Família Safra chega a ‘acordo amigável’ e encerra disputa bilionária por herança

A viúva Vicky Safra e seus filhos colocam fim a um conflito iniciado em 2020 com a morte do patriarca Joseph, cujo testamento foi contestado pelo filho Alberto

Safra
19 de Julho, 2024 | 02:39 PM

Bloomberg Línea — A bilionária família Safra anunciou nesta sexta-feira (19) um acordo amigável que encerra uma das maiores disputas por herança do Brasil. Alberto Safra, um dos quatro filhos do falecido banqueiro Joseph Safra, processava sua mãe e seus irmãos com questionamentos ao testamento do pai.

A viúva Vicky Safra, a mulher mais rica do Brasil, e todos os seus quatro filhos (Jacob, David, Alberto e Esther) divulgaram uma declaração conjunta sobre o fim do conflito, sem revelar os termos financeiros e outras condições do acordo: “Estamos satisfeitos em deixar esse assunto para trás e reafirmar nossos laços familiares”.

Joseph Safra, que montou um império global com mais de US$ 85 bilhões em ativos bancários, morreu em 2020 aos 82 anos.

O valor do patrimônio é estimado em cerca de US$ 20 bilhões - esse é o montante atribuído hoje à fortuna de Vicky Safra (veja mais abaixo), segundo o Bloomberg Billionaires Index. Uma reportagem da Bloomberg News há dois anos citava um valor de US$ 3,4 bilhões para cada irmão separadamente.

PUBLICIDADE

Leia mais: Herança de US$ 11 bi na Ferrari e Fiat opõe mãe e filho na Justiça italiana

Joseph lutava contra a doença de Parkison e, nos seus últimos anos, morava na Suíça. O banqueiro nasceu em 1938 em Beirute, no Líbano, e se mudou em 1962 para o Brasil, onde se naturalizou.

Segundo o acordo, Alberto Safra “se desinvestirá de seus interesses no Grupo J. Safra e perseguirá seus interesses empresariais através da ASA Investments”, gestora de ativos que ele construiu após deixar o Banco Safra e que também é seu family office.

“A resolução que alcançamos nos permitirá perseguir nossos respectivos interesses empresariais de maneiras que ajudem a garantir que o sucesso de cada membro da nossa família seja motivo de satisfação compartilhada”, disse a família em comunicado.

A divisão da família após a morte de Joseph foi exposta em um tribunal de Nova York. Alberto alegava, em uma petição judicial, que seu pai teria mudado os testamentos para cortá-lo da herança e aumentar a participação de seus irmãos (Jacob, David e Esther) proporcionalmente.

Com o acordo, as partes concordaram agora em encerrar todos os processos judiciais e arbitrais pendentes em todas as jurisdições, informou o comunicado. A família reafirmou, na nota, que Joseph “era competente para dispor de sua herança”.

Leia mais: A disputa de herdeiros da dinastia Rothschild no mercado de gestão de fortunas

PUBLICIDADE

No comunicado, Alberto confirmou a resolução do conflito familiar com uma declaração: “Estou feliz por deixar esse assunto para trás. Após esclarecimentos, entendi que não houve irregularidades e que o patrimônio do Sr. José foi devidamente distribuído de acordo com seus desejos”.

Início das divergências

Alberto dividia o comando dos negócios do Banco Safra no Brasil até 2019, ano em que deixou a instituição financeira para abrir o ASA Bank, levando com ele alguns executivos, após divergências sobre a condução dos negócios. David, então, passou a liderar o banco sozinho por decisão do pai.

Joseph planejou sua sucessão por mais de uma década, o que significou diferentes testamentos, transferências de ativos e a preparação de seus filhos para o comando. Um porta-voz da família Safra dizia à época que não havia base para a contestação do testamento.

Em 2021, Alberto planejava contestar o fato de ter sido supostamente preterido no testamento do pai. Por sua vez, a família argumentava que, após receber antecipação de sua parte na herança, Alberto não atendeu “aos apelos feitos pelo pai e iniciou negócio concorrente ao Banco Safra”.

No processo aberto em uma corte federal de Nova York, Alberto alegava que o pai não tinha acuidade mental para executar três novos testamentos em novembro e dezembro de 2019 devido ao Parkinson.

Leia mais: Safra: uma das maiores disputas de herança da história pode estar chegando ao fim

O acordo divulgado hoje pelos Safra remete a outro desentendimento anterior na família. Joseph e seu irmão Moise romperam nos anos 2000, o que levou o primeiro a criar um banco rival do outro lado da rua.

Para encerrar o conflito, Moise vendeu sua parte dos negócios da família para Joseph em 2006 por reportados US$ 2,5 bilhões na época, segundo a Bloomberg News noticiou em julho de 2022. Moise morreu em 2014. Como seu irmão, também sofria de Parkinson e câncer.

Mulher mais rica do Brasil

A fortuna da família é considerada vasta e global, com mais de 180 anos, listando o Banco Safra no Brasil, o Safra National Bank of New York nos EUA e o J Safra Sarasin na Suíça, além de imóveis, incluindo o edifício Gherkin em Londres e o 660 Madison Avenue em Nova York, além de uma participação na empresa de bananas Chiquita Brands International, segundo a Bloomberg News em julho de 2022.

Os quatro filhos de Joseph teriam à época uma fortuna estimada em US$ 3,4 bilhões cada um, segundo a Bloomberg News. De acordo com o Bloomberg Billionaires Index, que avalia empresas de capital fechado com base nos pares de capital, aberto, Vick Safra aparece como a 94ª pessoa mais rica do mundo, com US$ 21,1 bilhões. A lista é liderada por Elon Musk, com US$ 264 bilhões.

A viúva mora na Suíça, onde também possuem residência outros bilionários brasileiros.

- Com informações da Bloomberg News.

- Matéria atualizada às 15h com a correção da informação de que Alberto comandava o Safra até 2019 - era, na verdade, um comando compartilhado.

Leia também

Ele fundou a maior edtech do mundo e ficou bilionário. Agora perdeu o controle

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.