É o fim do corante em cereais? Empresas americanas se preparam para cortar aditivo

Companhias como a Kellogg se comprometeram no passado a eliminar corantes de produtos americanos, mas voltaram atrás; Eleição nos EUA pode acelerar esse processo

No mês passado, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, assinou uma lei que proíbe seis corantes em alimentos
Por Deena Shanker
04 de Novembro, 2024 | 11:20 AM

Bloomberg — Independentemente de quem vença a eleição americana, mais estados podem seguir o exemplo da Califórnia e proibir corantes artificiais em alimentos, especialmente nos cereais e sucrilhos.

Há, ainda, a expectativa que após a eleição americana esse processo de banir corantes em alimentos ganhe força.

“A primeira coisa que eu faria não vai custar nada para você, porque eu só vou dizer às empresas de cereal para retirarem todos os corantes de seus alimentos”, disse Robert F. Kennedy Jr., na semana passada, sobre as ações que tomaria se fosse nomeado para um cargo em uma possível vitória de Trump.

Kennedy, que afirmou que o ex-presidente “prometeu” a ele o controle das agências de saúde do governo caso ele seja reeleito, defende a possível expansão de uma proibição de corantes alimentares artificiais usados em cereais para crianças, como os Froot Loops da WK Kellogg, que foi aprovada na Califórnia no início deste ano.

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Kennedy endossou um coro de ativistas e um grupo bipartidário de legisladores que pressionam pela mudança. Agora, a WK Kellogg e outros fabricantes de alimentos precisam decidir se vão remover os corantes ou manter suas listas de ingredientes inalteradas até que sejam legalmente obrigados a mudá-las.

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“Nossos produtos ― e os ingredientes que usamos para fazê-los ― estão em conformidade com todas as leis e regulamentos relevantes aplicáveis”, disse Stacy Flathau, diretora de assuntos corporativos da WK Kellogg - mais de 85% das vendas de cereais da empresa vêm de produtos que não contêm os corantes.

Sarah Gallo, vice-presidente de política de produtos da associação da indústria Consumer Brands Association, disse que “as empresas continuarão a cumprir todas as regulamentações de segurança alimentar”.

No mês passado, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, assinou uma lei que proíbe seis corantes em alimentos, incluindo aqueles usados em cereais para crianças nos alimentos servidos nas escolas públicas do estado.

Esta foi a segunda proibição de corantes alimentares do tipo no estado. Uma lei aprovada no ano passado, que entrará em vigor apenas em 2027, proibirá o corante Red 3, que não é usado pela Kellogg, mas é frequentemente encontrado em doces.

Os aditivos têm sido considerados um risco à segurança, uma vez que os corantes artificiais podem ser carcinogênicos e podem levar à hiperatividade em algumas crianças.

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O Red 3 é proibido na maioria da Europa, e o uso de vários outros corantes deve vir com rótulos de advertência que informam os consumidores que eles podem ter um efeito adverso na atenção das crianças.

No Reino Unido, uma caixa de cereal colorido não contém nenhum dos corantes artificiais presentes no mesmo tipo de cereal nos EUA.

Enquanto isso, os corantes são onipresentes nos supermercados dos EUA: cerca de dois terços dos produtos de confeitaria contêm pelo menos um corante, segundo uma análise de dados de abril realizada pelo aplicativo de alimentos saudáveis GoCoCo, com sede em Barcelona e Miami. Eles também são encontrados em 45% das bebidas esportivas e 12% dos cereais.

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Para combater os corantes, ativistas como Vani Hari, conhecida por seu site Food Babe, focaram nos cereais devido ao seu lugar na dieta familiar americana, disse o empresário de alimentos Jason Karp, que vendeu a empresa de chocolate natural Hu para a fabricante de doces Mondelez em 2021.

Além disso, celebridades como Cindy Crawford, Eva Mendes e o Chef Marc Murphy, da Food Network, também pediram a remoção dos corantes.

Desde então, o empresário Karp escolheu a Kellogg como seu primeiro alvo depois que o CEO da empresa incentivou os consumidores em uma entrevista na televisão a fazer do cereal seu jantar, disse ele.

Quase 10 anos atrás, grandes empresas de alimentos — entre elas a Kellogg — se comprometeram a eliminar os corantes dos produtos americanos. Mas muitas delas voltaram atrás de sua decisão.

A General Mills, por exemplo, decidiu voltar a utilizar corantes artificiais no cereal Trix em 2017, após consumidores reclamarem da versão com corantes naturais.

Hoje, há uma mudança geracional em direção a alimentos mais saudáveis e menos processados entre os consumidores millennials e da geração Z.

“Os consumidores se importam mais com a comida do que nunca”, disse Rob Dongoski, líder global de alimentos e agronegócios na consultoria Kearny.

E esse movimento passou a ser sentido pelas grandes empresas de alimentos. Algumas, inclusive, se preparam para parar de utilizar os corantes antes mesmo antes que as leis exijam isso.

A Ferrara Candy, que fabrica doces de milho Brach’s, balas e doces duros, disse que começou a remover o Red 3 em 2022. Apesar disso, o material ainda está presente em 40% dos produtos da marca Brach’s.

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“Nosso conselho agora, e o que entendo que muitas empresas estão fazendo, é buscar alternativas”, disse Ralph Simmons, advogado do escritório Foster Garvey, que está trabalhando com clientes de alimentos e bebidas na questão dos corantes.

“Neste momento, é um interesse do consumidor”, acrescentou Garvey.

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