De marca de cosméticos a saúde mental: como Selena Gomez se tornou bilionária

Cantora e atriz de 32 anos chega a um patrimônio de US$ 1,3 bilhão, segundo o Bloomberg Billionaires Index, com impulso da Rare Beaulty e um plano que busca engajamento genuíno de fãs

Selena Gomez
Por Diana Li
06 de Setembro, 2024 | 01:33 PM

Bloomberg — Na nova temporada de Only Murders in the Building, o podcast de sucesso dos protagonistas está sendo transformado em um filme. Na vida real, a atriz principal, Selena Gomez, tem avançado na construção de seu próprio império - só que muito maior.

Gomez ganhou fama ainda criança no Disney Channel, iniciou uma carreira musical, criou sua própria marca de beleza e agora atua na série da Hulu indicada ao Emmy. Nesse processo, ela construiu uma fortuna que a tornou uma das bilionárias mais jovens dos Estados Unidos, aos 32 anos.

PUBLICIDADE

Gomez tem um patrimônio de US$ 1,3 bilhão, segundo o Bloomberg Billionaires Index, em sua estreia na lista seleta.

Diferentemente de sua amiga próxima Taylor Swift - que atingiu o status de bilionária principalmente com sua música e turnês ,- a atriz, cantora e empreendedora acumulou riqueza a partir de uma combinação de negócios que aproveitam seu talento e seus milhões de seguidores nas redes sociais.

Leia mais: Como Selena Gomez pretende ampliar o alcance de sua startup de saúde mental

PUBLICIDADE

“Selena não é apenas uma estrela pop”, disse Stacy Jones, fundadora e CEO da agência de branding Hollywood Branded, de Los Angeles. “Ela é uma empresária multifacetada com diversas fontes de renda que contribuem para seu impressionante patrimônio.”

A maior parte da riqueza de Gomez vem da Rare Beauty Brands, a linha de maquiagem que ela criou há cinco anos e que se tornou um sucesso entre influenciadores e adolescentes apaixonados por cosméticos. Ela também tem parcerias com marcas, contratos de atuação e uma startup voltada para a saúde mental, o que deve garantir a longevidade de sua riqueza caso ela decida se afastar dos holofotes.

Brent Saunders, CEO da empresa de cuidados para os olhos Bausch + Lomb e investidor da startup Wondermind de Gomez, apontou um fator-chave para o sucesso dela: autenticidade.

PUBLICIDADE
Rare Beauty

“Ela é um verdadeiro exemplo de como uma celebridade pode usar sua influência e conhecimento para fazer o bem e criar um bom negócio”, disse Saunders. “Selena personifica isso.”

Os representantes de Gomez não responderam aos pedidos de comentários da Bloomberg News.

A análise de patrimônio da Bloomberg considerou o valor estimado de sua participação na Rare Beauty, na Wondermind, o valor estimado de suas vendas de álbuns e propriedades, além dos ganhos com acordos de streaming, parcerias de marcas, ingressos de shows e atuação.

PUBLICIDADE

A análise considerou o valor mais baixo estimado de suas participações em empresas e baseou-se apenas em ativos que puderam ser confirmados ou rastreados a partir de números divulgados publicamente.

Selena Gomez

Estrela na infância

Quando criança, Gomez começou sua carreira sob os holofotes como parte do elenco de Barney & Friends. Em seguida, protagonizou Os Feiticeiros de Waverly Place, do Disney Channel, de 2007 a 2012. O programa foi um sucesso que rendeu à então adolescente cerca de US$ 3 milhões no total.

Mas ela realmente explodiu na mídia quando iniciou sua carreira musical, primeiro com a banda pop-rock Selena Gomez & the Scene e depois como artista solo.

Com três álbuns de estúdio e 44 singles, ela venceu o American Music Award de Artista Feminina de Pop/Rock Favorita em 2016 e foi indicada a dois prêmios Grammy. Sua carreira de atriz também cresceu, com papéis em filmes como Um Dia de Chuva em Nova York e Spring Breakers.

Nesse processo, Gomez também alcançou enorme sucesso nas redes sociais: com 424 milhões de seguidores, ela está atrás apenas dos astros do futebol Cristiano Ronaldo e Lionel Messi como a pessoa mais popular no Instagram.

Isso a tornou poderosa o suficiente para não apenas promover sua própria marca mas também marcas globais importantes, como a Puma, que a contratou para um acordo de dois anos no valor de US$ 30 milhões em 2017. Gomez também ganhou US$ 10 milhões ao ser escolhida como rosto da Coach em 2016, e teve um contrato de US$ 10 milhões com a Louis Vuitton.

Embora a música a tenha tornado particularmente popular, ela é uma fonte relativamente pequena de sua riqueza. Diferentemente de Swift, Gomez não é conhecida como compositora e é paga principalmente por royalties de performance. Ela potencialmente dobraria seus ganhos com música se escrevesse suas próprias canções, disse Jones.

Leia mais: Taylor Swift é vítima de IA em novo álbum e evidencia riscos na criação musical

As turnês musicais representaram menos de 5% da riqueza de Gomez, com as vendas de álbuns e discos somando menos de 2%. Ela não faz turnês desde 2016, quando cancelou abruptamente sua turnê “Revival” após 55 shows, citando problemas de saúde mental. Ainda assim, a turnê arrecadou mais de US$ 30 milhões em vendas de ingressos.

