Fleury vê mais parcerias do que M&A diante de custo de capital elevado, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Jeane Tsutsui diz que grupo ainda captura sinergias de integração com Pardini e que também ganha market share no segmento premium

Sede do Grupo Fleury
08 de Agosto, 2024 | 09:14 PM

Bloomberg Línea — O Grupo Fleury (FLRY3) avalia que o custo de capital ainda elevado no Brasil é um desafio para novos movimentos de M&A no setor de saúde. Nesse cenário, acaba sendo mais viável o fechamento de parcerias, a exemplo da joint venture em hospitais recém-anunciada pela Dasa (DASA3) e a operadora Amil.

Em entrevista à Bloomberg Línea, a CEO do Fleury, Jeane Tsutsui, disse que o grupo busca oportunidades de crescimento de receita para a redução de custos fixos e melhora de margem de lucro, mas não abre mão da disciplina financeira na avaliação de potenciais negócios.

“Vamos continuar seletivos. O mercado de medicina diagnóstica ainda está fragmentado, mas hoje há mais parcerias do que M&A, já que o custo de capital está alto”, disse a executiva.

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Nesta quinta-feira (8), o Fleury anunciou o closing da compra dos ativos do São Lucas Centro de Diagnósticos, que atua em duas das cidades mais ricas de Santa Catarina (Itajaí e Balneário Camboriú).

Em fato relevante, a companhia confirmou o valor para a aquisição (R$ 69,8 milhões), anunciada em 22 de abril e que marca a entrada do grupo no segmento ao consumidor no estado.

No segundo trimestre, a companhia completou um ano de combinação de operações com o grupo mineiro Pardini. A transação colocou o Fleury em um novo patamar de faturamento, além de representar expansão geográfica, complementariedade de negócios e diversificação de fontes de receita.

“Foi a maior combinação de negócios feita pelo grupo. Tivemos sucesso nesse processo de integrar duas organizações grandes, com diferentes culturas, o que exigiu muito alinhamento e comunicação. Estamos capturando sinergias. Isso está refletindo nos nossos números”, disse Tsutsui.

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O grupo reportou um lucro líquido de R$ 173,6 milhões no segundo trimestre, um crescimento de 47,5% em 12 meses.

Com a combinação de negócios, o Fleury elevou de 338 para 557 o número de unidades de atendimento no B2C. O alcance de beneficiários potenciais aumentou 25%, para 25 milhões. Na unidade de negócios B2B (ou Lab-to-Lab), o grupo alcançou 2.200 cidades em 7.600 laboratórios e hospitais conveniados.

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“A base de comparação do segundo trimestre de 2023 abrange só dois meses da integração com Pardini, que se deu em maio. Crescemos a receita em 19,7% para R$ 2,1 bilhões e expandimos a margem Ebitda de 25,2% para 26,4%. É um resultado consistente, reflexo da disciplina com custos e despesas e captura de sinergias”, afirmou.

A marca premium Fleury teve um crescimento de receita de 6,1% em 12 meses, enquanto as demais marcas do grupo em São Paulo registraram avanço maior, de 27,4%. Já o atendimento móvel realizado pelo grupo contabilizou um aumento de 19,7%, representando 7,6% da receita total.

“O segmento premium cresce menos porque tem um market share alto. O topo da pirâmide é mais resiliente. Esse foi mais um trimestre em que mostramos que nossa marca premium conseguiu crescer. Estamos ganhando aos poucos market share”, disse a CEO.

Pagamento de JCP

A companhia também anunciou aos acionistas o pagamento de JCP (juro sobre o capital próprio) previsto para o próximo dia 2 de outubro.

O montante soma R$ 184,073 milhões, correspondente ao valor bruto por ação de R$ 0,33738402078. Terão direito ao provento os detentores do papel no fechamento do pregão do próximo dia 14 de agosto.

O CFO do Fleury, Jose Antonio Filippo, destacou a redução do nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) do grupo como resultado da maior geração de caixa. O indicador caiu de 1,3x para 1,1x em 12 meses.

Ele afirmou que a tendência é manter o patamar acima de 1x diante de uma aceleração do capex (investimento) no segundo semestre, quando a companhia destinará recursos para áreas de TI e operação digital, além da renovação e manutenção de equipamentos e unidades.

“O perfil do nosso capex é muito parecido com o dos anos anteriores, correspondendo a 6% da receita líquida”, disse Filippo.

Questionado sobre impactos do dólar em patamar mais elevado, o executivo disse que o grupo não possui exposição ao câmbio nem dívida atrelada à moeda americana. “Vamos continuar com baixa alavancagem. A manutenção do nível da taxa Selic não afeta nossos pagamentos.”

No segundo trimestre, o Fleury fez uma emissão de debêntures no montante de R$ 1 bilhão. Segundo o CFO, o objetivo foi pagar vencimentos e alongar prazos de dívida.

Até o fechamento de quinta-feira (8), as ações do Fleury acumulavam uma desvalorização de 13% no ano ante um desempenho negativo do Ibovespa de 3%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.