Bloomberg — Antes de Elon Musk apoiar Donald Trump, o corretor imobiliário de Utah, Chas Tucker, evitava veículos elétricos. O conservador de longa data não gostava do que sentia que eles representavam, especialmente os Teslas: sinalização de virtude progressista e valores de elites costeiras.
Isso mudou quando o homem mais rico do mundo abraçou Trump, alienando o grupo liberal rico que havia aderido com tanto entusiasmo aos primeiros modelos da Tesla.
Agora, para alguns, os veículos elétricos deixaram de ser símbolos ambientalmente amigáveis para se tornarem algo como bonés “MAGA” - referência ao slogan de Trump: Make America Great Again) -, uma demonstração de apoio ao governo que está por vir.
Tucker mergulhou de cabeça. Ele comprou um Model Y, é claro, mas também investiu gradualmente os fundos de aposentadoria dele e de sua esposa inteiramente em ações da empresa, que subiram 37% desde as eleições nos Estados Unidos.
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Consumo politizado
“Quando Elon apoiou Trump, eu pensei: ‘Ok, ele tem coragem, ele tem força’”, disse Tucker, 40 anos. “Vou recompensar um líder como esse e contribuir para seu sucesso.”
As mudanças na percepção sobre a Tesla e seu CEO são um exemplo marcante das peculiaridades do consumo politizado.
Durante décadas, a maioria das empresas fez tudo o que podia para evitar política e questões sociais controversas.
Mas agora, com debates que acontecem diariamente nas redes sociais, elas têm sido cada vez mais pressionadas a se posicionar sobre temas que vão desde o controle de armas até leis sobre aborto. E muitas vezes é inviável para as empresas permanecerem neutras.
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Raramente, ou nunca, uma marca tão grande quanto a Tesla muda tão completamente de um extremo do espectro político para o outro.
Musk apoiou Joe Biden nas eleições de 2020 e afirmou historicamente apoiar os democratas. Desde então, ele se tornou um dos maiores doadores de Trump e foi indicado para liderar um novo Departamento de Eficiência Governamental.
Essa guinada à direita deixou os proprietários de Tesla enfrentando uma nova realidade, tanto na estrada quanto em suas carteiras de investimentos.
Fãs de outrora, que investiram diretamente em ações da Tesla, podem se desfazer dos papéis, mas investidores comuns terão dificuldade em se separar completamente. A empresa representa quase 2% do índice S&P 500, e a maioria dos fundos de índice de mercado amplo está fortemente exposta a ela.
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Eles podem, claro, parar de dirigir os carros, e alguns devotos de longa data estão fazendo exatamente isso. Por outro lado, republicanos conservadores que antes desprezavam os veículos elétricos agora estão dando uma segunda chance a eles.
A Tesla não respondeu a um pedido de comentário.
Sinalização política
Don Scott, um homem de 59 anos de Fountain Hills, Arizona, amava o Tesla que comprou em 2018. Vegano, Scott se orgulha de suas visões progressistas e promovia o carro, animado com seu potencial para mudanças ambientais (o fato de alguns modelos da Tesla terem couro vegano também ajudava).
Mas, nos últimos anos, Scott começou a perceber sinais de que não gostava vindos de Musk, e um ponto de virada foi a compra do Twitter.
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“Virou apenas um esgoto de ódio. E ele era o líder disso”, disse Scott. “Foi realmente perturbador.”
Com o tempo, Scott disse que começou a se sentir desconfortável dirigindo pela cidade em “um Elon Musk-móvel.” Alguns na posição de Scott optaram por adesivos sarcásticos no para-choque, deixando claro quando compraram seus Teslas.
Ele agora vê os carros como os bonés vermelhos com “MAGA” comuns nos comícios de Trump. Assim, ele vendeu seu Tesla no final do ano passado e comprou um carro da Rivian.
Domínio de mercado
Certamente, a Tesla ainda domina o mercado de veículos elétricos nos EUA. A marca representou mais da metade dos veículos elétricos vendidos na Califórnia nos primeiros nove meses do ano, de acordo com um relatório da Associação de Revendedores de Carros Novos da Califórnia.
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As vendas caíram 8,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas o Model Y continuou sendo o veículo elétrico mais vendido.
Além disso, as vendas aumentaram em alguns estados conservadores, incluindo o atual lar da Tesla, o Texas.
Cerca de 182 mil Teslas foram registrados no estado em novembro, acima de aproximadamente 137 mil no ano anterior, de acordo com a Dallas-Fort Worth Clean Cities Coalition (DFWCC).
Concorrentes como Ford e Hyundai estão ganhando espaço no mercado, mas levará tempo para a Tesla perder sua posição de liderança, se isso acontecer.
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Mesmo consumidores que dizem estar tentando vender seus Teslas hoje afirmam que não é porque os carros são ruins — eles apenas não gostam mais da marca.
Incongruência de valores
Howard Chang é uma dessas pessoas. Aos 65 anos, morador de Toronto, ele possui várias empresas que operam com base no chamado tripé da sustentabilidade, uma estrutura contábil que mede o impacto social, econômico e ambiental de uma empresa.
Possuir um Tesla começou a parecer incongruente com esses valores, de modo que Chang decidiu vender o seu. Mas ele tem tido dificuldade em encontrar um bom preço no mercado de segunda mão.
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Chang foi ainda mais longe do que apenas se livrar do carro.
Na época em que comprou o Tesla em 2019, ele também adquiriu ações da empresa. Ele obteve lucros significativos comprando nos momentos de baixa e vendendo nos picos, mas ficou cada vez mais desconfortável em manter os papéis cerca de seis meses atrás.
“Provavelmente os vendi prematuramente porque continuaram a subir depois disso”, disse Chang. “Mas não me senti mal por vendê-los porque, naquele momento, tomei a decisão de começar a me separar dessa marca.”
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