Eletromidia mira Congonhas, cidade do Rio e linha laranja do metrô de SP, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Alexandre Guerrero diz que crescimento da maior empresa de out of home do país deve vir de novas concessões e da extração de valor de contratos atuais

Painel da Eletromidia em terminal do Rio de Janeiro
28 de Maio, 2024 | 05:57 AM

Bloomberg Línea — Menos M&As, mais contratos novos de concessões para pautar a expansão.

A Eletromidia (ELMD3), maior empresa brasileira de mídia exterior (o chamado out of home), planeja crescer nos próximos anos por meio da conquista de grandes contratos de licitação, como a do mobiliário da cidade do Rio de Janeiro, a linha laranja do metrô da cidade de São Paulo e o aeroporto de Congonhas, um dos mais movimentados do país, segundo o CEO Alexandre Guerrero.

PUBLICIDADE

Em entrevista à Bloomberg Línea, Guerrero disse que a companhia também tem ampliado as operações de mobiliário urbano (como abrigos de ônibus e relógios públicos) em mais capitais e que esse segmento deve continuar com expansão acima do desempenho de outras verticais (transportes, edifícios e shoppings). A companhia tem hoje mais de 66.000 painéis espalhados pelas principais cidades do país.

“Estamos inaugurando novas operações de mobiliário urbano. São cidades que ainda estão no ramp up [em escalada] dessas operações, como Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba. A operação de mobiliário urbano é muito recente. Naturalmente o crescimento nessa vertical é um pouco maior que nas demais”, disse o CEO da Eletromídia.

Leia mais: TV 3.0 vai derrubar as barreiras entre antena e internet, diz CFO da Globo

PUBLICIDADE

Dos 66.652 painéis da Eletromidia no país ao fim de março, a maioria ainda fica em edifícios (32.654), como elevadores, seguidos por locais de transporte (25.781), como estações de trem e metrô, ruas (6.622) e shoppings (1.595). O número total de painéis teve um aumento de 5% em 12 meses.

“A tendência positiva [para a empresa] deve continuar nos próximos trimestres. Fatores macroeconômicos interferem diretamente no negócio dos nossos clientes e, por consequência, no nosso, [mas] 2024 começou melhor que no ano passado”, afirmou Guerrero.

No primeiro trimestre, a companhia teve lucro de R$ 66 milhões, um número seis vezes maior do que em igual período do ano passado, com 9% de margem líquida.

PUBLICIDADE

A receita bruta atingiu R$ 278 milhões, alta anual de 42%. A geração de caixa medida pelo Ebitda cresceu 51% em 12 meses, para R$ 77 milhões, com margem líquida de 32%. O caixa estava em R$ 268 milhões em março.

Alexandre Guerrero, CEO da Eletromídia

Para manter o ritmo de crescimento, o CEO disse que trabalha em busca de novas fontes de receitas. “Estamos muito atentos aos processos de licitação. Deve ser a tônica dos próximos anos: menos M&A e mais processos de licitação e concessões públicas e privadas. Nos próximos três a cinco anos, temos entre 20 e 40 processos licitatórios, pequenos, médios e grandes, públicos e privados.”

O principal acionista da companhia é o fundo americano de private equity H.I.G. Capital, com 47,09% do capital. A Globo, dono do maior grupo de mídia do Brasil, detém uma fatia de 27,01%, em posição montada no ano passado. O CEO da Eletromidia disse que, como acionista, já começa a haver sinergias do ponto de vista de parcerias em projetos, mas não há conversas sobre uma aquisição do controle.

PUBLICIDADE

Leia mais: Jovem Pan aposta em streaming gratuito de TV com anúncios, diz CEO

Com a perspectiva positiva para as receitas, as ações da Eletromidia acumulam valorização de cerca de 20% neste ano até a segunda-feira (27), enquanto o Ibovespa tem queda de 7,2% no período. Com capital aberto desde fevereiro de 2021, a Eletromídia é avaliada em R$ 2,6 bilhões na B3.

Confira os principais trechos da entrevista com o CEO da Eletromidia, editada para fins de clareza.

M&A estão previstos para este ano dado que a situação de caixa é confortável?

