Bloomberg Línea — A Zamp (ZAMP3) anunciou na noite desta sexta-feira (14) o nome do substituto de Paulo Camargo como CEO. É Pedro Zemel, que deixará o comando do Grupo SBF (SBFG3), dona da Centauro, em 24 de abril. Na sequência ele será escolhido pelo conselho da Zamp para o cargo de liderança.
O executivo assumirá o cargo com a missão de executar o plano do Mubadala, braço de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi e controlador da Zamp, de acelerar o ganho de escala, integrar e levar ao lucro as recentes aquisições de marcas no Brasil (Starbucks e Subway) e melhorar a alavancagem operacional do Burger King (BK Brasil) e Popeyes.
O desafio é interromper a série de cinco anos de prejuízos. O último ano de lucro foi 2019 (R$ 49 milhões). O balanço de 2024 será divulgado no dia 20 de março.
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No ano passado, a Zamp reportou perdas no terceiro trimestre (-R$ 32 milhões), no segundo (-R$ 28 milhões) e no primeiro (-R$ 90,8 milhões).
Anteriormente, os prejuízos se acumularam em 2023 (-R$ 98 milhões), 2022 (-R$ 55,8 milhões), 2021 (-R$ 273,8 milhões) e 2020 (-R$ 445,6 milhões).
As ações da Zamp acumulam queda de 48,5% em 12 meses na B3.
Camargo, que liderou a Espaçolaser (ESPA3) e a Arcos Dorados no Brasil (operadora do McDonald’s no país), atuou como CEO por apenas sete meses.
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Zemel, por sua vez, estava no Grupo SBF (que também opera a marca Nike no Brasil por meio da Fisia) desde 2013, sendo CEO da Centauro por cinco anos (2016-2020) e depois da SBF (2020-2025). Ele trocará, portanto, o varejo de produtos esportivos pelo setor de food service.
Zemel está em processo de transição da sua atual posição e será efetivamente eleito pelo conselho de administração da Zamp para o cargo em reunião prevista para o fim de abril, segundo o fato relevante. Gabriel Guimarães continuará a exercer o cargo interinamente até a efetiva eleição e a posse de Zemel.
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Em outubro passado, a Zamp finalizou a aquisição dos direitos para operar Starbucks e Subway no Brasil.
A companhia levantou R$ 450 milhões por meio da venda de novas ações para financiar a aquisição, melhorar sua estrutura de capital e investir em crescimento futuro.
Analistas, no entanto, ainda expressam dúvidas sobre se essa aposta nas duas marcas será rentável ou não, diante das taxas de juros elevadas e dos riscos de execução da integração.
As operações da Starbucks e Subway foram adquiridas após o grupo SouthRock, do investidor americano Kenneth Pope, entrar em recuperação judicial em dezembro de 2023.
A Zamp se comprometeu a pagar R$ 120 milhões para assumir a operação da famosa rede de cafeterias, em meio a preocupações de analistas sobre o endividamento da Zamp.
Aumentar receita e reduzir endividamento
A companhia contabilizava uma dívida bruta de R$ 1,522 bilhão (líquida de R$ 546 milhões) em setembro e um nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 1,4x após o aumento de capital de R$ 450 milhões.
O aporte foi realizado também com objetivo de adequação da estrutura de capital ao plano do Mubadala Capital, que assumiu o controle da Zamp no início de 2024 com a ambição de dominar o segmento de fast food no Brasil.
O negócio principal da Zamp, o BK Brasil, tem mantido um crescimento das receitas no ritmo de duplo dígito (16% no terceiro trimestre), mas esse desempenho se deve a uma estratégia de ofertas promocionais, em um mercado saturado pela concorrência com o McDonald’s e players menores.
O Popeyes também tem mantido um aumento de vendas de dois dígitos (12% no terceiro trimestre), favorecido pela tendência de consumo de frango, uma proteína mais barata, que atrai o consumidor em um contexto inflacionário de maior comprometimento da renda com reajustes dos alimentos.
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A margem bruta da Zamp recuou de 65,6% para 65,3% no terceiro trimestre, na visão anual. Já a margem Ebitda caiu de 12,7% para 10,6%.
A rede de restaurantes da Zamp é formada por 1.032 unidades, último dado disponível, referente ao final de setembro. Com crescimento de tráfego, a companhia teve uma receita de vendas de R$ 1,04 bilhão no terceiro trimestre, em que o BK respondeu por R$ 1,037 bilhão, e o Popeyes, por R$ 69 milhões.
O canal de delivery representou 16% do total de vendas da companhia, e o app, 4,6% As vendas fechadas via totem físico em lojas estão em alta e chegaram a 31,7% da receita total. As vendas digitais renderam R$ 586 milhões no terceiro trimestre, um crescimento de 37,8% em 12 meses - equivalentes a 52,2% da receita total.
“A empresa tem cerca de 19 milhões de clientes registrados em seu programa de fidelidade, o que acreditamos ter sido um fator-chave para o crescimento da receita bruta”, avaliou Alejandro Fuchs, analista do Itaú BBA, em relatório sobre o último resultado, que destacou a recuperação do tráfego nos restaurantes.
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