“É inteligente da parte dela ter criado uma carreira que não depende tanto da música como uma grande parte dos ganhos financeiros”, disse Carolyn Sloane, professora da Escola de Políticas Públicas Harris da Universidade de Chicago.

Sucesso da Rare Beauty

A maior parte da fortuna de Gomez — cerca de US$ 1,1 bilhão — vem de sua participação na Rare Beauty, que ela manteve amplamente independente.

Os únicos investidores conhecidos são a New Theory Ventures, de Nikki Eslami, e o CEO Scott Friedman, que anteriormente liderou a Nyx Cosmetics e a vendeu para a L’Oréal por US$ 500 milhões em 2014.

A análise da Bloomberg assume que Gomez possui uma participação majoritária de 51% com base em seu papel de fundadora da empresa.

Em março, a Bloomberg noticiou que Gomez contratou consultores para avaliar a venda da Rare Beauty por US$ 2 bilhões, embora ela tenha dito mais tarde à revista Time que não tem planos de vender a companhia.

Gomez e sua equipe lançaram a marca em 2020, promovendo-a como uma linha de maquiagem simples e de preço moderado.

‘Muito além de um nome’

“Eu realmente me esforcei ao máximo para criar um produto que fosse além de apenas colocar meu nome em algo”, disse ela em uma entrevista de rádio em 2023. “Eu queria que os produtos fossem ótimos, e também queria que a mensagem fosse que a maquiagem é para ser divertida.”

Gomez usou sua própria influência para criar um burburinho nas redes sociais em torno dos produtos. Nos primeiros meses após o lançamento da Rare, ela gravou horas de si mesma fazendo maquiagem para um de seus programas de TV, a série culinária Selena + Chef.

Leia mais: Além do digital: por que esta influencer decidiu abrir uma loja nos Jardins

Sua equipe então editou essas sessões em clipes que muitas vezes não duram mais que um minuto. Outros trechos mostram Gomez no TikTok comentando sobre os produtos da Rare.

A receita anual da Rare atingiu US$ 350 milhões no ano passado, segundo a Pitchbook, superando outras marcas criadas por celebridades, como a Honest, de Jessica Alba, e a Haus Labs, de Lady Gaga.

Gomez, que tem falado abertamente sobre seu histórico com o transtorno bipolar, compromete-se a doar 1% de todas as vendas da Rare Beauty para o Rare Impact Fund, que apoia serviços e educação em saúde mental. Esse tipo de “causa nobre” torna ainda mais atraente para os fãs apoiarem a empresa, disse Jones.

“Eu tenho muito respeito pelo que Selena e sua equipe construíram com a Rare Beauty em tão pouco tempo”, disse Saunders, investidor da Wondermind. A combinação de apoio de celebridades, uma missão baseada em causas e produtos de qualidade é “uma mistura muito boa para o sucesso”, disse ele

Quando Saunders conheceu Gomez pela primeira vez para falar sobre investir na Wondermind no clube privado Zero Bond, em Nova York, ele disse que não parecia uma proposta de negócios. “Eu não estava pedindo projeções ou retorno sobre o investimento. Nós realmente falamos sobre trazer mais conscientização e fazer as pessoas se sentirem menos sozinhas.”

Gomez cofundou a Wondermind com sua mãe, a produtora de Hollywood Mandy Teefey, e Daniella Pierson, fundadora do boletim informativo de cultura pop The Newsette.

A plataforma - que inclui ferramentas de saúde mental, entrevistas e uma newsletter - foi avaliada em US$ 100 milhões em 2022. Atraiu investimentos da Lightspeed Venture Partners, da Sequoia Capital e do fundo de investimentos da ex-tenista Serena Williams, o Serena Ventures.

Leia mais: Por que o ‘índice do batom’ pode não ser confiável para sinalizar recessão desta vez

Gomez está atualmente em destaque por seu papel como Mabel Mora em Only Murders in the Building, que co-estrela com Steve Martin e Martin Short e lançou a quarta temporada em 27 de agosto.

Ela ganha pelo menos US$ 6 milhões por temporada e concorre ao prêmio Emmy de Melhor Atriz em Série de Comédia, que será entregue ainda neste mês, no dia 14.

A estrela não revelou planos específicos sobre música e novos programas, mas expressou sua inclinação pela atuação em um episódio de janeiro do podcast SmartLess: “eu sinto que ainda tenho mais um álbum em mim”, disse ela. “Mas eu provavelmente escolheria a atuação.”

Quanto à Rare Beauty, valuations mais elevados podem ser temporários e o vínculo com celebridades não é garantia de sucesso duradouro. Consumidores podem ser volúveis, e muitas marcas ligadas a pessoas famosas fracassaram após um bom começo.

No ano passado, Kristen Bell fechou sua linha de cuidados com a pele. A Sephora parou de vender as marcas das celebridades do TikTok Addison Rae e Hyram Yarbro.

Ariana Grande pagou US$ 15 milhões para comprar os ativos físicos de sua empresa, a r.e.m. beauty, da Forma Brands, cuja grande aposta em influenciadores famosos deu errado e levou à quebra. Para Gomez, diversificar seus negócios em várias áreas pode prepará-la melhor para o futuro, disse Sloane.

“O que ela está fazendo é bem inteligente”, disse ela. “Houve essa grande mudança ao longo de sua carreira em direção ao que se encaixa mais autenticamente, o que acabou se traduzindo em melhores decisões de investimento.”

Veja mais em Bloomberg.com