Estreia na Bolsa: o plano da Automob para crescer no setor de concessionárias

O CEO da companhia, Antônio Barreto, diz à Bloomberg Línea que há espaço para M&As e ganho de eficiência no mercado, hoje repleto de empresassem soluções integradas; ação sobe 180%

Concessionária da Automob, do grupo Simpar
16 de Dezembro, 2024 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — No disputado mercado de concessionárias de veículos, a Automob, do grupo Simpar (SIMH3), se prepara para uma nova fase. A empresa estreia nesta segunda-feira (16) na B3 com o objetivo de fortalecer as operações e aumentar a rentabilidade, sem descartar novas aquisições.

“O grupo [Simpar] acredita na abertura de capital para desenvolver e perpetuar os negócios. O segmento de concessionárias tem poucas limitações de crescimento se a empresa for bem gerenciada. Abrir o capital potencializa essa capacidade”, disse o CEO da Automob, Antônio Barreto, em entrevista à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

O executivo acrescentou que abrir o capital nunca foi um objetivo por si só, mas que era uma alternativa de caminho a ser percorrido. “O mercado ainda é muito pulverizado, mas vemos sinais por parte de vários agentes para uma transformação.”

A nova companhia será negociada sob o código AMOB3. As ações subiram 180% na estreia nesta segunda, negociadas no fechamento a R$ 0,47.

Leia mais: Nosso negócio não está preso a caminhões, diz CEO da JSL sobre diversificação

PUBLICIDADE

A Automob tem 188 lojas em 12 estados e trabalha com 35 marcas diferentes. Suas operações existem desde 1995 com a compra da Original Autos, concessionária da Volkswagen, mas em 2021 iniciou um processo de expansão que resultou na criação do grupo Automob em 2022.

Outras redes conhecidas do grupo hoje são a Autostar, no segmento de luxo, a Alta e Green, entre outras.

Em 2024, uma cisão da Vamos (VAMO3) - também controlada pela Simpar -, que permaneceu somente com o negócio de locação de caminhões, deu origem ao seu “braço” de venda de seminovos, a Vamos Concessionárias. E esta acabou integrada à Automob, levando à empresa que será listada.

PUBLICIDADE

A abertura de capital não terá oferta pública de ações – os papéis serão distribuídos aos acionistas da Vamos. Barreto disse que o preço de referência da ação será de aproximadamente 3,4% do valor do papel da Vamos - segundo estimativas de analistas, isso deve resultar em algo próximo a R$ 0,20.

Com a listagem, a expectativa é a de acesso a recursos em melhores condições para ajudar a bancar os planos de expansão.

A Automob “nasce como uma empresa de receita líquida de R$ 12,1 bilhões e com Ebitda de R$ 439 milhões (dados anualizados referentes ao terceiro trimestre de 2024).

PUBLICIDADE

As marcas comercializadas pela Automob vão da Volkswagen às chinesas BYD e Great Wall (GWM).

No segmento de luxo, as lojas incluem marcas como BMW, Jaguar Land Rover e Volvo. Em pesados, as operações incluem lojas de caminhões, máquinas agrícolas e de construção (linha amarela).

Antonio Barreto CEO Automob

Nos últimos anos, a Automob realizou sete aquisições no segmento de veículos leves e três em pesados. Na avaliação de Barreto, o mercado ainda tem um perfil de empresas familiares com atuação basicamente regional, principalmente no segmento de concessionárias de veículos leves.

“São empresas que são passadas de pai para filho. Muitas estão na terceira geração e não têm plano de sucessão ou planejamento claro”, afirmou o executivo.

“Do lado da indústria, as montadoras vivem em um ambiente global altamente competitivo e isso significa que gostariam de negociar com redes mais estruturadas e com um alto nível de governança.”

A estratégia da Automob passa pelo aumento da eficiência da operação e da ampliação dos serviços oferecidos. Segundo Barreto, além da venda de veículos novos e seminovos, o grupo consegue atuar na rentável área de pós-venda e também com serviços financeiros.

“Não vamos fazer aquisições a qualquer custo”, disse o executivo, que explicou que a estratégia de fusões e aquisições (M&As) é conduzida pela Simpar, holding que controla a Automob.

Leia mais: Quais as próximas ambições de Fernando Simões na Simpar, que controla JSL e Movida

Segundo Barreto, uma das apostas do grupo é criar um “adensamento” das lojas em determinadas praças – como em São Paulo e em outras capitais importantes – e desenvolver estruturas satélites para atendimento das lojas próximas, como centros de funilaria e pintura.

Na visão do consultor automotivo Milad Kalume Neto, o mercado de concessionárias ainda é altamente pulverizado no Brasil. “A tendência é de concentração. Há, portanto, espaço para um movimento forte de consolidação nos próximos anos”, disse.

Sinergias na holding

O CEO da Automob afirmou que há sinergias com as outras empresas do grupo Simpar. A Movida (MOVI3) atua na locação de veículos leves, enquanto a Vamos trabalha com pesados.

Barreto afirmou que tanto a Vamos quanto a Movida precisam de canais de terceiros para vender seus ativos. “A Movida vende tudo que consegue para o varejo, e o restante, para grandes grupos. Como somos um grande grupo, queremos ser compradores de seminovos deles.”

Diante de um mercado em transformação, especialmente após a pandemia, com o avanço da digitalização dos canais de vendas, Barreto defendeu a visão de que o negócio de concessionárias vai continuar a existir por muitos anos.

“Não vamos criar nada disruptivo. Estamos desenvolvendo canais de venda digital, mas acreditamos que a concessionária sempre será o destino final do consumidor. Além disso, o pós-venda vai continuar e nós queremos nos modernizar para atender melhor o cliente.”

- Matéria atualizada às 19h30 com os dados do fechamento na estreia na B3.

Leia também

Como o Mustang se tornou um dos destaques de vendas para a Ford no Brasil

Temos que vender carros que as pessoas possam comprar, diz CEO global da Citroën

Esta empresa brasileira atraiu a DHL para competir no transporte aéreo de carga

Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.