Por que a Stellantis fez uma aposta global de R$ 14 bilhões na fábrica de Betim

Volume anunciado é o maior já previsto para o complexo industrial em Minas Gerais e será destinado para o desenvolvimento de novas plataformas e a produção de motores

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Bloomberg Línea — A Stellantis (STLA) anunciou nesta segunda-feira (20) um novo ciclo de investimentos para a unidade produtiva de Betim, em Minas Gerais, de R$ 14 bilhões para o período de 2025 a 2030. Segundo o presidente do grupo para América do Sul, Emanuele Cappellano, trata-se do maior aporte já feito no complexo.

“O novo ciclo de investimentos visa basicamente a introdução de novas plataformas e da motorização bio-hybrid”, disse o executivo a jornalistas, se referindo aos modelos híbridos flex, movidos também a biocombustíveis, como o etanol.

O grupo anunciou ainda um investimento de R$ 454 milhões na linha de motores de Betim, referente ao ciclo vigente. O objetivo é elevar a capacidade atual, de 750 mil unidades por ano, para 1,1 milhão de motores anuais.

“A função desse investimento é ampliar a capacidade produtiva da linha de motores turbo, precisamos atender o mercado já visando o bio-hybrid”, afirmou.

Leia mais: O plano da Stellantis para desenvolver novos modelos para a América do Sul

No total, o pacote de investimentos da montadora para o próximo ciclo soma R$ 30 bilhões no Brasil, sendo R$ 13 bilhões para o complexo automotivo do município de Goiana, em Pernambuco.

Cappellano não detalhou o aporte a ser destinado para a unidade fabril de Porto Real, no Rio de Janeiro. A empresa investirá ainda R$ 2 bilhões na Argentina, somando um total de R$ 32 bilhões para a América do Sul.

A fábrica da Stellantis em Betim é considerada a maior do país e foi inaugurada em 1976, ainda como Fiat.

Atualmente, a linha de montagem de veículos trabalha com dois turnos de produção, a uma capacidade de aproximadamente 700 mil unidades por ano – cerca de 85% do total, segundo Cappellano.

“Não temos planejamento para aumentar a capacidade [em Betim], nosso foco é produtos e eficiência. Não vamos crescer a não ser que descubramos que é necessário.”

Hoje, são produzidos sete modelos do grupo no complexo, sendo da Fiat: Mobi, Argo, Pulse e Fastback, além da picape Strada. Também são montados os veículos comerciais Fiorino (Fiat) e Partner (Peugeot). A unidade abriga ainda as áreas de tecnologia e desenvolvimento, com mais de 2.000 engenheiros.

Transição para a eletrificação

Cappellano confirmou nesta segunda-feira que a Stellantis terá, ainda este ano, o primeiro carro bio-hybrid produzido no Brasil, entretanto, guardou segredo sobre qual planta fabril deverá receber o modelo. “Mas podemos afirmar que vamos ter plataformas novas em todas as plantas.”

Ele reforçou que a escolha dos produtos eletrificados para produção local dependerá, no futuro, de como a demanda vai se desenrolar no país.

“Hoje, claramente enxergamos desejo e uma necessidade muito consistente [por carros eletrificados]. A demanda está caminhando cada dia mais para híbridos e soluções mais limpas.”

Nova marca chinesa

Na semana passada, foi anunciada globalmente uma joint venture (51/49) liderada pela Stellantis com a chinesa Leapmotor para a criação da Leapmotor International, com o objetivo de levar a marca asiática para diversos mercados, incluindo o Brasil. A parceria dará direito à Stellantis de vender e produzir os carros da montadora chinesa em outros países, exceto em sua terra natal.

Em outubro de 2023, a Stellantis anunciou um investimento de 1,5 bilhão de euros para adquirir uma fatia de aproximadamente 21% do capital da Leapmotor, considerada uma das principais startups de veículos elétricos da China.

Conforme o comunicado, a oferta de produtos elétricos da Leapmotor International é considerada “complementar” ao portfólio de marcas da Stellantis, aproveitando os canais de distribuição do grupo.

O plano de lançamento da nova empresa terá início na Europa, a partir de setembro. No final deste ano, o lançamento de produtos da Leapmotor será expandido para América do Sul (Brasil e Chile), Oriente Médio, África, Índia e a região Ásia-Pacífico.

Segundo Cappellano, o planejamento estratégico do grupo no Brasil e na América do Sul continua o mesmo.

Leia mais: Como engenheiros do Brasil se tornaram chave para Stellantis se manter competitiva

“Quando foi apresentada a oportunidade de trazer a Leapmotor para a América do Sul, enxergamos a possibilidade de ter uma marca complementar do ponto de vista de posicionamento, tecnologia e acessibilidade, que não estavam diretamente disponíveis no nosso cardápio”, disse.

“Enxergamos a Leapmotor como a cereja do bolo, não vai mudar nossa estratégia na região, é a oportunidade de termos algo interessante para uma demanda nova que está surgindo”, acrescentou.

O executivo ressaltou que a América do Sul tem várias áreas interessantes do ponto de vista de mercado que estão crescendo.

“Alguns países estão apostando mais no elétrico, outros ficam com motores mais tradicionais. Nosso esforço é atender toda demanda dos países, utilizando nosso line up de carros produzidos no Brasil e, em alguns casos específicos, importando onde o volume não permite produção local.”

Sobre a região, Cappellano se mostrou otimista. No consolidado do primeiro trimestre do ano, o grupo afirma que o market share da Stellantis na América do Sul foi de 23,4%. No Brasil, foram 30,3% e, na Argentina, 33,9%. “O mercado vem crescendo muito na região”, afirmou.