Faria Lima tem escalada de preço de aluguel e se descola de outras regiões de SP

Levantamento da consultoria global Cushman & Wakefield aponta para um aumento de mais de 20% dos preços do metro quadrado no principal centro financeiro do país

Vista da av. Faria Lima, em São Paulo
15 de Março, 2024 | 06:00 AM

Bloomberg Línea — A região da Faria Lima, centro financeiro do país, continua a reportar uma escalada dos preços de aluguel em prédios comerciais. Após registrar aumento médio de 20% no preço de locação de escritórios em 2023, a expectativa é que, neste ano, esses valores mantenham-se em patamares elevados, segundo levantamento da consultoria global Cushman & Wakefield a pedido da Bloomberg Línea.

No fechamento do quarto trimestre, o preço médio (pedido) do aluguel de escritórios na Faria Lima alcançou R$ 220 por metro quadrado, segundo a consultoria.

No Itaim, considerado no setor imobiliário como parte da região da Faria Lima, o valor de locação atingiu R$ 280 o metro quadrado no período. No consolidado de 2023, a média de preço pedido do aluguel foi de R$ 202,03 o metro quadrado na Faria Lima e de R$ 277,45, no Itaim.

Já o preço médio do aluguel pedido em São Paulo, no consolidado de 2023, foi de R$ 109,76 o metro qudrado.

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“Existe uma escassez tanto na locação quanto para novas construções na Faria Lima. As poucas entregas no pós-pandemia foram absorvidas com rapidez e a vacância continua baixa. Houve aumento de valor real na região”, disse o diretor-geral da Cushman & Wakefield no Brasil, Daniel Battistella, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Segundo o executivo, a vacância na Faria Lima atingiu 9,8% no fechamento do quarto trimestre. “Esse indicador oscila entre 5% e 10% na região, se sobe muito é porque houve alguma entrega pontual. Para 2024, a vacância deve se manter ou até cair um pouco, pois não temos previsão de entregas significativas.”

Por outro lado, o nível de desocupação na cidade é mais alto.

A vacância média dos prédios corporativos classe A da capital paulista no quarto trimestre foi de 23,47%, segundo a Cushman, com índices ainda maiores em regiões como a avenida Chucri Zaidan (32%), importante centro empresarial na zona sul, perto da Berrini.

Home office e valorização

Depois de diversas empresas devolverem ou diminuírem espaços na região da avenida Faria Lima no auge da pandemia, como XP e Meta, os escritórios da região voltaram rapidamente a ficar ocupados. O retorno mais forte dos funcionários ao modelo de trabalho presencial impulsionou o mercado de prédios corporativos, esclarece Battistella.

Um dos sinais de que a região está fortemente aquecida foi a compra, pelo Itaú (ITUB3, ITUB4), do endereço 3500 da avenida Brigadeiro Faria Lima, que hoje já abriga o braço de investimento do grupo, o Itaú BBA. A transação, no valor de R$ 1,5 bilhão, ocorreu no ano passado. O edifício tem aproximadamente 23 mil m² de área locável.

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“A transação, de altíssimo valor, comprova que a região tem aderência. Também manda um sinal forte para o mercado sobre o modelo de trabalho. Por que uma empresa como o Itaú faria um investimento tão alto se tivesse alguma dúvida sobre o presencial?”, indaga Battistella. Ele lembra que os setores de investimentos, tecnologia e advocacia foram os primeiros na região a trazer as pessoas de volta ao escritório na pandemia.

Aumento real

Na visão do diretor da Cushman, o contexto de queda de juros pode fomentar novos movimentos de compra e venda no setor imobiliário como um todo. “Quem tem capital vai buscar a Faria Lima, que é sempre estratégica para alavancar fundos”, esclarece.

Segundo o executivo, a maioria dos fundos de tijolos tem feito um mix de produtos. “Vai ter imóvel na Paulista, na Berrini e na joia da coroa, a Faria Lima, que historicamente é mais resiliente.”

Battistella vê uma tendência de aumento do aluguel na Faria Lima em 2024. “Não acredito que os preços de locação tenham atingido seu máximo na região”, avalia. “E qualquer investimento na Faria Lima, hoje, será sempre mais barato do que amanhã. Pode haver alguma variação, mas no longo prazo essa vantagem é inquestionável”, acrescenta.

Setor imobiliário

No geral, o mercado de escritórios encerrou 2023 melhor do que o esperado, afirma Battistella. “Vimos que no ano passado a quantidade de devoluções caiu bastante. Também tivemos um volume de entregas interessante”, diz.

Em 2024, a visão da Cushman para o setor é mais positiva. Ele relata que houve um volume maior de captação para fundos de escritórios. “Quando há um afrouxamento da política monetária, inicia-se uma migração de fluxo da renda faixa e de outros investimentos mais tradicionais para fundos imobiliários”, esclarece.

Segundo Battistella, isso leva a uma dinâmica maior do mercado imobiliário. “Crescem os movimentos de compra e venda e as construções. É um sinal de melhora do setor.”

A expectativa é que os maiores índices de vacância na capital paulista fiquem concentrados em regiões como Chucri Zaidan e Chácara Santo Antônio, ambas na zona sul. “São regiões onde o desafio é diferente, a oferta é maior, levando a uma vacância mais persistente. A demanda não tem sido suficiente para enxugar todo o estoque”, diz Battistella.

Já a região da Rebouças – próximo à Paulista e à Faria Lima – pode se tornar uma alternativa ao “condado”. “Temos um volume de lançamentos interessante na Rebouças. Como esses novos projetos estão chegando agora ao mercado, vamos observar em 2024 como será a absorção”, opina. “Mas de modo geral os ocupantes da Faria Lima querem permanecer onde estão. Uma quadra faz toda a diferença.”

Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.