Bloomberg — Quando a TGI Friday’s entrou com pedido equivalente à recuperação judicial no mês passado, o setor de restaurantes casuais culpou o declínio das vendas e a redução da receita, uma vez que os clientes deixaram de gastar por causa do orçamento mais apertado.
A rede de quase 60 anos é um dos mais de uma dúzia de grandes restaurantes ou franqueados a buscar proteção judicial contra credores de janeiro a outubro, de acordo com a BankruptcyData. Esse é o maior número até essa data desde 2020 e o mercado já prevê novos problemas para o ano que vem.
A perspectiva tem como base o aumento dos preços cobrados por esses estabelecimentos, a elevação dos custos trabalhistas, interrupções na cadeia de suprimentos e despesas com juros mais altos, pesando sobre a demanda do consumidor por refeições fora de casa.
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Os preços dos restaurantes aumentaram cerca de 44% entre 2015 e março de 2024, de acordo com a empresa de dados Black Box Intelligence. Em comparação, os itens nos supermercados avançaram 26% no mesmo período.
“É muito difícil para alguém ir a um restaurante no mesmo ritmo de antes”, disse Victor Fernandez, vice-presidente de insights da Black Box Intelligence. “Isso está colocando muita pressão sobre as marcas.”
O gigante dos frutos do mar Red Lobster, a rede italiana Buca di Beppo, o restaurante de tacos de peixe Rubio’s Coastal Grill e o proprietário das redes de hambúrgueres e pizzas BurgerFi e Anthony’s Coal Fired Pizza estão entre os que tentaram se reorganizar por meio de recuperação judicial este ano.
A rede Hooters também tem se reunido com credores e consultores em meio a quedas na receita, informou a Bloomberg.
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Estratégias para reverter o cenário
As ações da Dine Brands Global (DIN), controladora da Applebee’s e da IHOP, caíram cerca de 30% no acumulado do ano, enquanto as ações da Bloomin’ Brands (BLMN), proprietária da Outback Steakhouse, caíram para perto das mínimas de 2020 no mês passado, depois de registrar uma queda nas vendas nas mesmas lojas nos EUA.
Mas as promoções e os esforços de marketing podem melhorar as vendas e o tráfego no próximo ano. Os restaurantes casuais têm enfrentado dificuldades mais acentuadas porque dependem de clientes com renda mais baixa e precisam competir com redes de fast food que empregam as mesmas táticas.
O McDonald’s (MCD), por exemplo, planeja lançar um cardápio econômico em janeiro, com refeições de US$ 5 e uma oferta para comprar um item e adicionar outro por US$ 1.
As cadeias de fast-food de frango Wingstop e Raising Cane’s Restaurants tiveram um crescimento de receita de dois dígitos este ano, graças aos esforços de marketing de influenciadores e à publicidade em jogos esportivos.
Para melhorar o crescimento, a TGI Friday’s lançou refeições a US$ 9,99, tentou aumentar a presença on-line e fez parceria com serviços de entrega de terceiros, de acordo com os registros do tribunal de falências.
A rede Bloomin’ Brands Bonefish Grill tenta capitalizar o sucesso de bilheteria do musical Wicked com dois martinis a US$ 7 inspirados no filme.
A publicidade e os influenciadores experientes do TikTok ajudaram a impulsionar um aumento de 14% nas vendas nas mesmas lojas da cadeia Chili’s, de propriedade da Brinker International, entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano, de acordo com a Bloomberg Intelligence.
Essas estratégias parecem estar funcionando: novembro marcou o terceiro mês consecutivo de crescimento das vendas nas mesmas lojas em todo o setor, de acordo com a Black Box Intelligence.
Novos proprietários
Por meio da recuperação judicial, algumas grandes redes conseguiram fechar estabelecimentos com baixo desempenho e encontrar novos proprietários, apostando que menos lojas e novos investimentos podem ajudar a recuperar suas marcas.
Os restaurantes também recorrem com frequência ao mercado de junk bonds (títulos emitidos por empresas com baixa classificação de crédito e que oferecem alto potencial de retorno, considerando os altos riscos dos ativos), representando cerca de US$ 17,8 bilhões do universo de alto rendimento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Qualquer problema no setor poderia se traduzir em perdas para pelo menos alguns detentores de títulos.
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O Buca di Beppo fechou mais de uma dúzia de estabelecimentos antes de entrar em recuperação judicial em agosto. No mês passado, o restaurante italiano foi vendido ao credor Main Street Capital Corp, uma empresa de investimentos com cerca de US$ 5 bilhões em ativos totais em 30 de junho, de acordo com documentos judiciais. A operadora do BurgerFi também foi vendida no mês passado para uma afiliada da TREW Capital Management.
Na mesma linha, a TGI Friday’s também trabalha para vender suas lojas de propriedade da empresa no processo do Chapter 11 (equivalente à recuperação judicial).
Uma afiliada da Sugarloaf Hospitality concordou em adquirir as lojas da rede no Aeroporto Internacional de Dallas Fort Worth e um punhado de lojas de propriedade da empresa em Maryland por US$ 30,5 milhões, além de assumir certos passivos, disseram os advogados durante uma audiência na quarta-feira passada.
O Red Lobster, o maior restaurante a solicitar o Chapter 11 até agora neste ano, fechou dezenas de estabelecimentos e usou a recuperação judicial para cortar os laços com o proprietário anterior, o Thai Union Group.
A rede de frutos do mar foi adquirida por um consórcio de investidores liderado pelo Fortress Investment Group em setembro, saindo da reorganização do Chapter 11 com cerca de 545 estabelecimentos nos EUA e no Canadá.
A Red Lobster também contratou uma nova equipe de administração para conduzir a empresa para fora da recuperação judicial e eliminou a dispendiosa promoção “Ultimate Endless Shrimp”.
O diretor administrativo da Fortress, Morgan McClure, disse que restaurantes como o Red Lobster oferecem aos clientes um nicho forte e têm uma vantagem sobre seus concorrentes, atrativo que justifica o investimento da empresa.
"Ele tem um ótimo posicionamento", disse McClure. "Em muitos lugares em que está localizado, é a principal opção de frutos do mar."
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