Disputa entre TikTok e Universal Music aumenta e leva à retirada de mais músicas da plataforma

Gravadora exige que a plataforma de vídeos pague mais pelo uso das canções; embate entre a gigante da música e a rede social já dura meses

Escultura do Logo da Universal, que consiste em um globo terrestre com a palavra "Universal" sobreposta ao que seria a linha do Equador
Por Ashley Carman - Lucas Shaw
29 de Fevereiro, 2024 | 08:58 AM
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Bloomberg — O embate entre o TikTok e a Universal Music (UMG), a maior empresa de música do mundo, está prestes a piorar.

Nos próximos dias, várias músicas de alguns dos maiores artistas e compositores, incluindo Harry Styles e Coldplay, não estarão mais disponíveis no TikTok, segundo pessoas com conhecimento do assunto que falaram à Bloomberg News, marcando uma grande escalada em um desacordo que já dura semanas.

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A disputa teve início em janeiro, quando o contrato da Universal com o TikTok expirou e as duas empresas não conseguiram chegar a um acordo sobre uma prorrogação.

Depois disso, inúmeras músicas do extenso catálogo da Universal, que inclui trabalhos de artistas como Taylor Swift e The Weeknd, começaram a desaparecer da plataforma, limitando as opções de música dos mais de um bilhão de usuários do TikTok.

Na época, devido a uma cláusula no contrato que chegava ao fim, as canções representadas pela divisão de publicação da Universal continuaram disponíveis. Mas, nas semanas seguintes, as empresas não conseguiram chegar a um novo acordo e, a partir da noite de segunda-feira (26), as músicas remanescentes também começaram a ser retiradas, disseram as fontes, que pediram anonimato por discutirem informações sigilosas.

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Ainda é possível chegar a um acordo de última hora, embora isso pareça cada vez mais improvável, segundo as pessoas.

Tamanho do impacto

A remoção do catálogo da Universal do TikTok afetará não apenas os artistas das gravadoras da empresa, mas também muitos outros do setor. Harry Styles, por exemplo, lança músicas por meio da Sony Music Entertainment, mas tem contrato com a Universal para seus direitos de publicação.

O tamanho exato da próxima retirada de canções ainda não está claro. O catálogo de músicas gravadas da Universal inclui mais de 3 milhões de músicas; em 2022, a operação de publicação tinha quase 4 milhões de músicas de sua propriedade e administração.

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Um porta-voz do TikTok disse que a Universal e sua unidade de publicação representam juntas cerca de 20% a 30% da música popular na plataforma, dependendo do território.

“O alcance de uma empresa como a Universal é muito maior do que uma gravadora”, disse David Israelite, presidente e CEO da National Music Publishers’ Association. “Vai muito além das gravações da Universal, o impacto é maior”.

O conflito pode contribuir para remodelar o relacionamento tenso entre as empresas de mídia social e os músicos. A Universal está tentando forçar o TikTok, que pertence ao conglomerado chinês ByteDance, a aumentar os pagamentos a gravadoras e artistas.

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A empresa também quer proteção contra o uso de suas músicas para treinar modelos de inteligência artificial. Até o momento, o TikTok recusou os termos da Universal, argumentando que seu aplicativo oferece uma exposição inestimável para os artistas.

Universal vs. TikTok

No final de 2023, os executivos do TikTok acreditaram ter feito as pazes com a indústria da música, que durante anos criticou a empresa por causa de sua remuneração aos artistas.

No início de 2024, Ole Obermann, chefe global de música do TikTok, fechou acordos com a Sony e a Warner Music (WMG) garantindo que as músicas das duas grandes gravadoras continuassem aparecendo na plataforma.

O app também estava trabalhando em um novo acordo com a Universal e estendeu seu contrato por um mês para acertar os detalhes finais, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas que pediram anonimato. Mas em 30 de janeiro, na semana do Grammy Awards, a Universal publicou uma carta aberta dizendo que estava em um impasse com o TikTok.

A carta surpreendeu a equipe do TikTok em um momento já complicado. No dia seguinte, o CEO da empresa, Shou Chew, deveria testemunhar perante o Congresso dos Estados Unidos, e a notícia rapidamente se tornou o assunto da semana.

Em declarações escritas, as empresas trocaram farpas. O TikTok chamou a Universal de “intimidadora”. A Universal chamou o TikTok de “valentão”. Cerca de dois dias após a primeira carta, as músicas da Universal começaram a desaparecer do TikTok, e vários vídeos foram silenciados.

Nas últimas semanas, muitas empresas da indústria da música se uniram à Universal. Em geral, o TikTok paga às gravadoras uma quantia fixa pelos direitos de seus catálogos, com a possibilidade de pagamentos maiores dependendo do número de vezes que os vídeos são criados usando as faixas.

Muitos no setor musical acreditam que o TikTok não paga o suficiente, considerando que a plataforma construiu um negócio de publicidade em torno de vídeos com trilhas sonoras. As vendas da ByteDance ultrapassaram US$ 110 bilhões no ano passado, ao passo que o TikTok está avaliado em mais de US$ 250 bilhões.

Os artistas não sabem ao certo quem culpar. Alguns criticaram o TikTok, enquanto outros expressaram descontentamento com a Universal ou confusão sobre como o desacordo corporativo pode prejudicar sua renda.

Aplicativo do TikTok: companhia é avaliada em mais de US$ 250 bilhões

Até o momento, o impacto do impasse sobre os consumidores foi discreto. Depois de inicialmente expressar sua frustração, muitos usuários do TikTok se adaptaram, fazendo seus vídeos com as músicas que ainda estão disponíveis.

Com a redução da concorrência na plataforma, as músicas da Billboard Top 100 que não foram retiradas na primeira movimentação da Universal apresentaram um aumento, de acordo com a Round, uma agência digital que opera uma ferramenta de análise do TikTok.

Espera-se que as perdas financeiras da Universal com o embate sejam mínimas, em parte porque o TikTok representa apenas cerca de 1% de suas vendas anuais.

Desde o início da retirada das canções do TikTok, o consumo geral das músicas da Universal em outros canais de distribuição mudou minimamente, disseram as fontes.

A próxima fase da disputa – a retirada das músicas com base nos direitos de publicação – provavelmente será um processo complicado. Mesmo que um compositor representado pela Universal tenha contribuído com apenas algumas linhas para uma música gravada por um artista de outra gravadora, a música será removida.

Como resultado, é provável que toda a indústria da música seja incluída nas mudanças que estão por vir.

Enquanto isso, muitas das soluções alternativas atuais preferidas pelos usuários do TikTok – como escolher versões cover de músicas gravadas pela Universal – provavelmente serão menos eficazes.

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