Efeito Ozempic no consumo de alimentos será colocado à prova em balanços

Analistas e investidores aguardam informações de executivos na divulgação de resultados trimestrais após impacto já visto nos preços das ações

Ações da Mondelez International, fabricante da Oreo, perderam cerca de 10% do valor desde agosto (Foto: Shelby Tauber/Bloomberg)
Por Bailey Lipschultz - Katrina Compoli - Angel Adegbesan
19 de Outubro, 2023 | 01:13 PM

Bloomberg — Uma nova classe de medicamentos que resultam em perda de peso das pessoas tem abalado os mercados de ações globais, fazendo com que as ações de empresas que vão desde fabricantes de alimentos e bebidas até aqueles de dispositivos médicos despencassem. À medida que a temporada de resultados trimestrais ganha força, espera-se que as empresas revelem se os comportamentos do consumidor estão sendo alterados por medicamentos como o Ozempic.

Até agora, o medo tem levado investidores a vender ações de empresas voltadas para o consumidor. Empresas do setor, incluindo a fabricante de biscoitos Oreo, a Mondelez International, e a produtora da cerveja Modelo, a Constellation Brand, caíram quase 9% desde o início de agosto.

As perdas são aproximadamente o dobro das do índice S&P 500 no mesmo período, enquanto fabricantes de dispositivos como bombas de insulina perderam cerca de um terço de seu valor no mesmo período, devido a preocupações de que menos pessoas precisarão de seus produtos.

Comentários da empresa de alimentos Nestle e da distribuidora de álcool Pernod Ricard, juntamente com a fabricante de robôs cirúrgicos Intuitive Surgical, lançarão mais luz sobre o impacto do Ozempic, da Novo Nordisk, no apetite e na saúde geral dos consumidores.

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Esses medicamentos para perda de peso, conhecidos como GLP-1s, devem dominar as conferências de resultados das empresas. As referências às injeções, incluindo Ozempic, Mounjaro e Wegovy, aumentaram nos últimos trimestres.

A PepsiCo definiu o tom na semana passada, ao afirmar que os medicamentos supressores de apetite não estão afetando seus negócios. A gigante de refrigerantes e lanches elevou sua previsão de lucros para 2023, à medida que os consumidores gastaram mais em lanches de maior preço.

A concorrente Coca-Cola é a próxima a divulgar resultados na próxima terça-feira (24), seguida pela Hershey e pela Keurig Dr Pepper também na próxima semana.

“Isso será abordado em todas as calls deles”, disse Jeff Doerfler, analista sênior de ações líder no Huntington Private Bank.

A adoção mais ampla dos medicamentos para perda de peso, que reduzem o volume de consumo de alimentos e bebidas em 1% a 2%, pode ser prejudicial para os fabricantes de embalagens de lanches, segundo o analista do Citigroup, Anthony Pettinari, que reduziu as metas de preço da Ardagh Metal Packaging e da Crown Holdings.

“Isso pode representar metade ou mais do volume de crescimento das embalagens”, escreveu o analista em uma nota. Crown e Packaging Corp of America estão entre as empresas que começarão a divulgar resultados para o grupo na segunda-feira (23).

Da mesma forma, investidores em restaurantes temem o pior, de acordo com o analista do BTIG Peter Saleh. A maioria das ações no Índice de Restaurantes S&P Composite 1500 despencou nos últimos dois meses, chegando perto de uma baixa de 12 meses na semana passada antes de se recuperar.

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Os investidores terão que esperar até o final do mês para os resultados do McDonald’s e do Chipotle Mexican Grill. Saleh espera que os medicamentos tenham impacto limitado nas receitas das operadoras de alimentos, como redes de fast food.

“Este não é o único medo que afeta o sentimento dos restaurantes no momento: a melancolia recente do consumidor e o enfraquecimento das vendas do setor também estão na mente, mas achamos que o impacto dos medicamentos para perda de peso está sendo exagerado”, escreveu.

Para empresas de saúde, as equipes de gestão terão que garantir aos investidores que o Ozempic terá pouco impacto nas expectativas de lucro.

A Abbott Laboratories proporcionou algum alívio na quarta-feira (18) de manhã, divulgando resultados trimestrais que revelaram crescimento em seus dispositivos médicos para doenças cardíacas e diabetes, afastando preocupações de que os GLP-1s prejudicariam o negócio.

“Agora não estamos mais adivinhando qual é o impacto, se existe ou não”, disse Jared Holz, diretor administrativo da Mizuho, acrescentando que se os investidores acreditarão no que ouvem ainda está por ser visto.

Com o mercado de GLP-1s possivelmente atingindo US$ 100 bilhões até 2030, de acordo com analistas do Goldman Sachs, os medicamentos continuarão a cativar investidores e analistas em todos os setores.

Apenas nesta semana, alguns investidores frenéticos em ações em busca de potenciais vencedores foram prejudicados quando uma empresa chinesa pediu desculpas por enganar os investidores ao exagerar nas relações de seus resultados com tratamentos para perda de peso.

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