Eneva e Vibra: o que está por trás do plano para criar 3ª maior grupo de energia

Proposta não-vinculante de combinação de negócios, apresentada pela Eneva, criaria uma gigante com valor de mercado de cerca de R$ 50 bilhões

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Bloomberg Línea — A proposta de fusão da Eneva (ENEV3) com a Vibra (VBBR3), que criaria uma gigante com valor de mercado combinado de cerca de R$ 50 bilhões, pode resultar na terceira maior empresa de energia do país. O racional por trás do negócio visa principalmente as oportunidades em transição energética, mas também abrange uma ambição da Eneva de se perpetuar no mercado.

A Eneva anunciou na noite do domingo (26) o envio de uma proposta não-vinculante para combinação de negócios com a Vibra. A proposta foi publicada inicialmente pelo site Brazil Journal.

A expectativa é que a proposta de acordo, que envolve troca de ações, siga para os conselhos das empresas em aproximadamente um mês, considerando possível paralisação por causa do Natal, disse à Bloomberg Línea uma fonte a par do assunto que falou sob condição de anonimato porque as discussões são privadas.

Por volta do meio-dia desta segunda-feira (27), as ações tanto da Eneva como da Vibra recuavam cerca de 1,2% e 2,6%, respectivamente.

A proposta já tinha sido aventada pelas partes anteriormente, mas acabou não se concretizando.

No terceiro trimestre deste ano, porém, a gestora Dynamo – que detém cerca de 10% tanto da Eneva quanto da Vibra – voltou a provocar os acionistas de referência da produtora de gás sobre o tema, segundo apurou a Bloomberg Línea. A proposta voltou para a ser discutida e foi oficializada na noite de domingo (26).

A aprovação demanda maioria simples.

Hoje, na Vibra, o empresário Ronaldo Cezar Coelho detém sozinho quase 10% do capital da companhia, além de ter um acordo para votar junto com a Dynamo. Nesse contexto, o plano de fusão teria aprovação potencial de aproximadamente 20% dentro da Vibra.

Para a Eneva, a fusão traria mais longevidade ao negócio.

Nascida de certos ativos das empresas de gás e energia do grupo de Eike Batista, a Eneva tem como base de suas operações a produção de gás natural para termelétricas. A companhia possui ativos de exploração & produção (E&P) nos estados de Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Goiás.

O grupo opera 12 campos de gás nas Bacias do Parnaíba (Maranhão) e Amazonas (Amazonas) e detém uma área de concessão exploratória onshore (em terra) com aproximadamente 63 mil km².

Na geração de energia, a empresa conta com um parque de 6,3 GW de capacidade contratada em operação e construção, com ativos de termelétrica já operacionais localizados nos estados do Maranhão, no Ceará, em Sergipe e em Roraima. Em fase de implementação, no Amazonas e no Maranhão.

Já em renováveis, o grupo iniciou a operação de um dos maiores parques fotovoltaicos das Américas na Bahia.

Esta não é a primeira vez que a Eneva busca uma fusão.

A empresa já teria procurado empresas como a PetroRecôncavo e o grupo AES, segundo apurou a Bloomberg Línea, mas as conversas não foram para frente. De acordo com uma fonte a par do assunto, que falou sob condição de anonimato, o plano da Eneva é se tornar ainda maior.

O objetivo não se restringe somente às oportunidades de investimentos ligados à transição energética – o gás é considerado o principal combustível para a transição energética e garantidor de fontes intermitentes como solar e eólica – mas também à estrutura de capital, elevando a capacidade de endividamento e a busca por novas receitas.

Procuradas, a Eneva e a Vibra não retornaram aos pedidos de comentários da Bloomberg Línea até o fechamento desta reportagem.

O BTG Pactual e o Itaú BBA foram contratados pelo conselho da Eneva como assessores financeiros, e o Pinheiro Neto Advogados e o Spinelli Advogados, como assessores jurídicos da proposta.

Carteira de clientes da Vibra

O plano da Eneva é o aproveitamento cada vez maior do gás natural produzido pela empresa. Com a carteira de clientes potencial da Vibra, o escoamento do insumo seria significativamente maior.

Para a Vibra, líder na distribuição de combustíveis líquidos e com atuação em renováveis por meio da Comerc, o potencial upside seria a ampliação da plataforma de negócios em todos os combustíveis.

Em relatório, analistas do Citi afirmam que os méritos “mais óbvios” da potencial fusão do ponto de vista da Eneva são a redução da alavancagem, o que poderia acelerar o crescimento, e a verticalização dos negócios.

“O segmento solar da Eneva poderia se beneficiar da experiência da Comerc, braço renovável da Vibra, e a atração de clientes para as grandes reservas de gás da empresa”, disseram os analistas. Eles lembraram que, em 2017, quando a Eneva fez um novo IPO (oferta pública inicial), seu principal desafio era encontrar mais gás para os seus contratos existentes.

“Agora, o desafio é o oposto, encontrar demanda para a quantidade de gás, e a Vibra pode desempenhar um papel importante”, destacaram.

Do lado da Vibra, que atua em um negócio com margens apertadas, em torno de 3%, o Citi apontou que uma eventual fusão com a Eneva poderia “expor a empresa a uma indústria que cresceu consideravelmente nos últimos sete anos e que ainda tem muito potencial de crescimento.”

Os analistas do Citi acrescentaram, entretanto, que uma eventual fusão com a Eneva significaria para a Vibra “trocar o conforto dos dividendos de curto prazo pelas oportunidades (e riscos) de alocação de capital”.

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