Temos três avenidas de crescimento para a expansão do core: o M&A é uma delas. Ao longo dos últimos dez anos, a Eletromidia executou entre 10 e 12 operações de M&A. Dito isso, não há muitas oportunidades óbvias. Estamos realmente muito atentos aos processos de licitação. Achamos que deve ser a tônica dos próximos anos: menos m&A e mais processos de licitação e concessões públicas e privadas.

Temos um pipeline grande de execução neste ano, de implementação de concessões que vencemos nos últimos 24 meses. Quando olhamos concessões como a de Salvador, por exemplo, onde somos responsáveis pelo sistema de abrigo de ônibus e relógio de rua, são três ou quatro anos de instalações, até termos um projeto maduro não só dos ativos mas também de publicidade. Há muita execução prevista.

A Eletromidia tem muitas concessões. Estamos olhando muito para dentro das nossas concessões para extrair mais valor dessas que já estão dentro de casa, como agregar projeto, iniciativas de sustentabilidade, tecnologia. É um exercício importante e que gera muito valor.

Quais as principais oportunidades em termos de novas concessões para a companhia?

Coisas importantes devem acontecer. Estamos aguardando a licitação da mídia do Aeroporto de Congonhas, do mobiliário urbano do Rio de Janeiro - o atual contrato com as operadoras termina em 2026, e devemos ter um processo de licitação da linha laranja do metrô de São Paulo [principal projeto de expansão desse modal no momento em fase de obras e previsão de entrega a partir de 2026]. Esses seriam os três principais contratos que estão no nosso roadmap hoje, que temos observado de perto.

São alguns exemplos de licitações públicas ou privadas que estamos mapeando de perto para poder participar. Nos próximos três a cinco anos, temos entre 20 e 40 processos licitatórios, pequenos, médios e grandes, públicos e privados.

No Aeroporto de Congonhas, já vemos muitas telas da Eletromídia.

Sim. Temos mais de 80 telas em Congonhas nos mais diversos momentos de embarque e desembarque e espera. Administramos todo o sistema de controle de voo e portão de embarque do terminal. São contratos da Era Infraero [a estatal Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária]. Hoje temos uma pulverização de contratos em Congonhas, que acaba em junho do ano que vem. O aeroporto foi privatizado em 2022. A Aena venceu essa licitação. Tudo indica terá um único operador dessa mídia.

Fora essas licitações, quais são hoje os principais investimentos da Eletromidia?

Temos dois grandes investimentos em tecnologia, em nossa plataforma. O primeiro é o Eletromidia Ads, que é nossa relação com os clientes enterprises, que são os clientes tier 1, tier 2 e tier 3 [conforme níveis de influência, importância e audiência]. Representa hoje 98% do nosso negócio. Essa plataforma avança cada vez mais. Nosso ponto de partida para a construção da plataforma foi outubro de 2021, quando adquirimos a NoAlvo [adtech focada em mídia out of home].

A outra iniciativa é a nossa plataforma de SMB [Small Media Business]. Aqui o mato ainda está alto, é um mercado endereçável de R$ 25 bilhões no Brasil, basicamente, dominado por Google e Meta, que o setor de out of home começa a arranhar a superfície. Trouxemos uma receita recorde de R$ 2 milhões no primeiro trimestre.

Quando falamos de plataforma de SMB, estamos falando do pequeno cliente que recebe via Pix, cujo criativo é produzido via inteligência artificial, em que o atendimento é feito via chatbot. Em algum momento, essa iniciativa vai se encontrar com nossa plataforma de ads, quando ambas estiverem maduras.

Qual a tendência para os resultados nos próximos trimestres?

Nosso negócio carrega uma sazonalidade importante. Percebemos que o primeiro trimestre teve um bom desempenho. O segundo costuma ser levemente acima, o terceiro também e o quarto é muito forte. Fatores macroeconômicos interferem diretamente no negócio dos nossos clientes e, por consequência, no nosso. O ano começa melhor que no ano passado, e nosso time está mais preparado.

Superamos as expectativas de alguns analistas no primeiro trimestre graças ao desempenho em quatro eventos: Carnaval, Lollapalooza, Páscoa e Verão. Isso porque abrimos novas operações ou consolidamos presença em mercados que se beneficiaram desses eventos, principalmente no Nordeste, como Fortaleza, Salvador e Recife. Conseguimos capturar mais valor e entregar soluções mais completas para as principais marcas que investem nesse período conosco.

