Fim da primeira classe? Não é o plano da Emirates, diz diretor para o Brasil

Em entrevista à Bloomberg Línea, o diretor geral da aérea para o país e a Argentina, Stephane Perard, diz que há demanda nos dois mercados pelo serviço que chega a custar US$ 12.000

diretor geral da Emirates Brasil e Argentina, Stephane Perard
23 de Novembro, 2023 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Viajar de São Paulo a Dubai em uma cabine privativa na primeira classe da Emirates é para poucos. Aqueles dispostos a pagar cerca de US$ 12.000 (perto de R$ 60 mil) pelos trechos de ida-e-volta têm direito a motorista particular para o aeroporto, refeições à la carte – e sob demanda – que incluem caviar e champanhe de safra especial, além de amenidades de luxo e até chuveiro durante o voo.

Nos últimos anos, esse segmento do mercado de aviação comercial tem se tornado mais restrito, com a redução da oferta por muitas companhias aéreas. Para o diretor geral da Emirates Brasil e Argentina, Stephane Perard, o mercado deve migrar cada vez mais para a classe executiva, enquanto a companhia dos Emirados Árabes Unidos, por outro lado, vai continuar a apostar na primeira classe.

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“Não tenho dúvida de que existe um público grande para primeira classe em nossa empresa”, afirmou o executivo francês em entrevista à Bloomberg Línea.

Perard projetou que, em 2024, os voos da companhia partindo do Rio de Janeiro e de Buenos Aires com destino em Dubai passem a ser diários – de quatro vezes por semana atualmente. “O passo lógico é termos voos diários. Os brasileiros respondem muito bem à nossa proposta de valor”, afirmou. Hoje, apenas a rota São Paulo-Dubai é diária.

O executivo explicou que a manutenção da oferta de primeira classe pela Emirates no Brasil decorre do perfil das viagens. Em São Paulo, a operação se caracteriza pelo longo curso: são 15 horas de voo até Dubai. Se o destino do cliente é Tóquio, por exemplo, são mais 10 horas de voo.

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“O público brasileiro que tem grande poder aquisitivo é exigente e acreditamos ter a solução ideal para eles. A primeira classe está crescendo”, afirmou Perard.

Ele disse que a sede da Emirates, na região do Oriente Médio, justifica a oferta de um serviço mais premium. “Pessoalmente, eu acredito que a primeira classe não vai acabar. Além disso, a distância média dos voos da Emirates é muito alta e isso é um incentivo a esse tipo de produto.”

Em junho, o CEO da Qatar Airways, Akbar Al Baker, disse que a empresa não terá assentos de primeira classe em voos de longa distância em sua nova geração de aeronaves. Em entrevista à Bloomberg News, o executivo afirmou que o retorno não justifica o investimento, uma vez que a classe executiva da Qatar “já oferece grande parte dos mesmos benefícios”. Para Al Baker, “o futuro está na classe executiva”.

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Enquanto isso, executivos de companhias aéreas europeias como Lufthansa e Air France vêm reforçando que a demanda de alto padrão está em alta.

Em entrevista recente à Bloomberg Línea, o presidente da Airbus para América Latina, Arturo Barreira, disse que globalmente as companhias aéreas têm reduzido a oferta de assentos de primeira classe.

Ele destacou que, na América Latina, esse movimento já acontece há mais tempo. “O que vemos atualmente é que as aéreas querem maximizar o potencial de demanda com a oferta de diferentes classes”, disse na ocasião.

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Barreira fez a previsão de que a oferta de assentos de primeira classe deve permanecer, embora em menor grau globalmente. “É difícil dizer se a primeira classe vai acabar. Deve permanecer para alguns segmentos.”

Retomada aos níveis pré-covid

Embora a meta da Emirates seja lançar novos voos diários partindo de São Paulo em 2024, Perard afirmou que a demanda da companhia não retornou integralmente ao patamar pré-pandemia. “Estamos um pouco abaixo dos níveis de 2019.”

De acordo com dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), o setor atingiu, em setembro, 97,3% do nível de tráfego pré-covid (2019) globalmente.

No período, o tráfego doméstico das companhias aéreas superou em 5% o patamar pré-pandemia. No entanto o internacional ainda ficou equivalente a 93,1% do registrado em setembro de 2019.

Na América do Sul, a Emirates opera três destinos: São Paulo e Rio de Janeiro, no Brasil, e Buenos Aires, na Argentina. Dessas cidades, apenas a capital paulista tem primeira classe. Perard lembrou que a companhia já operou voos diários na região, mas, por fatores econômicos, particularmente na Argentina, a frequência caiu.

‘Revenge travel’

O diretor geral da Emirates relatou que, logo depois da reabertura dos mercados no pós-pandemia, as companhias aéreas tiveram um aumento súbito de demanda.

“Quando saímos da pandemia, tivemos o que o mercado chamou de ‘revenge travel’, que é aquela viagem de vingança, uma demanda reprimida”, disse Perard.

Segundo ele, viajar sempre foi uma experiência valorizada pelo consumidor no Brasil. “O brasileiro vem mostrando que valoriza ainda mais as viagens do que antes da pandemia.”

primeira classe Emirates

Ele ressaltou que, no mix de vendas da companhia, o segmento de lazer continua predominante. “A Emirates, assim como muitos operadores internacionais, não está vendo problemas de demanda no negócio de lazer.”

No segmento corporativo, entretanto, a demanda ainda está abaixo dos patamares de 2019, o último ano cheio pré-pandemia, acrescentou. Ele observou que a tecnologia transformou as relações de trabalho. “A demanda corporativa volta devagar. As empresas mudaram muito as políticas de viagens e é cada vez mais raro vermos executivos que têm direito a assentos de primeira classe.”

Previsão x desempenho

A operação da Emirates de São Paulo a Dubai é feita pelo Airbus A380, maior aeronave de passageiros do mundo. Com dois andares e capacidade de 14 assentos de primeira classe, 76 de executiva e 426 de econômica, o chamado “gigante dos ares” perdeu espaço no mercado para modelos de menor porte.

Perard ressaltou, no entanto, que o CEO global da Emirates, Tim Clark, chegou a afirmar durante o Dubai AirShow, encerrado na última semana, que a visão é manter o A380 na frota da companhia até meados de 2040. Durante o evento, a Emirates anunciou nova encomenda no valor de US$ 52 bilhões com a Boeing para os modelos 777X e opções para o 787 Dreamliner.

A380 Emirates

“Fazemos um planejamento hoje para receber aeronaves no futuro. Nunca temos garantia de como será a demanda no futuro”, disse Perard.

O executivo reforçou que Dubai continua sendo uma grande aposta da companhia como destino para passageiros que saem do Brasil e da Argentina. E acrescentou que destinos como Maldivas e Japão também apresentam crescimento na região.

“Somos uma operação de longo curso e o mercado de viagens a lazer no Brasil é bastante maduro. Temos um público que quer conforto e está disposto a pagar por isso”, resumiu.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.