Porto do Açu, no Rio, vê aumento da demanda com a escalada da guerra comercial

Em entrevista à Bloomberg News, diretor de logística João Braz diz que o porto está em posição ‘muito boa’ para se beneficiar dos maiores embarques de produtos minerais e agrícolas

Porto do Açu
Por Peter Millard - Dayanne Sousa
08 de Abril, 2025 | 08:13 AM

Bloomberg — A guerra comercial de Donald Trump pode ter esmagado os preços globais das commodities, mas é uma boa notícia para um dos maiores portos do Brasil, que está observando um aumento nos volumes de exportação.

O Porto do Açu, no estado do Rio de Janeiro, o principal porto de exportação de petróleo do país, já estava investindo em capacidade extra para ajudar a resolver os gargalos comerciais na agricultura e nos minerais.

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As distorções induzidas pelas tarifas no comércio global agora proporcionan um impulso adicional.

“Quando as ameaças começaram, a demanda começou a aumentar”, disse João Braz, diretor de logística do porto, em uma entrevista à Bloomberg News. “Estamos em uma posição muito boa aqui.”

Os ganhos destacam a rapidez com que outras nações podem aproveitar as oportunidades à medida que os EUA e a China se envolvem em um confronto comercial.

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Na semana passada, a China disse que planejava responder à tarifa de 34% imposta por Trump sobre seus produtos com uma tarifa igual. Tal medida poderia dar aos exportadores brasileiros uma vantagem única para roubar participação no mercado.

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O Brasil é o maior parceiro comercial da China e disputa com os EUA a supremacia nos mercados globais de exportação agrícola.

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O país sul-americano também é o maior produtor de petróleo da região e um dos maiores exportadores mundiais de minério de ferro, que é usado para fabricar aço.

O governo Trump disse em fevereiro que planejava impor uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio para os EUA.

Naquele momento, a Porto do Açu viu um aumento na demanda por ferro-gusa, uma matéria-prima usada pelas siderúrgicas americanas, segundo Braz.

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As exportações de ferro-gusa da Porto do Açu no primeiro trimestre foram 50% maiores do que em todo o ano de 2024, disse ele.

O Brasil está particularmente bem posicionado para superar os EUA no mercado de soja. O Brasil é o maior produtor da safra, e a Agroconsult, uma consultoria independente, espera que a produção doméstica atinja um recorde de 171,3 milhões de toneladas este ano, devido ao clima favorável e à expansão das áreas plantadas.

Novos dados sugerem que os embarques em outras categorias estão ganhando com os eventos globais.

As exportações brasileiras de aves frescas e processadas atingiram 476.000 toneladas em março, informou o grupo da indústria ABPA na segunda-feira, um aumento de 19% em relação ao ano anterior.

Os embarques de aves para a China aumentaram na mesma proporção, enquanto as exportações de carne bovina subiram 20%.

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No entanto, os agricultores brasileiros estão constantemente cultivando mais soja do que as ferrovias e os portos do país podem suportar. “Há um grande engarrafamento nas duas pontas”, disse o diretor executivo do Porto do Açu, Eugenio Figueiredo, em uma entrevista.

O Porto do Açu lida com exportações agrícolas em um terminal multiuso conhecido como T-Mult e planeja dobrar a capacidade anual para 5 milhões de toneladas nos próximos anos.

O porto está dragando o canal em frente ao T-Mult para que dois navios Panamax possam ser carregados simultaneamente.

(Foto: Dado Galdieri/ Bloomberg)

Por enquanto, pelo menos, o porto diz que os clientes estão estocando soja em suas instalações, sendo que a maior parte do estoque será destinada à China.

A falta de contêineres também está direcionando os negócios para o Porto do Açu. O ataque à navegação comercial por militantes houthis apoiados pelo Irã no Mar Vermelho diminuiu o fluxo de contêineres usados pelos exportadores de café, por exemplo.

O Brasil é o maior embarcador de café e alguns vendedores estão atualmente embalando os grãos em sacos superdimensionados no Porto do Açu para evitar longas esperas em outros portos.

O porto começou a enviar grandes sacas de café em 2024 e espera um aumento nos volumes este ano. Ele também planeja começar a lidar com embarques de açúcar.

“Os clientes precisam de uma alternativa”, disse Braz. “O sistema está estrangulado”.

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