Quais os segmentos que alavancam o crescimento da companhia neste ano?

Tivemos no primeiro trimestre um crescimento em todas as linhas, mas vale um destaque para mobiliário urbano, que cresceu bastante e deve continuar assim, acima das demais verticais, porque estamos inaugurando novas operações.

São cidades que ainda estão no ramp up dessas operações. Exemplos: Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba. A operação de mobiliário urbano é muito recente. Naturalmente o crescimento nessa vertical é um pouco maior que o das demais.

Aproximadamente 50% do nosso negócio vem dessa vertical. Isso é um pouco da característica do out of home no mundo. O mobiliário urbano é o principal driver do comportamento da nossa indústria lá fora.

Na vertical de aeroportos, tivemos um crescimento importante. Inauguramos nosso projeto do aeroporto Santos Dumont [na cidade do Rio de Janeiro], que também contribuiu bastante nessa direção. E a vertical de transporte sobre trilhos, no metrô e trem de São Paulo e no Rio de Janeiro. Conseguimos capturar valor no Carnaval, no Lollapalooza [festival de música em São Paulo], e no “projeto verão” por causa de um comportamento de deslocamento urbano que acabou beneficiando esses modais.

Quanto à expansão geográfica, como a Eletromidia decide investir em uma cidade?

Estamos presentes em 80 cidades, mas com a presença muito forte nas 11 principais cidades de investimento publicitário, de onde partimos em nosso plano de consolidação. Começamos com São Paulo, depois Rio de Janeiro, Belo Horizonte, enfim, as cidades onde os investimentos publicitários estão mais maduros, que pautaram o nosso crescimento.

Nossa expansão vai caminhar em linha com o desenvolvimento do out of home. Ainda há muito espaço para crescer quando olhamos para as grandes cidades e para as cidades menores, do interior e outros mercados. Essa agenda de crescimento, que chamamos de expansão do core, se dá pelo desenvolvimento da agenda de infraestrutura do país, que abre oportunidades para uma companhia como a nossa.

Como está o negócio de shoppings?

Nossa parceria com a Allos encerrou no final do ano passado, porque ela tem uma estrutura de mídia e resolveu tocar esse negócio em voo solo. Temos parceiras com outros redes, como Iguatemi, JHSF, Ancar, entre outras importantes. Mesmo com a saída da Allos, seguimos crescendo na vertical de shopping e apresentando números maiores na comparação com 2023.

O poder da plataforma para vender audiência torna a companhia menos suscetível a alguns solavancos com a saída desse ou outro ativo. Essa é um pouco da nossa visão de shoppings.

A Globo tem 27% do capital da Eletromidia. Existe a possibilidade de compra do controle?

A Globo já atingiu o limite do poison pill [cláusula para barrar aquisição hostil] previsto em nosso acordo de acionistas. Segundo a regra do Novo Mercado da B3, qualquer fundo ou empresa que atinja participação acima de 28% naturalmente tem de fazer uma OPA [oferta pública de aquisição de ações] a todos os minoritários.

Nosso principal acionista é o fundo de private equity H.I.G. Somos uma companhia de capital aberto e sempre vai estar sujeita a uma compra de controle. Ou seja, a Globo pode, sim, comprar o controle, assim como outras companhias também podem fazer uma investida ou podemos virar uma corporation em algum momento, quando entendermos que temos necessidade de acessar o mercado de capitais.

Existe alguma conversa nessa direção por parte da Globo? Como é esse relacionamento com a empresa como acionista?

Não há nada fora disso do que estou comentando. Hoje temos uma estrutura de capital confortável. Nosso nível de alavancagem é baixo. Não existe nenhuma oportunidade no curto prazo que nos faça acessar o mercado de capitais. Hoje a nossa interlocução na Globo está sendo muito boa. Eles contribuem muito nas discussões no conselho de administração.

No comitê de negócios, começamos a fazer alguns projetos juntos. Fizemos um para o Mercado Livre no Big Brother Brasil. Temos trabalhado com o Gama [plataforma de comercialização de mídia programática da Globo desenvolvida em parceria com a Microsoft Advertising]. Estamos muito felizes com a participação deles na empresa, com a troca de know how cada vez maior e que ajuda no crescimento.

Leia também

EUA processam Live Nation e Ticketmaster por alegado monopólio e prejuízos a fãs

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.