Do Mercado Livre à RD: as empresas que mais ocuparam galpões logísticos em 2024

Levantamento da consultoria especializada Siila antecipado à Bloomberg Línea revela as empresas e os setores que lideraram em absorção em 2024; CEO Giancarlo Nicastro aponta tendências para 2025

Centro de distribuição do Mercado Livre no estado de São Paulo: empresa segue com investimentos em logística para sustentar o crescimento
12 de Fevereiro, 2025 | 06:54 AM

Bloomberg Línea — Na contramão do mercado imobiliário mais amplo, o setor de galpões logísticos experimentou seu auge durante a pandemia de covid-19, quando o e-commerce teve um crescimento meteórico e se firmou como a principal alternativa de consumo do brasileiro diante do isolamento social.

A demanda por centros de distribuição para as compras online levou o mercado de galpões a ultrapassar 4 milhões de metros quadrados em absorção bruta em 2021 – um recorde que colocou o setor de logística sob os holofotes de investidores.

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Após o pico, os últimos anos foram de acomodação, com a absorção bruta (que não considera eventuais devoluções) fechando o ano de 2024 em 3,6 milhões de metros quadrados, segundo levantamento recém-concluído pela consultoria imobiliária SiiLA (veja mais abaixo) e antecipado à Bloomberg Línea.

A análise inclui empreendimentos das classes A+, A e B de todo o país.

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Para os próximos meses, o cenário promete ser desafiador. A taxa de juros em dois dígitos encarece os projetos de financiamento para construção e aquisição de galpões, que é prejudicado também pela alta inflação de custos e manutenção.

Os juros elevados também devem fazer com que empresas de diferentes setores posterguem planos de expansão, o que afeta a demanda pelo mercado logístico.

A SiiLA projeta que, em 2025, a absorção bruta dos galpões deve apresentar queda na comparação anual, para um montante próximo aos 2,9 milhões de metros quadrados.

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Setores mais resilientes

Os setores que devem ser mais resilientes nesse cenário são justamente aqueles que já apresentam melhor performance nos últimos anos. O e-commerce deve seguir como principal driver do crescimento: sete dos 10 maiores ocupantes de galpões no Brasil são empresas de varejo online.

A liderança fica com o Mercado Livre, que tem 1,6 milhão de metros quadrados locados. A companhia argentina também ficou na liderança do ranking de área locada em 2024, com ocupação de 364,9 mil metros quadrados, com seis empreendimentos em São Paulo, um em Minas Gerais e outros dois em Pernambuco e Brasília.

Ranking de maiores ocupantes do mercado logístico brasileiro

  1. Mercado Livre - 1,62 milhão de m²
  2. Amazon - 543 mil de m²
  3. Americanas - 477 mil de m²
  4. Magazine Luiza - 454 mil de m²
  5. Shopee - 441 mil de m²
  6. Via - 265 mil de m²
  7. DHL - 255 mil de m²
  8. Fedex - 222 mil de m²
  9. Shein - 215 mil de m²
  10. Solística - 200 mil de m²

De Singapura, a Shopee está em quinto lugar no ranking de maiores ocupantes, mas foi a segunda empresa que mais locou espaços no ano passado. Foram 244 mil metros quadrados de área logística locada em diferentes estados do Brasil: Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo – com a capital paulista respondendo pelo maior volume.

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Giancarlo Nicastro, CEO da SiiLA, projeta que o apetite das companhias deve continuar forte neste ano. “Percebemos que as empresas chinesas seguem buscando espaços de expansão no Brasil, especialmente em regiões em que ainda não possuem atuação”, afirmou.

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Nicastro destacou ainda o setor farmacêutico, que registrou a maior alta de ocupação nos últimos três anos: 48% de crescimento entre o quarto trimestre de 2021 e o mesmo período de 2024.

“É um setor que está se reinventando em termos de e-commerce. Cada loja física pode ser um last mile [ponto de distribuição que vai até a casa do cliente], em que é possível comprar online e retirar na farmácia”, disse.

O segmento fechou o último ano com 910 mil metros quadrados locados. Em 2024, a terceira empresa com maior absorção de espaço logístico veio do setor farmacêutico: a Medicamentos Santa Cruz.

“A ocupação do setor farmacêutico ainda não é tão grande, mas acredito que vai crescer acima dos demais”, disse Nicastro.

Ranking SiiLA

Recuperação de preço

Apesar das dificuldades com a absorção de espaços, o CEO da SiiLA projetou que os preços de locação devem continuar em tendência de alta.

A consultoria não tem uma estimativa exata, mas Nicastro projetou uma elevação “significativa” em relação à média de R$ 27 por metro quadrado registrada no ano passado.

A dinâmica deve ser favorecida pelo próprio ambiente macroeconômico desafiador, que deixa os proprietários mais receosos em construir o que, em última análise, afeta a oferta por novos espaços.

“Observamos o setor recuperando o preço, principalmente por causa da baixa disponibilidade. Em contrapartida, existe essa barreira da taxa de juros e da inflação altas que seguram os investimentos.”

A vacância no setor logístico está em 8,29%, a mais baixa desde 2016.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.