Fleury: vamos fechar ano histórico em novo patamar de receita e margem, diz CEO

Jeane Tsutsui, no comando do grupo de medicina há três anos e meio, destacou à Bloomberg Línea que a receita mais que triplicou desde 2017 com estratégia de expansão nacional e de marcas

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Bloomberg Línea — Desde que assumiu o comando do Grupo Fleury em abril de 2021, a cardiologista e executiva Jeane Tsutsui concentrou seus esforços em liderar a companhia de medicina diagnóstica de 98 anos no processo de consolidação do setor e em direção a uma abordagem mais ampla de pacientes.

Depois de três anos e meio, a executiva ampliou a abrangência geográfica da empresa com aquisições, diversificou suas fontes de receitas, manteve a disciplina financeira para controlar os níveis de alavancagem, reduziu despesas e apostou em inovações por meio da transformação digital.

À frente de uma companhia avaliada em quase R$ 8 bilhões na bolsa brasileira, a executiva chegou ao último trimestre do ano com uma visão do processo conduzido desde que assumiu.

“2024 é um ano histórico. O Grupo Fleury completou 98 anos de fundação e um ano de integração bem-sucedida com o Grupo Pardini. Passamos por um grande processo de combinação de negócios, de times e culturas. Estamos capturando sinergias em linha com o planejamento para três anos”, disse a CEO em entrevista à Bloomberg Línea.

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A executiva destacou a mudança de patamar da companhia nos últimos sete anos.

“Em 2017, nossa receita era de R$ 2,6 bilhões. Agora, a receita dos últimos 12 meses chega a R$ 8,2 bilhões. Ou seja, de lá para cá, mais que triplicamos a receita da companhia. Houve diversificação dos negócios, das marcas. Com a expansão nacional, estamos preparados para os próximos anos”, disse.

No terceiro trimestre, a receita da empresa (FLRY3) atingiu R$ 2,1 bilhões com crescimento de 6,1%. Já o Ebitda - métrica de geração de caixa operacional - chegou a R$ 537,4 milhões, um incremento anual de 6,2%, com margem de 27,4%.

O lucro líquido cresceu quase dois dígitos (9,5%) em 12 meses, para R$ 190,7 milhões.

Envelhecimento da população

O avanço do envelhecimento da população brasileira, que tem como consequência a maior incidência de doenças crônicas, é uma dos fenômenos demográficos levados em consideração nas principais decisões tomadas pela CEO do Fleury.

“Nossa estratégia é trazer soluções ambulatoriais e facilitar o diagnóstico precoce. Atravessamos um período pós-pandemia, em que houve aumento da sinistralidade nas operadoras de saúde e uma preocupação com a sustentabilidade do setor”, afirmou a executiva.

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De maneira geral, desde o segundo trimestre deste ano, os planos de saúde, principais fontes pagadoras do Fleury, começaram a reportar dados de redução de sinistralidade e de lucro operacional, aproximando-se da média do período pré-pandemia, segundo a CEO.

“Está havendo um processo de equilíbrio nas contas. Em número de beneficiários, o setor de saúde precisa de um cenário favorável de crescimento econômico, aumento do emprego”, disse Tsutsui.

“Apenas 25% da população tem acesso à saúde suplementar no país. Se o cenário macroeconômico melhorar, se todos fizerem a lição de casa, vai ser positivo para todo mundo.”

No terceiro trimestre, o grupo de medicina diagnóstica, que tem o Bradesco (BBDC3) como maior acionista com 24,85% do seu capital, assinou novos contratos para processamento de exames por meio de parcerias com o Hospital Santa Lúcia, no Centro-Oeste, e os hospitais e maternidades Santa Joana, Pro Matre e Santa Maria, em São Paulo, que ajudam a impulsionar o crescimento no segmento B2B.

Avanço em análises clínicas

A companhia contabilizou crescimento de 8,4% no B2B no terceiro trimestre na comparação anual, reflexo da performance considerada positiva da unidade de negócios Lab-to-Lab (serviço de apoio a laboratórios, hospitais, clínicas, órgãos públicos, cooperativas e outros players).

Após a combinação de negócios com o Pardini, de Minas Gerais, essa área teve o portfólio de exames ampliado, novo posicionamento de comunicação e aumento do potencial de utilização em número maior de áreas técnicas para processamento de exames. Em paralelo, o Fleury continuou a capturar sinergias operacionais, como em rotas logísticas.

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“Estamos crescendo mais em análises clínicas. No Lab-to-Lab, os exames são mais simples, mas a margem é saudável. Não estamos perdendo margem por causa disso”, disse a CEO.

Já a marca premium Fleury cresceu 1,2% no terceiro trimestre, indicando ganho de market share em um segmento que não tem apresentado crescimento no número de beneficiários.

Um dos principais pontos de atenção de analistas nos últimos trimestres, a performance da marca voltada para alta renda seguiu uma execução da estratégia de diferenciação, segundo a CEO.

A executiva citou um exemplo do que é descrito como diferenciação: os centros integrados que ampliam a oferta de serviços especializados com a marca Fleury aos pacientes, como os recém-lançados Centro Integrado de Neurologia e Centro Integrado de Endometriose (veja mais abaixo).

O crescente número de pacientes com distúrbio cognitivo foi o ponto de partida para a empresa inaugurar o Centro Integrado de Neurologia do Fleury Medicina e Saúde. O local é dedicado às condições neurológicas e reúne exames de diagnóstico por imagem por meio de ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultrassonografia e eletroneuromiografia.

O investimento está em linha com uma tendência mundial, segundo o Fleury. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que, ao todo, cerca de 55 milhões de pessoas vivem com demência no planeta, número que deve saltar mais de 150% até 2050 e chegar a 139 milhões.

Diagnóstico de Alzheimer e endometriose

O Fleury também lançou no Brasil o teste PrecivityAD, em parceria com a C2N, que detecta proteínas que provocam alterações cerebrais relacionadas à doença de Alzheimer a partir de amostra de sangue.

A CEO também destacou o Fleury Endometriose, um centro dedicado exclusivamente para diagnóstico avançado da doença, que atinge cerca de 7 milhões de mulheres no Brasil. O serviço foi idealizado para pacientes com endometriose ou suspeitas da doença, com suporte aos médicos.

“A endometriose é uma das causas da infertilidade feminina, tem muitos sintomas”, disse Tsutsui.

O crescimento da receita do grupo é acompanhado por maiores investimentos, segundo o CFO, José Antonio Felippo. Nos nove primeiros meses deste ano, o capex esteve 5% acima do registrado no ano passado. O executivo disse que ainda analisa o montante de investimentos para 2025.

“Com o cenário de alta dos juros, a tendência é que sejamos mais cuidadosos, priorizando o custo de capital e o caixa da companhia. Temos disciplina na alocação de capital e estamos equilibrando os investimentos necessários, privilegiando a gestão de caixa e liquidez”, disse Felippo na mesma entrevista à Bloomberg Línea.

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No terceiro trimestre, os investimentos totalizaram R$ 112,7 milhões, o que representou um aumento de 29,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Na B3, as ações do grupo acumulam desvalorização de 13% em 12 meses, o que reflete em parte alguma preocupação de investidores com o setor de saúde diante do processo de desalavancagem financeira das operadoras e de aumento dos custos da chamada inflação médica.

A ação do Fleury, que oscilou entre a cotação mínima de R$ 13,69 e a máxima de R$ 18,96 na janela de 52 semanas, tem se destacado nas recomendações de analistas de bancos e corretoras.

“Mantemos nossa confiança na tese de longo prazo do Fleury, que visa construir um ecossistema integrado e agregar valor em toda a jornada do cliente. Dessa forma, seguimos considerando a empresa como nosso Top Pick no setor de saúde”, escreveram os analistas Guilherme Vianna, Luis Degaspari e Luis Assis, da Genial Investimentos, em recente relatório.

Eles reiteraram a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 21. A ação fechou a R$ 13,54 nesta segunda-feira (18).

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