Bloomberg — Membros da equipe de transição do presidente eleito Donald Trump disseram a assessores que planejam fazer de uma nova estrutura federal para veículos autônomos uma das prioridades do Departamento de Transporte, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News.
Se as novas regras permitirem uma implantação mais ampla de carros sem controle humano, isso beneficiará diretamente Elon Musk, CEO da Tesla e mega-doador da campanha eleitoral de Trump e que se tornou um elemento poderoso no círculo interno do presidente eleito.
Musk tem apostado de maneira pública o futuro da fabricante de veículos elétricos na tecnologia de condução autônoma e na Inteligência Artificial (IA).
As ações da Tesla subiram mais de 7% logo após a abertura do mercado nesta segunda-feira (18) com a notícia, o que ampliou sua valorização para 28% desde o dia da eleição há duas semanas.
Leia mais: Trump anuncia Musk no governo. Sua missão: atacar a burocracia e as regulações
As ações da Uber Technologies e da Lyft, que poderiam enfrentar a concorrência da rede de robotáxis há muito tempo planejada por Musk, chegaram a cair mais de 6% cada uma.
As regras federais atuais representam obstáculos significativos para empresas que desejam lançar veículos sem volantes ou pedais em grande escala, como a Tesla pretende fazer.
A equipe de transição de Trump procura contratar líderes para o departamento que desenvolverão uma estrutura para regulamentar os veículos autônomos, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram para não serem citadas porque não estavam autorizadas a falar publicamente.
O trabalho está em um estágio inicial e os detalhes da política ainda não foram definidos.
A Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário (NHTSA na sigla em inglês) atualmente permite que os fabricantes implantem 2.500 veículos autônomos por ano sob uma isenção concedida.
A agência também tem várias investigações de segurança em andamento sobre veículos autônomos e sistemas de assistência ao motorista, incluindo recursos que a Tesla comercializa como Autopilot e Full Self-Driving.
Embora o Departamento de Transporte possa definir regras restritas por meio da NHTSA que ajudariam a abrir caminho para veículos autônomos, a adoção em massa de carros autônomos provavelmente exigirá uma lei mais ampla do Congresso.
Uma medida legislativa bipartidária que está em fase inicial de discussão criaria regras federais para os veículos autônomos, disseram duas das pessoas à Bloomberg News.
“As empresas querem clareza sobre os veículos sem pedais e sem volante”, disse Grayson Brulte, fundador da The Road to Autonomy, uma empresa de dados e análises voltada para a tecnologia de direção autônoma.
“Pode haver uma briga por causa disso, mas, se uma estrutura federal for implementada, ela poderá dar início à economia da autonomia.”
Leia mais: Elon Musk alerta investidores que objetivo da Tesla é a direção autônoma
Um dos candidatos ao posto de secretário de Transporte é Emil Michael, ex-executivo do Uber que conversou com a equipe de Trump e com possíveis funcionários, segundo pessoas familiarizadas com as discussões.
Os representantes republicanos Sam Graves, do Missouri, e Garret Graves, da Louisiana, também foram considerados para liderar o departamento, disseram as pessoas.
A equipe de transição não respondeu aos pedidos de comentários da Bloomberg News.
Waymo e Cruise mais avançadas
A Tesla tenta alcançar empresas lideradas pela Waymo, da Alphabet, que, diferentemente da montadora de Musk, já transportam passageiros em veículos sem ninguém ao volante.
Até o momento, a Waymo e a Cruise, da General Motors, só implantaram carros autônomos que ainda têm volantes e pedais, apesar de sua capacidade de operar sem um ser humano no banco do motorista.
Isso se deve aos requisitos de segurança estaduais e federais, muitos dos quais foram escritos muito antes do advento dos sistemas de direção automatizada.
Embora as empresas possam solicitar uma isenção desses padrões para implantar um número limitado de veículos sem determinados controles, a petição da Cruise não foi atendida por mais de dois anos. Em julho, a GM anunciou que estava abandonando os planos de um veículo autônomo dedicado chamado Origin.
Os veículos autônomos também foram implantados lentamente devido a alguns problemas de segurança. A Cruise retirou seus carros das ruas por quase um ano depois que um de seus veículos atingiu e arrastou um pedestre em São Francisco.
Leia mais: Apple desiste de carro elétrico autônomo após uma década em projeto de bilhões
A NHTSA também lançou investigações de supostos defeitos na Waymo e na unidade Zoox, da Amazon, bem como nos sistemas de assistência ao motorista da Tesla.
O Uber vendeu sua divisão de carros autônomos em 2020, anos depois que um de seus veículos de teste atingiu e matou um pedestre no Arizona.
Cybercab da Tesla
Musk anunciou planos no mês passado para produzir um grande número de robotáxis Tesla sem motorista a partir de 2026. A empresa revelou os modelos Cybercab e Robovan no mês passado, que eram apenas protótipos.
Logo após o evento, Musk solicitou um processo de aprovação federal para veículos autônomos. Durante a teleconferência sobre os resultados trimestrais mais recentes da Tesla, ele disse que aproveitaria um possível papel no governo Trump para pressionar por isso.
Desde então, Trump foi eleito e nomeou Musk e o empresário Vivek Ramaswamy para liderar um novo Departamento de Eficiência Governamental para “desmantelar a burocracia do governo” e cortar gastos e regulamentações consideradas excessivamente onerosas.
As tentativas anteriores de criar uma legislação federal para regulamentar os veículos autônomos fracassaram.
Atualmente, a NHTSA permite que os fabricantes implantem 2.500 veículos autônomos por ano sob uma isenção concedida, mas os esforços legislativos para aumentar esse número para até 100.000 falharam várias vezes.
Um projeto de lei para aumentar o limite foi aprovado na Câmara há vários anos, durante o primeiro mandato de Trump, mas a medida ficou paralisada no Senado.
Uma tentativa, durante o primeiro ano do governo de Joe Biden, de fundir o projeto de lei com outra legislação fracassou quando alguns fabricantes tentaram incluir uma linguagem que impediria os consumidores de processar ou formar casos de ação coletiva em casos de acidentes.
-- Com a colaboração de Keith Laing, Hadriana Lowenkron, Craig Trudell, Emily Chang e Ted Mann.
Veja mais em bloomberg.com
©2024 Bloomberg L.P.