Diferença de expectativas de trabalhadores é alerta a empresas, diz Michael Page

‘Encontrar estratégias que funcionem para todos tem ficado mais complicado’, diz Gijs van Delft, Senior Managing Director do PageGroup, sobre estudo com 10.000 profissionais em LatAm

Além da remuneração, questões como a flexibilidade pesam cada vez mais, segundo estudo (Foto: Spencer Platt/Getty Images)
28 de Agosto, 2024 | 08:36 PM

Bloomberg Línea — A diferença de expectativas que envolve trabalhadores tem se tornado um dos principais desafios para empresas no Brasil e em outros mercados da América Latina, apontou a Michael Page, empresa global de recrutamento, em novo estudo ao qual teve acesso em primeira mão a Bloomberg Línea.

“Encontrar estratégias que funcionem para todos os envolvidos está se tornando mais complicado - algo que chamamos de ‘a divergência de expectativas’”, disse Gijs van Delft, Senior Managing Director do PageGroup para o Brasil, no estudo “Talent Trends 2024″.

Foram entrevistados cerca de 10.000 profissionais em diferentes mercados da América Latina, dos quais perto de 2.300 no Brasil, em cargos essencialmente de gerência, de coordenação e supervisão e também sem responsabilidades gerenciais.

Entre os objetivos do estudo global da Michael Page, unidade de negócios do PageGroup dedicada a serviços de recrutamento para profissionais de alta a média gerência, estão fornecer insights para a definição de políticas mais eficazes de retenção e atração de talentos.

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“Por um lado, os profissionais têm uma lista crescente de expectativas, que vão muito além de salários competitivos e flexibilidade. Por outro, as empresas enfrentam pressões significativas em um ambiente corporativo altamente dinâmico, o que dificulta o alinhamento das expectativas”, disse o executivo.

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Tais demandas são acompanhadas pela necessidade de incorporar iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, bem como a inserção da Inteligência Artificial (IA) nas atividades de trabalho.

“Embora o crescimento salarial esteja em desaceleração globalmente devido às pressões econômicas enfrentadas pelos empregadores, profissionais ainda esperam salários mais altos para acompanhar o aumento do custo de vida e se sentirem valorizados por suas contribuições”, disse o Senior Managing Director do PageGroup para o Brasil.

A flexibilidade também se tornou um ponto crucial, dado que empresas enfrentam dificuldades para obter a adesão a seus modelos e políticas de trabalho híbrido. E há outros desafios.

Com cinco gerações diferentes atualmente ativas no mercado de trabalho, manter uma cultura dinâmica em que todos possam ser autênticos é mais complexo do que nunca, segundo a Michael Page.

Mas a lista ampla de expectativas não correspondidas dos trabalhadores é, no fim do dia, encabeçada pelo fator tradicionalmente apontado como mais relevante.

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“A divergência de expectativas entre profissionais e empresas é especialmente evidente na área da remuneração. As exigências cada vez maiores dos colaboradores brasileiros estão desalinhadas com os desafios econômicos enfrentados por muitos empregadores”, concluiu o estudo.

Segundo a Michael Page, citando dados da pesquisa, mais da metade dos brasileiros (52%) está insatisfeita com seu salário - e isso começa a influenciar as intenções de mudança de emprego. No ano passado, esse contingente era menor e equivalente a 39%.

Para 50% dos brasileiros que buscam um novo emprego, a remuneração é o critério mais relevante na decisão de aceitar uma proposta, um pouco abaixo da média de 58% na América Latina.

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O estudo apontou que metade dos brasileiros disse que está em busca de um novo emprego, um percentual abaixo da média da América Latina (55%) e do resultado comparável de 2023 (56%). Além disso, mesmo entre aqueles que dizem não buscar uma nova colocação, a ampla maioria declarou que consideraria fazê-lo ou de fato aceitaria uma eventual proposta melhor de outra companhia.

O que pesa além da remuneração

Há uma aparente contradição a esse respeito, de acordo com o estudo da Michael Page. Embora a remuneração tenha sido indicada pelos próprios próprios profissionais como o fator que mais na pesa na decisão de aceitar uma proposta, ela não é a que se traduz em maior satisfação no trabalho - um sinal de que o trabalho por dinheiro ainda pesa mais do que a realização pessoal.

Esse status coube ao “equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, segundo 52% dos entrevistados, acima dos 43% que apontaram o salário como fator que mais pesa para a satisfação.

De forma semelhante, as próprias empresas indicaram o entendimento de que a remuneração é o fator que mais pesa na retenção de talentos (59% do total), acima do equilíbrio entre vida profissional e pessoal (37%) e da progressão de carreira (36%), em respostas múltiplas.

Diante das descobertas do estudo, a Michael Page enumerou três recomendações principais para empregadores que buscam atender às expectativas de seus colaboradores.

A primeira é “promover ambientes de trabalho flexíveis que priorizam as pessoas e preservam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional”; outra recomendação é “criar um espaço em que as pessoas se sentem valorizadas, ouvidas e compreendidas”; e, por fim, “apoiar os profissionais à medida que o trabalho continua a evoluir em torno de novas tecnologias”, caso da Inteligência Artificial.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.