não em carga horária.”

Para o CEO da consultoria Trilha Carreira Interativa, Bruno Martins, a ideia de que o trabalho remoto afeta a produtividade vem de empresas que não conseguem treinar os funcionários e, principalmente, sua liderança.

“É desafiador, mas é possível ter uma gestão mais participativa dos funcionários e uma integração de diferentes gerações. Isso cabe à alta gestão da companhia”, disse.

Segundo o especialista, o pós-pandemia mostra que “muitas empresas adotaram o modelo híbrido e essa flexibilidade vai continuar, mas isso depende da região, do setor e do tipo da empresa.”

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Além do home office

Na visão de Martins, a flexibilidade é o principal diferencial para atrair e reter talentos da Geração Z.

“A flexibilidade vai além do home office. As empresas precisam repensar os benefícios e a gestão. Quem desenha hoje a carreira é o profissional, e não mais a empresa.”

Mesmo com o fim declarado da pandemia há mais de um ano, a SoftwareOne continua a pagar um auxílio para despesas de home office aos funcionários.

“Fornecemos sempre o básico, como cadeira ergonômica, infraestrutura de conexão, além de recursos para ajudar a pagar energia elétrica e internet, bem como algum outro custo como impressão”, disse Argenton. “A ideia é que o trabalho não onere o orçamento do funcionário no home office”, acrescentou.

Ele conta que a matriz concede autonomia às subsidiárias para a tomada desse tipo de decisão. “Na América Latina, está bem alinhado que vamos seguir com a estratégia de trabalho híbrido.”

Martins reforçou a avaliação de que, em meio a grandes transformações no mercado de trabalho, a Geração Z não busca somente benefícios tradicionais.

“Talvez esse jovem não vá muito ao supermercado e prefira outro tipo de auxílio [em vez do vale alimentação], ele quer algo que se adeque à sua rotina e às suas necessidades.”

O consultor disse que muitos profissionais não aceitam mais o modelo 100% presencial e isso tem dificultado o preenchimento de vagas.

Apesar da busca por reter talentos mais jovens, Argenton afirmou que a SoftwareOne procura combinar as gerações. “Esse mix é o ideal, pois as diferentes gerações se ajudam. Os mais jovens também precisam de um mentor e nós incentivamos isso aqui dentro.”

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.