Nunca originamos tanto crédito para a compra de carros, diz CEO do BV

Em entrevista à Bloomberg Línea, Gabriel Ferreira, que comanda o banco líder na modalidade de crédito, diz que os anos de supervalorização dos usados e inadimplência elevada ficaram para trás

Concessionária em São Paulo
30 de Agosto, 2024 | 05:07 AM

Bloomberg Línea — O mercado de financiamento de veículos tem se normalizado, com o retorno das taxas de crescimento similares às do período pré-pandemia, segundo Gabriel Ferreira, CEO do BV, banco que é líder nesse segmento de crédito.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Ferreira disse avaliar que o período de volatilidade ficou para trás, o que leva o segmento a uma expansão mais saudável em 2024. E o BV, a resultados recordes.

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Nos anos mais críticos da pandemia, interrupções na cadeia de fornecimento de peças prejudicaram a produção de veículos zero quilômetro e levaram a uma supervalorização dos usados.

Em seguida, o rápido aumento da inflação e das taxas de juros, além do desemprego elevado na época, pressionaram os orçamentos das famílias e fizeram a inadimplência aumentar.

Isso exigiu que o BV (ex-Banco Votorantim) e demais bancos fossem mais conservadores na concessão de crédito, o que afetou as margens no período - algo que vem sido revertido.

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“Foram três ou quatro anos nos quais as taxas de crescimento estavam diferentes da média histórica, para o bem ou para o mal”, disse Ferreira. “Não vejo mais nenhum efeito de demanda reprimida ou algum outro tipo de impacto que não seja o crescimento orgânico do mercado de financiamento de veículos.”

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De janeiro a julho, foram transacionados cerca de 6,50 milhões de veículos leves e comerciais usados no país, um aumento de quase 10% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Fenabrave, entidade que representa revendedores de veículos.

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O crescimento do mercado tem se refletido nos números do BV. O banco registrou lucro líquido recorrente de R$ 363 milhões no segundo trimestre, com uma expansão de 27,7% em relação ao mesmo período de 2023.

O ROE (retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio anualizado) no período avançou 2,1 pontos percentuais para 11,1%, maior patamar desde o terceiro trimestre de 2022 (12,6%).

A carteira total de financiamento de veículos subiu para R$ 49,1 bilhões, e a originação de crédito no período somou R$ 6,7 bilhões no segmento - um aumento de 20,6% sobre o segundo trimestre de 2023.

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Segundo Ferreira, o BV registrou recorde em originação de crédito no primeiro semestre em financiamento de veículos, depois de registrar o melhor resultado anual no segmento no ano passado.

“O bom momento de originação, associado ao final daquele ciclo de crédito mais difícil de pessoa física que o mercado viveu até meados do ano passado, são os dois fatores que impulsionam as carteiras e o resultado de varejo”, disse o CEO.

Fundado pelo grupo Votorantim, da família Ermírio de Moraes, no fim dos anos 1980, o BV é controlado desde 2009 em uma sociedade entre a Votorantim Finanças, braço financeiro do grupo, e o Banco do Brasil (BBAS3). Cada um tem 50% do controle acionário.

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Consumo e inadimplência

Ferreira avaliou que a atividade econômica aquecida tem contribuído para os resultados: o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a inflação relativamente controlada e o mercado de trabalho aquecido formam uma combinação que “impulsiona o mercado de crédito e o consumo das famílias”.

Apesar de o Banco Central ter interrompido a queda da taxa de juros no patamar corrente de 10,50% ao ano, o CEO do BV disse não ver sinais de mudança no cenário que exigiriam alterar a estratégia do banco, embora ele siga atento à curva de juros e à volatilidade do câmbio dos mercados.

“O que preocupa é que o Brasil historicamente tem uma base de famílias endividadas muito alta. O comprometimento de renda das famílias ao longo de 2024 está convergindo para a média histórica, mas, por óbvio, quanto mais alto os juros, mais alto o carrego dessa dívida toda”, disse.

“Por hora, continuamos a ver crescimento econômico, inflação ancorada e mercado de trabalho em bom patamar. Ainda é um ciclo benigno para efeito de mercado de crédito ao consumo.”

Gabriel Ferreira, CEO do BV

O banco registrou queda do índice de inadimplência para 4,5% no trimestre encerrado em junho, o que representa o percentual de empréstimos em atraso acima de 90 dias. É o menor nível desde o segundo trimestre de 2022 (4,3%).

Ronaldo Helpe, CFO do BV, destacou que o percentual de novos empréstimos em atraso atingiu o menor percentual dos últimos 13 trimestres, a uma taxa de 0,87% no período, o que sinaliza a maior qualidade da carteira de crédito.

“Não vemos só as receitas de intermediação financeira crescendo a uma velocidade maior do que o crescimento da carteira. Há um avanço também do lado do risco”, afirmou.

Resultados da diversificação

Além do crescimento no segmento de veículos, o BV tem apostado nos últimos anos em uma estratégia de diversificação, o que inclui ampliar os serviços aos clientes de crédito, como seguros, e oferecer conta bancária tradicional e cartão de crédito.

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Com essa abordagem, o BV tem expandido as receitas com serviços, que somaram R$ 647 milhões no segundo trimestre, ante R$ 494 milhões no mesmo período do ano passado.

O número de clientes na frente de banco relacional passou de 4,8 milhões para 5,8 milhões no período.

Outra estratégia é expandir a oferta de crédito para novas áreas, como a compra de outros tipos de veículos (pesados, motos etc.), concessões com garantia de veículos, para a instalação de placas solares e para PMEs, além de um marketplace para compras online.

Segundo Ferreira, a diversificação exigiu investimentos em tecnologia e digitalização que acabaram pesando no resultado justamente em um momento de baixa do mercado de crédito para pessoas físicas. No entanto o BV começa agora a colher os frutos desses investimentos, com um negócio com frentes de receitas mais variadas.

“O custo está ficando para trás, porque agora essas carteiras são rentáveis. Esse investimento está muito mais palatável dentro do resultado total do banco, é por isso que ele impulsiona o resultado”, afirmou. “O que estamos vendo em 2024 é um pouco a maturidade dessa estratégia toda.”

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.