Bloomberg Línea — Cerca de 2,6 milhões de consumidores, entre residências e estabelecimentos comerciais, foram afetados e ficaram sem energia elétrica na noite de sexta-feira (11) depois de ventania e chuva na região da Grande São Paulo, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Desse total, 2,1 milhões são clientes da Enel, a empresa italiana que opera a concessão em 24 municípios, incluindo a capital paulista.
Na noite de domingo (13) às 23, ou seja, cerca de 51 horas depois da ocorrência, 660 mil clientes residenciais e comerciais ainda estavam sem energia, segundo a nota mais recente da Enel.
Em comunicado no fim da tarde de sábado (12), às 18h40, ou praticamente 24 horas depois da queda mais ampla de energia, esse número estava em 1,35 milhão de clientes residenciais e comerciais.
A agência federal, responsável pela regulação e pela fiscalização de empresas que operam por meio de concessões, disse que tomará providências sobre a prestação do serviço prestado pela Enel.
“No caso da Enel-SP, a diretoria da Aneel solicitou que a área de fiscalização intime imediatamente a empresa para apresentar justificativas e proposta de adequação imediata do serviço diante das ocorrências registradas ontem e, hoje, de falha na prestação do serviço de distribuição”, disse a agência reguladora em nota no sábado (12).
A Aneel convocou uma reunião com representantes da Enel e de outras distribuidoras de energia neste fim de tarde de domingo para discutir a crise de fornecimento de energia na maior região metropolitana do país.
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A Enel, por sua vez, tem declarado que segue trabalhando para que a situação seja normalizada.
“No momento, nossos técnicos seguem trabalhando para reconstruir trechos da rede elétrica danificados e restabelecer o serviço para cerca de 1,45 milhão de clientes impactados, o que representa cerca de 18% dos clientes da distribuidora”, disse a Enel na nota no meio da tarde de sábado.
“Eu não quero passar uma previsão [de volta da energia] sobre a qual eu não tenho evidência real de que vamos conseguir atender”, disse o presidente da Enel São Paulo, Guilherme Lencastre, em entrevista a jornalistas no fim da manhã de sábado, segundo noticiado pela Folha de S. Paulo.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que disputa o segundo turno contra o candidato de oposição, Guilherme Boulos, criticou a Enel em post no Instagram.
“Mais uma vez, enfrentamos o descaso com a população por parte da Enel [...] Lamentável que milhares de pessoas tenham prejuízos e sua rotina afetada por mais uma irresponsabilidade da Enel”, escreveu.
O Ministério de Minas e Energia (MME), por sua vez, apontou em comunicado o diagnóstico preliminar de que houve falhas não apenas da Enel como da própria Aneel em seu papel de fiscalização.
De acordo com o ministério, “a agência [Aneel] claramente se mostra falha na fiscalização da distribuidora de energia, uma vez que o histórico de problemas da Enel ocorre reiteradamente em São Paulo e também em outras áreas de concessão da empresa”.
Há menos de um ano, em novembro de 2023, milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica na região metropolitana de São Paulo, com reestabelecimento que levou dias, depois de uma tempestade.
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Na ocasião, o então presidente da Enel Brasil, o italiano Nicola Cotugno disse que a distribuidora “estava fazendo um trabalho incrível” e que “não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo”, ao ser questionado em entrevista à Folha de S. Paulo sobre eventual responsabilidade da empresa no tempo levado para reestabelecer a energia.
Duas semanas depois, Cotugno foi substituído no cargo pelo executivo Antonio Scala.
“Mostrando novamente falta de compromisso com a população, a agência reguladora não deu qualquer andamento ao processo que poderia levar à caducidade da distribuidora, requerido há meses pelo Ministério, o que deve ensejar a apuração da atuação da Aneel junto aos órgãos de controle”, completou a nota do MME que cita deliberações do ministro Alexandre Silveira.
Segundo o ministério, “não há qualquer indicativo de renovação da concessão da distribuidora em São Paulo e que a falta de apuração adequada da Aneel no caso não pode ser justificada.”
Na noite de sexta-feira, por volta das 19h30, rajadas de vento de até 107 km/h, segundo a Defesa Civil do estado, derrubaram árvores e fiações de transmissão de energia.
A Enel disse que o “evento climático extremo” causou o desligamento de 17 linhas de alta tensão, que são responsáveis pela transmissão de energia em longas distâncias, a partir de centros de geração. Onze subestações de energia também chegaram a ser desligadas.
Lencastre disse que a Enel mobilizou cerca de 1.600 técnicos para realizar o trabalho de reparo nos equipamentos afetados e que esse número chegaria a 2.500 neste sábado no fim do dia, com o reforço de equipes trazidas do Rio de Janeiro e do Ceará, estados em que a empresa também atua.
Segundo a Enel na nota da tarde de sábado, os bairros afetados pelo temporal foram Santo Amaro, Jardim São Luís, Socorro, Pinheiros, Americanópolis, Vila Andrade, Jardim Vaz de Lima, Alto de Pinheiros, Jardim Martini e Jardim Mariane, a maior parte na Zona Sul da capital.
Além de São Paulo, os municípios mais afetados foram Taboão da Serra, Cotia, São Bernardo do Campo, Santo André e Diadema, segundo a concessionária de origem italiana.
O número estimado de casas e unidades do comércio e de serviços afetados - de 2,6 milhões, segundo a Aneel - se aproxima do impacto causado pelo furacão Milton no estado americano da Flórida nesta semana, em área de menor densidade demográfica e de imóveis.
A passagem do furacão Milton por diversas cidades na região central do estado deixou mais de 3 milhões de casas e estabelecimentos comerciais sem luz, segundo estimativas. O furacão classificado como de categoria 3 quando chegou ao continente tinha ventos de quase 200 km/h.
Investimentos anunciados
Há um mês, em 12 de setembro, a Enel anunciou medidas que havia tomado e outras previstas para lidar com a sua obrigação contratual de prestar um serviço de maior qualidade.
Na ocasião, em cerimônia que contou com a presença do ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, disse que investiria cerca de R$ 20 bilhões até 2026 nos estados de São Paulo, do Ceará e do Rio de Janeiro.
Em São Paulo, o investimento seria da ordem de R$ 2 bilhões por ano, principalmente para modernização e expansão da rede, ou 45% mais do que a média dos últimos seis anos, segundo a Enel.
“Até 2026, a Enel vai contratar cerca de 5 mil colaboradores próprios para atuar em campo e integrar 1.650 novos veículos à sua frota nas três distribuidoras”, disse em nota na ocasião.
“A companhia também está intensificando as manutenções preventivas. Em São Paulo, por exemplo, serão realizadas neste ano 600 mil podas na área de concessão, 100% a mais do que o executado no ano passado. Até o fim de agosto, 375 mil ações já foram concluídas”, afirmou a companhia.
- Matéria atualizada às 5h10 de 14 de outubro com novos números divulgados pela Enel para a normalização do fornecimento de luz na Grande São Paulo em sua área atendida.
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