Em nova fase, Unidas mira IPO para ganhar ‘musculatura’ financeira, diz CEO

Locadora de veículos controlada pela Brookfield projeta crescimento de 10% para 2024 e busca acesso a capital mais barato de olho em renovar frota, diz Cláudio Zattar em entrevista à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Em um cenário de preços elevados dos veículos, sem perspectiva de arrefecimento, o setor de locação deve enfrentar desafios de renovação de frota pela frente, avalia o CEO da Unidas, Cláudio Zattar. Ainda assim, a terceira maior locadora do mercado brasileiro projeta crescimento de aproximadamente 10% da receita em 2024, sem perder de vista o plano de abrir o capital.

“Se nossos principais concorrentes têm capital aberto, ficamos em desvantagem. O mercado de locação não para de crescer e não enxergamos mais players chegando. Temos que ter musculatura financeira e é natural que façamos o IPO quando houver condições de mercado”, disse Zattar em entrevista à Bloomberg Línea.

A empresa é controlada pela gestora canadense Brookfield e, até 2022, operava sob o nome Ouro Verde. Com a fusão entre a Localiza (RENT3) e a Unidas aprovada em 2022, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinou que uma série de ativos fossem vendidos para amenizar a concentração de mercado, incluindo a divisão inteira de diárias (rent a car, ou RAC) e a própria marca Unidas.

A Brookfield arrematou o pacote de ativos da Localiza por R$ 3,5 bilhões e então a Ouro Verde passou a operar como Unidas, com a terceira maior frota do mercado brasileiro.

A empresa encerrou 2023 com aproximadamente 100 mil veículos. Cerca de 63 mil estão alocados no segmento de rent a car, e o restante, na terceirização de frota (para empresas).

Zattar disse que, atualmente, a idade média da frota da companhia está em 11,4 meses, mas o ideal seria atingir cerca de 8 meses. Para tanto, o processo de substituição dos veículos é crucial para o êxito no negócio de aluguel: quanto menor o preço de compra do automóvel, melhor a rentabilidade.

O executivo prevê que o patamar considerado elevado de preços dos veículos 0 km no país deve continuar a impactar o setor de locação como um todo em 2024. Nesse contexto, ele explicou que as companhias de capital aberto têm acesso a recursos mais baratos, o que lhes confere competitividade adicional.

Ele observou, entretanto, que o momento é de cautela. “Mesmo que tivéssemos acesso a mais capital, o cenário atual demanda disciplina. Os concorrentes estão cautelosos também”, disse. “Ainda que fizéssemos um IPO no curto prazo, não faríamos nenhuma loucura para aumentar a frota.”

O executivo reforçou que, por ora, não há estimativa para o IPO, mas que tanto a empresa quanto sua controladora estão otimistas com o Brasil. “Certamente com o desenho da reforma tributária o investidor já fica mais otimista, mesmo que a lei complementar demore muito. Isso gera otimismo. Estamos otimistas com o potencial do mercado brasileiro.”

Em sua avaliação, diante de uma curva de juros de longo prazo em queda, bem como a trajetória da inflação, a locação de veículos se torna mais atraente – principalmente os contratos de longo prazo. “Apostamos em um 2024 melhor, ao mesmo tempo em que buscamos redução de custo operacional.”

Potencial e desafios do mercado

A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) estima crescimento em torno de 10% para o setor em 2024, ainda que aponte riscos para a projeção se concretizar.

“O desempenho do setor vai depender muito da movimentação da indústria [automotiva] e da taxa de juros. Diante da situação econômica do país, as locadoras não estão conseguindo ampliar muito os seus contratos, principalmente porque a capacidade de pagamento das pessoas físicas está restrita”, disse o conselheiro gestor da Abla, Paulo Miguel Jr., à Bloomberg Línea.

Ele acrescentou que as modalidades de locação de diárias e de carro por assinatura podem ter algum impacto nesse contexto. Já o crescimento de terceirização de frota vai depender amplamente do desempenho da economia. “Se tivermos crescimento, pode ser que o setor cresça também, mas hoje ainda enfrentamos incógnitas no cenário macroeconômico”, avaliou.

Na visão do CEO da Unidas, a demanda segue aquecida na locação. “O RAC continua resiliente, com os aluguéis de final de semana e as empresas alugando veículos por períodos curtos.”

Ele destacou que a companhia pretende melhorar a eficiência e aumentar o número de veículos na frota com qualidade de receita. “Vamos desativar os carros mais antigos.”

O segmento de veículos pesados dentro da Unidas deve ser um dos destaques em 2024. “O mercado de pesados vem desempenhando muito bem, principalmente o rodoviário. O setor de caminhões é muito grande e a demanda está aquecida”, afirmou. Empresas como Atvos, Bunge e Suzano são alguns dos clientes da companhia em contratos de longo prazo no segmento pesado.

Outra fonte de receita importante deve vir da parceria firmada recentemente com a norte-americana Avis Budget, uma das maiores locadoras do mundo. Pelo acordo, brasileiros terão mais facilidade na locação de carros fora do país, já que o grupo reúne milhares de pontos de atendimento no mundo.

“A parceria nos dá acesso a clientes em 10.000 agências no mundo inteiro, e os clientes deles podem fazer reservas conosco no Brasil. É mais uma fonte de receita para nós. Já temos obtido um número razoável de reservas, um volume represado que eles não conseguiam alocar”, disse.

No balanço de 2023, a Unidas encerrou o ano com cerca de 190 lojas de rent a car e 30 de vendas de seminovos. “O quadro é positivo e estamos otimistas”, afirmou Zattar.

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