Da BYD à McLaren: vendas de importados crescem apesar de dólar e tarifas mais altas

Emplacamentos de associação de marcas que importam sobem 240% no semestre, alavancados por montadora chinesa, e os segmentos de luxo e superesportivos também avançam

McLaren
19 de Julho, 2024 | 06:23 AM

Bloomberg Línea — O cliente que deseja comprar uma McLaren ou um Aston Martin no Brasil, hoje, precisa estar disposto a desembolsar pelo menos R$ 2,5 milhões.

Neste ano, o mercado de carros importados no Brasil enfrentou dois fatores adversos: a valorização do dólar em cerca de 15% - a moeda passou de R$ 4,85 ao fim de 2023 para R$ 5,58 ao fim de junho deste ano - e a retomada gradual do imposto de importação sobre modelos elétricos e híbridos.

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Isso não tem impedido, no entanto, que o mercado como um todo continue a crescer, tanto no segmento de alto luxo e de superesportivos (acima citado) como de elétricos e híbridos.

Há razões para tanto. Embora a cotação do dólar não seja desprezada no processo de decisão de compra do cliente de modelos mais caros, “o fator emocional tem um peso relevante”, afirmou o diretor geral do grupo UK Motors, que representa as marcas McLaren e Aston Martin no Brasil, Rodrigo Soares.

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Segundo o executivo, que também é diretor financeiro da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), “a demanda continua resiliente no segmento premium. O consumidor desse tipo de carro acaba sofrendo menos com as volatilidades do mercado.”

Soares projeta que a McLaren deve emplacar de 50 a 60 unidades no Brasil em 2024, ante 41 carros vendidos no ano passado - seria um aumento de até 50%, portanto. Já a Aston Martin deve vender de 30 a 40 unidades este ano, ante 21 carros licenciados em 2023 - ou seja, o dobro no melhor cenário.

“O desempenho das marcas, na verdade, vai depender muito de as fábricas conseguirem atender aos nossos pedidos. Como existem modelos novos sendo lançados globalmente, estamos brigando com outros mercados por cotas de produção”, explicou o executivo.

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BYD Dolphin, o carro elétrico mais vendido no Brasil no primeiro trimestre de 2024 (Foto:  Brent Lewin/Bloomberg)

Um desses lançamentos é o novo superesportivo Vanquish com motor V12, da Aston Martin, que chegará ao mercado nacional no final deste ano com preço estimado perto de R$ 5 milhões.

Além de modelos com o já tradicional motor a combustão, as marcas de superesportivos também apostam na tendência de eletrificação. O primeiro carro híbrido de alto desempenho produzido em série pela McLaren já está à venda no Brasil, o Artura, que pode chegar a custar mais de R$ 2,8 milhões.

“Temos três lançamentos da McLaren e quatro da Aston Martin para este ano e isso nos dá fôlego. O mercado de luxo sofre pouco, pois o poder aquisitivo é alto. Isso significa que eventuais mudanças de valores não impactam a decisão de compra”, disse Soares.

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Enquanto as incertezas da economia afetam mais as vendas de carros de “massa”, importadores como um todo vêm experimentando crescimento no Brasil, algo alavancado principalmente pela BYD.

De janeiro a junho, a montadora chinesa que é líder global em elétricos foi responsável por mais de 70% dos emplacamentos das associadas da Abeifa. No total, o segmento representado pela associação reportou emplacamentos de 45.000 unidades no período, ante 13.390 em igual período do ano passado. Ou seja, um crescimento da ordem de 240% na comparação anual.

O avanço ocorre apesar do movimento de escalada do dólar nos últimos meses. “O novo patamar de câmbio veio para ficar, mas as nossas associadas têm trabalhado para segurar um pouco o aumento de preços”, afirmou à Bloomberg Línea o presidente da Abeifa, Marcelo de Godoy.

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O executivo, que é presidente da Volvo Cars Brasil, disse acreditar que, se o atual patamar de dólar persistir, pode ser inevitável um aumento de preços dos importados a partir do primeiro semestre do ano que vem.

“O cenário macroeconômico está desafiador. Precisamos principalmente de paz e estabilidade nos discursos do governo federal para conseguirmos passar pelo segundo semestre e até mesmo no médio e longo prazo”, disse o executivo.

Presidente da Abeifa e da Volvo Cars Brasil

Segundo o diretor da Bright Consultoria Automotiva, Murilo Briganti, a escalada do dólar afeta não só os importadores mas também as montadoras que produzem localmente.

“Quando o dólar sobe, o frete marítimo e as commodities usadas na produção de insumos de peças e partes dos carros também aumentam, o que impacta toda a cadeia automotiva”, disse.

O executivo disse que os preços devem sofrer um impacto adicional com o retorno do imposto de importação para veículos eletrificados, que respondem por mais de 60% das vendas de importados no país. A cobrança do tributo estava prevista para acontecer somente em 2026, mas foi antecipada pelo governo federal para janeiro deste ano de maneira gradual com a recomposição das alíquotas.

Neste ano, foram dois aumentos de alíquotas já adotados, e, atualmente, os eletrificados pagam 18% de imposto de importação; os híbridos pagam 25%.

Montadoras que produzem localmente defendem a antecipação da cobrança de alíquota de 35% já para 2024, sob alegação de competição desigual com o acelerado avanço chinês neste mercado.

“Pleitear a antecipação do imposto de importação é pedir por um desequilíbrio no mercado. O carro chinês é apenas uma fração das vendas internas”, disse o presidente da Abeifa.

Segundo levantamento da Bright, após o retorno do imposto de importação de modelos elétricos para 10% - e de híbridos para 15% - em janeiro deste ano, os preços dos carros subiram, em média, 5%.

No início de julho, houve uma nova majoração do tributo para elétricos importados, para 18%. “Os preços dos automóveis importados devem subir de 3% a 5% novamente. Algumas montadoras estão tentando não repassar o aumento, mas, se não o fizeram na primeira rodada, certamente farão agora”, disse Briganti.

Godoy disse que, mesmo sem considerar os números da montadora chinesa, as associadas da Abeifa tiveram um desempenho estável nas vendas em relação ao mesmo intervalo de 2023.

“Existe uma agenda forte de eletrificação e novas tecnologias que os consumidores brasileiros querem provar”, afirmou.

Diante de um movimento global de aumento da taxação sobre carros chineses - a União Europeia anunciou a medida, por exemplo -, Godoy disse que esse tipo de medida é prejudicial para o Brasil. “O país deveria melhorar a parceria com a China. Taxar carros chineses é ruim não só para a indústria automotiva. Imagine se a China decide retaliar e começa a taxar outros produtos brasileiros?.”

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.