De Senna a Cem Anos de Solidão: a estratégia da Netflix na América Latina

Adaptação de romance de Gabriel García Márquez e documentário sobre o ex-piloto de Fórmula 1 são algumas das produções que o gigante de streaming prepara para a região

A empresa tem quase 270 milhões de assinantes em todo o mundo (Foto: Robyn Beck/AFP via Getty Images)
Por Emily Chang
24 de Abril, 2024 | 05:08 PM

Bloomberg — No meio de vastos campos agrícolas, a seis horas de carro de Bogotá, na Colômbia, encontra-se o coração da maior produção da Netflix (NFLX) já realizada na América Latina.

Ela estende-se por 54 quilômetros quadrados de cenários, tendas e palcos, incluindo uma réplica da cidade fictícia de Macondo, cenário da obra-prima de Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão.

A Netflix está adaptando o romance para o cinema pela primeira vez, uma produção estimada em US$ 50 milhões, e lançou um trailer que dá uma ideia do que está por vir.

“Nos últimos anos, a Netflix vem se arriscando de uma maneira muito boa”, disse Alex Garcia Lopez, uma das diretores, que falou à Bloomberg Originals sobre a produção.

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Cem Anos de Solidão é apenas uma das várias produções locais da Netflix na América Latina. No Brasil, a gigante do streaming produz um documentário sobre o lendário piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna. Na Argentina, há a adaptação de O Eternauta, uma popular graphic novel de ficção científica. E, no México, a empresa está filmando o filme Pedro Páramo, baseado em outro livro icônico.

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Pode parecer que a Netflix busca a próxima Round 6, série de drama que colocou a Coreia do Sul no centro da expansão global da empresa. Mas os executivos insistem que a prioridade não é um sucesso global, mas sim um sucesso local que conquista os corações e mentes do público.

“Se algo que fazemos em um mercado específico não é extraordinariamente especial e bem-sucedido para a população desse país, então de alguma forma falhamos criativamente”, diz Francisco Ramos, responsável pelo conteúdo da Netflix na América Latina. “Também aprendemos que quanto mais precisa e bem-sucedida é uma produção local, mais sucesso ela faz fora do território de origem.”

A Netflix expandiu-se pela primeira vez para a América Latina em 2011, quando começou a procurar novos espectadores fora dos Estados Unidos. Estabeleceu sua sede para a região na Cidade do México em 2015 e começou a contratar funcionários.

Um de seus primeiros sucessos em espanhol foi a “dramédia” Club de Cuervos, filmado no México e lançado pela primeira vez em 2015. No mesmo ano foi lançada a série Narcos sobre o tráfico de drogas na Colômbia. Embora seja um grande sucesso fora da Colômbia, alguns colombianos sentiram que a série perpetuava estereótipos injustos.

Dito isso, muitos residentes entrevistados estavam entusiasmados com Cem Anos de Solidão, uma das histórias mais aclamadas da região. García Márquez é considerado um dos maiores escritores do século 20 e um ícone colombiano. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1982, com base principalmente no fato de ter escrito Cem Anos de Solidão. O autor morreu em 2014 na Cidade do México.

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A Netflix atrai espectadores de todo o mundo, mas seu maior público não explorado está fora dos EUA. Mesmo para a Netflix, que tem quase 270 milhões de assinantes globalmente, a busca por mais espectadores nunca para. A empresa adicionou mais 9,33 milhões de assinantes no primeiro trimestre, embora os ganhos sejam menores no período atual.

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Na América Latina, a oportunidade abrange 700 milhões de espectadores, mas há uma forte concorrência de redes locais como a Globo e a TelevisaUnivision, além, é claro de rivais nos EUA como o Max, da Warner Bros. Discovery (WBD), o Disney+ da Walt Disney (DIS), o Apple TV+ da Apple (AAPL) e o Prime Video da Amazon (AMZN), que tentam diminuir a vantagem da Netflix.

Parte dessa vantagem se deve aos maiores investimentos da Netflix em conteúdo estrangeiro, não apenas na América Latina e na Coreia do Sul, mas também na Europa, com sucessos como The Crown e Lupin.

Bela Bajaria, responsável pelo conteúdo da Netflix globalmente, diz que as redes e estúdios historicamente focaram muito no público doméstico. “Somos um serviço global”, diz Bajaria. “O objetivo é investir em narrativas locais e sem um ‘viés ocidental’.”

Mas há um famoso ditado no show business: “Ninguém sabe de nada”. Mesmo na era dos algoritmos, o sucesso nunca é garantido.

– Com a colaboração de Alan Jeffries, Lauren Ellis e Lucas Shaw.

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