Enel Brasil troca CEO após crise da falta de luz em São Paulo

Antonio Scala vai substituir Nicola Cotugno; holding de três distribuidoras de energia em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará tem atuação questionada por autoridades e consumidores

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Bloomberg Línea — A Enel Brasil decidiu trocar o CEO após se tornar alvo de críticas à atuação da companhia depois de chuvas que atingiram São Paulo no começo do mês, em episódio que deixou milhões de pessoas e empresas sem luz por dias, enquanto a empresa não soube atender às demandas da população.

Nicola Cotugno será substituído por Antonio Scala na empresa que opera a distribuição de eletricidade em cidades de três estados (São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro), incluindo a capital paulista. Em nota, o grupo confirmou que Cotugno deixou a empresa “para se aposentar” e que a decisão havia sido tomada em outubro, mas a saída acabou prorrogada para o último 22 de novembro.

Controlada pela chilena Enel Américas e, acima disso, pela multinacional italiana Enel, a operação brasileira tem a qualidade de seus serviços questionada nos últimos anos nos estados em que opera, com reclamações crescentes de consumidores e autoridades. No Ceará, até uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi criada na Assembleia Legislativa para investigar a atuação da companhia.

Na quarta-feira (22), a Enel informou, em comunicado, que estava suspendendo temporariamente a operação de venda de sua distribuidora no Ceará, após ter anunciado a intenção de se desfazer do ativo no final de 2022. O potencial negócio era visto pelo mercado como positivo, pois poderia beneficiar a estrutura de capital do grupo.

“As distribuidoras da Enel Brasil apresentam desempenho operacional abaixo da média de seus pares, por atuarem em um mercado que cresce menos e por estarem mais distantes das metas regulatórias de perdas de energia efetivas”, avaliou a agência de classificação de risco Fitch, em relatório publicado em setembro.

O novo CEO assume o comando da holding com expectativa de que a geração de caixa medida pelo Ebitda atinja R$ 9,4 bilhões em 2024, acima dos R$ 9,3 bilhões previstos para 2023, na estimativa da Fitch.

O grupo atua também em geração, mas a distribuição é o seu principal negócio, responsável por 70% da receita líquida e 64% do Ebitda ajustados em 2022, segundo a agência.

“O porte do grupo no segmento de geração cresceu após a incorporação de ativos da Enel Green Power Brasil Participações Ltda. ao final de 2021. A Enel Brasil possui, atualmente, 5,4 GW de capacidade instalada em operação e deverá adicionar 407MW dos parques eólicos Aroeira e Lagoa dos Ventos V até o final de 2023, além de 802MW até o final de 2024, com a conclusão dos parques Arinos (solar) e Pedra Pintada (eólico)”, diz a Fitch.

A complementaridade de fontes, com a incorporação dos ativos renováveis (parques eólicos e solar), é considerada pelos analistas como positiva para diluir o risco do grupo em geração de energia, limitando a exposição do seu portfólio ao risco hidrológico.

Apesar da expectativa com novos investimentos em energia limpa, a Enel Brasil acabou protagonizando uma discussão pública sobre os cortes do fornecimento de energia para os clientes impactados pelas fortes chuvas que atingiram parte da área de concessão da distribuidora, em São Paulo, nos dias 7 e 15 deste mês.

O vendaval derrubou árvores e provocou danos severos na rede de distribuição, prejudicando o comércio e o setor de serviços, além da população. Autoridades cobraram avanço no plano de fiação subterrânea da maior metrópole do Brasil, gerando críticas sobre quem arcaria com os custos dessas obras. Além disso, a Enel virou alvo de ações judiciais por danos materiais.

Atualiza no dia 24/11, às 15h30, com nota da Enel

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