Bloomberg Línea — Depois de ter concluído 11 aquisições desde 2017, o Grupo Fleury pretende manter a estratégia de expansão neste ano com o objetivo de consolidar a rede de laboratórios em novas geografias do Brasil e ampliar a cobertura do serviço de medicina diagnóstica.
Segundo a CEO do Fleury, Jeane Tsutsui, o plano de expandir a presença territorial da companhia continuará a ser seguido em 2025 mesmo diante do quadro macroeconômico de juro alto e incertezas geopolíticas.
“Olharemos oportunidades de M&A com disciplina. Temos como fazer aquisições desde que seja no preço adequado e haja alinhamento cultural”, disse a CEO em entrevista à Bloomberg Línea.
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Em 2024, o grupo fez duas aquisições: a dos laboratórios Confiance, de Campinas (SP), adquirido por R$ 130 milhões em dezembro; e a do Grupo São Lucas, de Itajaí (SC), comprado por R$ 70 milhões em agosto.
Mas a última grande operação de M&A transformacional da companhia foi a combinação de negócios com o Grupo Pardini, concluída em abril de 2023, que colocou o Fleury (FLRY3) em um novo patamar.
Em 2024, a receita bruta atingiu R$ 8,3 bilhões, avanço de 19,5%, enquanto o lucro líquido saltou 32% para R$ 616,2 milhões, com margem de 8%, de acordo com os resultados financeiros divulgados em 27 de fevereiro.
Em paralelo à expansão, o grupo também tem ampliado as apostas para crescer em outras verticais de serviços e áreas especilizadas, como infusões de medicamentos, ortopedia, oftalmologia, hospital-dia, centro cirúrgico ambulatorial, fertilidade e oncologia, além da plataforma digital.
“Continuamos com a estratégia de construção da jornada ambulatorial na vertical de novos elos”, afirma a executiva.
Para escalar nessas e em novas especialidades, o Fleury tem procurado repetir o roteiro dos últimos anos, quando fez aquisições de players menores.
Quando viu potencial de crescimento em oftalmologia, por exemplo, o grupo comprou em 2021 por R$ 30 milhões a clínica de olhos Moacir Cunha, em São Paulo, especializada em cirurgias e tratamentos de doenças oculares. No ano seguinte, adquiriu a Retina Clinic por R$ 21 milhões.
O mesmo movimento foi realizado quando o Fleury investiu na oferta de infusões de medicamentos, comprando o Hospital Saha por R$ 120 milhões em 2022, e o CIP (Centro de Infusões Pacaembu) por outros R$ 120 milhões em 2021.
Em 2024, a vertical de novos elos (cinco especialidades, 10 marcas e 33 unidades) respondeu por 8% da receita total do grupo, enquanto a área de plataformas de saúde (telemedicina, distribuidora e marketplace) já representa 1%.

A CEO do Fleury tem dado ênfase à divisão digital do grupo, em um momento em que o setor de saúde vê uma maior demanda por serviços de telemedicina, agendamento de procedimentos e compra de medicamentos por canais digitais, um fenômeno que contribui para desafogar o sistema hospitalar público e privado.
“As plataformas digitais trazem novos clientes e reduzem o custo de atendimento”, observa Tsutsui.
Investimento na divisão digital
Um dos desafios do Fleury para materializar suas potenciais aquisições é que laboratórios menores em muitos casos têm uma origem familiar, e o preço fixado para uma potencial venda é visto pelo Fleury como um obstáculo à sua disciplina financeira.
Em outra entrevista à Bloomberg Línea, no ano passado, a CEO disse que os proprietários e fundadores são apegados a valores do passado e isso pode ser um impedimento à conclusão dos negócios.
Durante a gestão de Tsutsui, o Fleury analisou em 2021 a compra da antiga rede de laboratórios Alliar, depois rebatizada de Grupo Alliança (AALR3) e que também era alvo de outros players como a Rede D’Or (RDOR3) e do investidor Nelson Tanure. A oferta de Tanure acabou sendo a vitoriosa em 2022, e hoje o Grupo Alliança é comandado pela filha do empresário, a médica Isabella Tanure.
Na época, a CEO do Fleury disse à Bloomberg Línea que a companhia condicionava sua política de M&A à disciplina financeira, indicando a indisposição de elevar ofertas a múltiplos que pressionam o nível de alavancagem.
Em 2024, houve redução de alavancagem no grupo, de 1,2x em 2023 para 1,0x. O custo de dívida da companhia também caiu, de CDI + 1,41% em 2023 para CDI + 0,95%. No ano passado, o capex (investimento) do Fleury totalizou R$ 488 milhões, com destaque para a divisão digital.
O CFO do Fleury, Jose Antonio Filippo, já havia mencionado que a empresa estava mantendo sua meta de alavancagem de 1,0 a 1,2x e que as oportunidades de fusões e aquisições persistem, segundo os analistas do Santander Caio Moscardini e Karoline Silva Correia, em relatório sobre o Investor Day, em dezembro.
Ter um portfólio diversificado de serviços se tornou o principal foco do Fleury para os próximos anos, destacaram os analistas. Na ocasião do Investor Day, o Fleury anunciou criação do Saúde Fix, um produto de receita recorrente, que é uma assinatura mensal que monitora a saúde de pacientes que não contam com planos de saúde.
Além disso, a companhia apresentou o Projeto X, uma iniciativa de compartilhamento de amostras entre suas unidades produtivas.
“Acreditamos que o negócio L2L [lab-to-lab, uma parceria estratégica e oferta de serviços para outros laboratórios] ainda será a principal oportunidade de crescimento à medida que a empresa avança com o Projeto X”, avaliaram os autores do relatório.
A ação da companhia tem quatro recomendações de compra, sete de manutenção e uma de venda, segundo a Bloomberg.
Avaliado em R$ 6,54 bilhões, o grupo acumula queda de 20% em 12 meses. Neste ano, o papel tem leve desvalorização (-1%) acumulada até a última quarta-feira (19) ante um desempenho positivo do Ibovespa (+9%) no período.
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