De olho em IPO, PicPay entrega 1º lucro semestral e vê cliente usar mais serviços

Fintech da holding J&F tem lucro ajustado de R$ 58 milhões até junho; ‘não tem como voltar a dar prejuízo’, diz André Cazotto, diretor de RI e Estratégia, à Bloomberg Línea

Sede do PicPay em São Paulo: fintech segue com planos de abertura de capital (Foto: Rogério Cassimiro/PicPay)
25 de Agosto, 2023 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — O PicPay, uma das fintechs de maior crescimento do país nos últimos anos, alcançou uma virada em sua trajetória de negócios ao deixar de queimar caixa e reportar um lucro ajustado de R$ 58 milhões no primeiro semestre de 2023. Em entrevista à Bloomberg Línea, André Cazotto, diretor de RI, Estratégia e M&A da empresa, disse que “não existe a menor possibilidade de o PicPay voltar a dar prejuízo”.

A empresa que pertence à holding J&F Investimentos, da família Batista, a mesma da JBS (JBSB3), reverteu a perda de R$ 656 milhões do primeiro semestre de 2022 e espera continuar a crescer com rentabilidade e a entregar um resultado positivo, mas ainda sem maximizar os lucros, o que só deve acontecer a partir do ano que vem, segundo Cazotto.

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A empresa alcançou uma margem bruta de R$ 817 milhões no primeiro semestre de 2023, um aumento de 111% em relação ao mesmo período de 2022, com um Ebitda ajustado de R$ 123 milhões no semestre, revertendo uma perda de R$ 403 milhões no mesmo período em 2022.

A evolução dos resultados acompanha iniciativas para melhorar a eficiência da operação e também a execução da estratégia de ampliar a oferta de produtos, indo além dos serviços de transferência e de carteira digital que ajudaram a popularizar a empresa em seus primeiros anos (veja mais abaixo).

O PicPay também oferece atualmente cartão de crédito, investimentos em renda fixa, crédito pessoal e consignado. “Temos habilidade para vender produtos para a nossa base.”

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Com esses resultados, o PicPay se prepara para entrar no mercado de capitais “no momento certo”, disse Cazotto, com a ressalva de que não há pressa para abrir o capital.

Em abril de 2021, a empresa chegou a entrar com um pedido para IPO na Nasdaq - segundo dados do PitchBook, com uma oferta esperada de US$ 100 milhões. Mas a empresa desistiu de ir a mercado naquele momento considerado adverso do mercado.

“Temos nos preparado bastante [para um IPO], mas, mais do que isso, divulgar os resultados é uma boa prática e estamos mostrando a evolução do nosso modelo de negócio e dos nossos resultados para os potenciais investidores”, disse o diretor de RI.

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“É uma forma de mostrarmos como estamos evoluindo para o mercado [...] Temos total capacidade de continuar crescendo com rentabilidade”, disse o executivo.

No primeiro semestre, a empresa obteve R$ 1,5 bilhão de receita líquida, com crescimento de mais de 20% ano contra ano.

A empresa atingiu o breakeven em setembro do ano passado. “Desde então, entregamos lucro”, disse Cazotto.

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Em junho, o PicPay anunciou a integração da operação de varejo do Banco Original, instituição financeira também controlada pela J&F, em uma estratégia que vai impulsionar a oferta de produtos financeiros no aplicativo. O PicPay espera incorporar as receitas do segmento de varejo do Original ao longo do segundo semestre e acelerar o crescimento da receita e da base de usuários ativos.

“Também entramos no segmento de benefícios corporativos”, disse. Além disso, a empresa adquiriu a BX Blue, um marketplace de consignado para servidores públicos, em fevereiro.

Os investimentos não terão impacto na rentabilidade da empresa, segundo o executivo. “Crescimento com rentabilidade vai continuar sendo o nosso compromisso com o mercado e com o acionista [...] estamos preparando o terreno para um 2024 muito mais rentável.”

Reversão do prejuízo

O PicPay tem conseguido reduzir despesas por meio de medidas como o ganho de eficiência em chargeback (cancelamentos) e diminuição de custos de marketing e de servir o cliente, o que inclui tecnologia e atendimento, segundo Cazotto. Houve também iniciativas em busca de receitas.

“Também estamos sendo eficientes no custo de captação do nosso modelo de negócio”, afirmou. Segundo ele, “o custo de funding saiu de quase 130% do CDI no primeiro semestre do ano passado para 85% neste primeiro semestre de 2023”.

O PicPay tem mais de R$ 11 bilhões em depósitos nas conta dos clientes, segundo Cazotto. Sem a licença de instituição financeira conseguida em junho de 2022, e enquanto instituição de pagamento, o PicPay só podia reinvestir os depósitos de seus clientes em títulos do Tesouro. Assim, não conseguia utilizar esse capital para o financiamento do seu próprio crescimento, como fazem os bancos.

Evolução das safras de clientes

Segundo Cazotto, a safra (cohort) de clientes do segundo trimestre do PicPay já nasce com três produtos contratados, enquanto as de membros de dois a três anos atrás demorariam de cinco a seis trimestres para atingir os mesmos três produtos.

“Éramos apenas uma carteira digital que dava possibilidade para fazer pagamentos instantâneos entre contas do PicPay, parcelamento de boleto. E agora, ao longo dos últimos anos dois anos, aceleramos bastante essa diversificação do modelo de negócio e entramos em novas verticais, com mais serviços financeiros, mais produtos de investimento”, disse.

A diversificação do modelo de negócios, portanto, tem ajudado a empresa a vender de mais produtos e, como consequência, crescer a receita. Hoje, 85% da receita do PicPay vem dos produtos da carteira digital. “Há dois anos atrás eram 95%, ou seja, quase 100% das receitas”.

O pagamento segue como o negócio principal, com o Pix como um dos principais produtos. “Temos 8% de market share do Pix aqui. São 40 milhões de usuários que têm uma chave registrada no Pix aqui no PicPay”, disse.

“Sem dúvida que serviços financeiros como cartão de crédito, empréstimo pessoal e consignado vão ser importantes, mas obviamente o nosso negócio é muito maior e muito mais abrangente do que isso.”

Segundo Cazotto, um diferencial em relação a bancos digitais é que na carteira digital do PicPay é possível usar o cartão de crédito não só do PicPay mas também de outras instituições para fazer transações.

A empresa tem 34 milhões de usuários ativos e aposta em produtos de investimentos para aumentar os depósitos e diversificar a base.

O PicPay planeja agregar os serviços de corretor à plataforma. Atualmente oferece como produtos de investimento ativos de renda fixa, como CDB.

“Já lançamos mais de 4 milhões de ‘cofrinhos’, são mais de R$ 2 bilhões ali investidos. Lançamos novos produtos de CDB a prazo do PicPay,” disse o diretor.

“Vamos lançar fundos e renda variável, mas vai ser passo a passo. A ideia é que até o final do primeiro semestre do ano que vem tenhamos também renda variável na plataforma.”

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups