Na disputa ‘feroz’ dos elétricos, Renault aposta na China para sair fortalecida

Montadora francesa contratou 200 profissionais em Xangai e quer acessar fornecedores locais em busca de know-how para reduzir custos de produção, em estratégia que destoa de pares europeus

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Bloomberg — A Renault quer fortalecer seu negócio de veículos elétricos em um momento de demanda em baixa.

A montadora francesa se voltou para um dos poucos mercados em que os carros movidos a bateria continuam com demanda aquecida para conquistar acesso a novas tecnologias e aprender a fabricar veículos elétricos mais rapidamente.

A empresa contratou cerca de 200 pessoas em Xangai, principalmente engenheiros de hardware que trabalham no desenvolvimento de um Twingo elétrico de menos de 20.000 euros (US$ 21.106), e também planeja contratar engenheiros de software, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Bloomberg News.

“Estamos lá para aprender e integraremos esse conhecimento às nossas próprias equipes”, disse Francois Provost, diretor de compras, parcerias e assuntos públicos da Renault, em uma entrevista na França. Ele não quis entrar em detalhes sobre os planos de contratação.

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A expansão na China é um assunto delicado na França, onde alguns sindicatos resistem aos esforços da administração para aumentar a eficiência por meio de medidas que incluem a limitação do trabalho remoto a 2,5 dias por semana.

A decisão da Renault de desenvolver grande parte de seu novo Twingo na China foi criticada internamente, e a fabricante também emprega cerca de 3.000 engenheiros de produto na Índia.

As ações da Renault recuaram até 1,3% em Paris mais cedo nesta sexta-feira (29). As ações ainda estão em alta de cerca de 7% este ano.

A fabricante confirmou o guidance para o ano inteiro no mês passado, o que a torna uma exceção no setor.

Seus pares no continente europeu, como a Stellantis, a Volkswagen e a BMW, emitiram alertas sobre os lucro nas últimas semanas, citando a demanda mais lenta por veículos elétricos, problemas com fornecedores e uma queda nas vendas justamente na China.

A VW e a Stellantis - que foram prejudicadas por atrasos na introdução de novos veículos elétricos devido a problemas de software - desde então anunciaram planos para cortar empregos e fechar fábricas.

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A Renault aposta em seu carro urbano R5 elétrico de 25.000 euros para impulsionar as vendas no curto prazo e, em 2025, planeja introduzir modelos que incluem uma versão elétrica do carro econômico 4L da década de 1960 e o R4 abaixo de 35.000 euros.

Até o início de 2026, todos os veículos elétricos do grupo - inclusive os modelos mais antigos - estarão disponíveis com baterias mais baratas de fosfato de ferro e lítio, ou LFP, disse Provost.

A Renault arquivou os planos de vender ações de sua unidade de veículos elétricos e software Ampere em uma oferta pública inicial no início deste ano devido à baixa demanda por carros movidos a bateria.

Um dos objetivos atuais da Ampere é ajudar a Renault a atrair mais parceiros locais na China, disse Provost.

Busca por fornecedores mais acessíveis

"Por exemplo, trabalhamos em estreita colaboração com nossos fornecedores na Europa, mas os europeus tendem a se concentrar em peças de maior margem e valor agregado", disse ele. "Às vezes me faltam algumas peças básicas. É na China que posso encontrar essas peças mais simples e de alta qualidade."

A Renault planeja implementar as lições aprendidas na China em seu mercado doméstico.

O CEO Luca de Meo tenta fabricar veículos elétricos acessíveis na França, onde os custos de mão-de-obra são relativamente altos. Ele reequipou as fábricas locais, incluindo uma em Douai, no norte do país, que já está em fase de produção do novo R5.

Os riscos são altos para a Renault, que, no ano passado, estreitou os laços com a parceira de longa data Nissan e cujos veículos elétricos mais caros, como o novo Scenic, não vendem tão bem quanto se esperava. E há quem considere o grupo pequeno demais para sobreviver por conta própria.

“Estamos nos atualizando e acessando tecnologias mais rapidamente”, disse Provost. “Até 2026, nossa competitividade - em termos de software, em termos de baterias - será comparável à dos fabricantes chineses que constroem localmente na Europa.”

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