Bloomberg Linea — A Netflix (NFLX) vai reforçar a aposta em conteúdo em língua portuguesa para elevar o número de assinaturas no Brasil em 2025, o que cria oportunidades de negócios para produtoras locais.
Será uma maneira também de enfrentar a crescente concorrência de plataformas de streaming como Amazon Prime e Globoplay.
A receita da Netflix para atrair a atenção dos usuários no país é disponibilizar documentários, séries, filmes e reality shows com ingredientes demandados pela audiência, como histórias de true crime, conflitos familiares e personagens populares, como o craque da seleção brasileira Vini Jr. e a cantora Anitta.
Em 2024, a plataforma obteve êxito com uma série de ficção inspirada na trajetória de Ayrton Senna, um ídolo nacional cujo apelo extrapola os seus atributos esportivos de tricampeão mundial de Fórmula 1.
Outras produções originais no Brasil com sucesso são as séries “Sintonia” e “DNA do Crime”, os reality shows “Ilhados com a Sogra” e “Casamento às Cegas”, a minissérie “Os Quatro da Candelária” e a novela “Pedaço de Mim”.
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“O quarto trimestre foi o melhor da história da Netflix. Conseguimos manter a posição de liderança em engajamento e performance financeira. No Brasil, o documentário sobre Senna superou as expectativas com mais de 16 milhões de visualizações”, disse Elisabetta Zenatti, VP de Conteúdo da Netflix no Brasil, durante apresentação das apostas para 2025 a um grupo de jornalistas, em São Paulo.
Depois da história do ídolo do automobilismo, a Netflix aposta no apelo de Vinícius Júnior, atacante brasileiro do Real Madrid, que é alvo recorrente de racismo em partidas na Europa e na Espanha em particular - e que foi eleito o melhor jogador do mundo em 2024 em eleição da Fifa.
“Baila, Vini” é o nome do documentário sobre o atleta de 24 anos, realizado pela produtora independente Conspiração Filmes, com previsão de exibição neste ano.
“O documentário acompanhou a luta antirracista e teve acesso ao jogador por mais de um ano”, contou Elisa Chalfon, diretora de conteúdo de não-ficção da Netflix no Brasil.
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Ela também destacou para 2025 o documentário “Larissa: o outro lado de Anitta”, sobre a funkeira carioca que levou sua carreira para o exterior, além de uma edição de “Casamento às Cegas” com participantes acima de 50 anos. Haverá ainda um documentário sobre a maior tragédia da aviação no Brasil, o acidente com um Airbus A-320 da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2007, que deixou 199 mortos.
Filmes e séries de ficção
Diretor de filmes da Netflix no Brasil, Gabriel Gurman apontou uma produção da Migdal Filmes como um potencial sucesso do ano. Trata-se do longa “Caramelo”, sobre o cão sem raça definida, da cor caramelo, que se tornou um ícone canino do Brasil. O filme traz o ator Rafael Vitti e o caramelo Amendoim.
“Como se faz um filme de cachorro de Brasil? Foi com esse desafio que surgiu ‘Caramelo’. É o cachorro do Brasil. Foi um caos a filmagem”, brincou Gurman durante a apresentação de uma sequência não finalizada do longa.
Ele também considerou como um projeto ambicioso a adaptação cinematográfica de “O Filho de Mil Homens”, livro de Valter Hugo Mãe, com o ator Rodrigo Santoro no papel do pescador solitário Crisóstomo.
A programação também indica a comédia “Família Pero no Mucho”, da produtora Camisa Listrada, com o ator Leandro Hassum.
“Também teremos o spinoff da série ‘Irmandade’, o primeiro da Netflix Brasil, produzido pela O2 Filmes. A filmagem vai até 20 de fevereiro”, disse Gurman, sobre a história de uma advogada que enfrenta um dilema moral ao descobrir que o irmão lidera uma facção criminosa.
Haná Vaisman, diretora de séries de ficção no Brasil, apresentou “Os Donos do Jogo”, que vai explorar o universo da contravenção carioca, em um momento em que o país regulamenta plataformas de jogos online, o que aquece a discussão sobre a dependência psicológica e o impacto na renda das famílias. Realizada pela produtora Paranoid, a série tem Juliana Paes e André Lamoglia no elenco.
“Tem clima de máfia, jogo, melodrama, traição, intriga politica. O universo do crime povoa o imaginário brasileiro e traz muito engajamento dos nossos assinantes no país”, disse Vaisman.
Do Pará aos vizinhos latinos
Para se conectar com as demandas de conteúdo de sua audiência no Brasil, a Netflix também explora geografias mais distantes da região Sudeste.
É o caso da minissérie “Pssica” (gíria paraense para maldição), que será exibida neste ano. A produção da O2 Filmes foi rodada em Belém, capital do Pará, na região da Amazônia.
“Chamo ‘Pssica’ de um thriller aquático, sobre a violência contra a mulher. É muita adrenalina nas cenas feitas em barcos. São eletrizantes”, descreveu Vaisman.
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As obras originais produzidas no Brasil também servem para aproximar o elenco local com nomes da indústria audiovisual da América Latina, segundo a diretora. “Pssica” conta com a atriz colombiana Marleyda Soto, um dos destaques da série “Cem Anos de Solidão”. Já comédia “Família Pero no Mucho” foi rodada em Bariloche, na Argentina, e colocou Leandro Hassum para contracenar com o ator argentino Gabriel Goity.
“Nosso foco é sempre fazer sucesso e ser relevante no Brasil. Fazemos as entregas para nosso assinante no país. Quando algum conteúdo nosso desperta interesse global, isso é um ‘plus’”, disse a diretora.
Globalmente, as apostas da plataforma neste ano são a última temporada das séries “Stranger Things” e “Round 6″, a segunda temporada de “Wandinha”, o filme “Frankenstein”, do cineasta mexicano Guillermo del Toro, e o thriller policial “RIP”, com a dupla Ben Affleck e Matt Damon.
Há também “Todo Mundo Ao Vivo”, um talk show transmitido em tempo real pelo comediante John Mulaney, e as séries “The Four Seasons”, com Tina Fey e Steve Carrell, e “Death by Lightning”, dos criadores de “Game of Thrones”.
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