Bloomberg Línea — Com R$ 140 bilhões em ativos sob gestão, o Pátria Investimentos busca oportunidades para crescer no setor de infraestrutura e energia na América Latina. Além do Brasil, o grupo está analisando projetos principalmente na Colômbia, no Peru, no Chile e no México.
“Vamos buscar oportunidades fora do Brasil. Geralmente, olhamos para países onde os contratos são respeitados, o ambiente regulatório é estruturado e há um pipeline de projetos razoável”, disse o sócio e head do setor de logística e transporte do Pátria, Roberto Cerdeira, à Bloomberg Línea.
O racional por trás dos negócios de infraestrutura e energia do Pátria em outros países envolve basicamente estruturar uma equipe local – apoiada por um grupo brasileiro – para buscar oportunidades.
O ponto em comum entre os países que recebem investimentos do grupo é o ambiente de negócios. “São países com regulação sólida e regras claras para contratos de longo prazo”, afirmou o sócio e head do setor de energia do Pátria Investimentos, Marcelo Souza.
Hoje, os executivos apontam a Colômbia como um destino promissor. Em rodovias, por exemplo, Cerdeira destacou que o país vizinho já está em seu quinto programa de concessões. “O setor de rodovias colombiano é maduro, com um longo histórico de respeito a contratos e um órgão regulador estruturado e técnico”, afirmou.
Ele acrescentou que a tendência é que a qualidade dos contratos melhore ao longo do tempo. “Com o passar dos anos, cláusulas de resolução de conflitos e mecanismos de proteção contra inflação e perda cambial vão sendo criados.”
Há outros destinos avaliados. “O México é um país em que ainda não estamos [atuando]. Até fizemos alguns investimentos na área de private equity, mas devemos olhar também o setor de infraestrutura”, contou Cerdeira.
De forma geral, o executivo relatou que o braço de infraestrutura do Pátria vai continuar investindo no Peru, no Chile, na Colômbia, no Uruguai e, principalmente, no Brasil. “O Brasil é o maior país da América Latina, vai sempre ser o principal destino dos nossos investimentos no setor.”
Em agosto, o Pátria arrematou seu mais recente grande ativo em infraestrutura, o lote 1 do pacote de rodovias do Paraná. O contrato é de 30 anos e os investimentos mínimos são da ordem de R$ 7,9 bilhões. “Estudamos o ativo por mais de dois anos e chegamos muito preparados para o leilão”, afirmou Cerdeira.
A primeira rodovia conquistada pelo Pátria em leilão foi a Entrevias, no interior de São Paulo, em 2017, enquanto a estreia do grupo em rodovias no exterior foi em 2021, ao arrematar dois ativos na Colômbia. Atualmente, o Pátria tem cerca de 4.000 quilômetros de rodovias em operação.
Em infraestrutura, o grupo tem entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões em ativos sob gestão. Além de rodovias, os setores ligados à logística estão no radar do grupo, como portos e transporte fluvial de cargas. A Hidrovias do Brasil, por exemplo, referência no segmento de cabotagem, é uma das investidas do Pátria.
Telecomunicações e saneamento também são setores em que o grupo aposta para continuar a crescer na região. “No Brasil, 40% dos resíduos ainda são destinados para lixões. Temos muitas oportunidades de crescimento não só no país mas em toda a América Latina.”
Energia e renováveis
Souza relatou que o Pátria cresce de maneira significativa no mercado de energia elétrica. Além do segmento de transmissão, em que o grupo investe no Brasil desde meados de 2016, usinas térmicas a gás natural e geração distribuída também são focos de investimentos, e não só no país.
“A indústria renovável está nascendo na Colômbia, tem muita demanda por energia e vontade de viabilizar projetos. Vai ser uma nova fronteira de crescimento”, afirmou o executivo.
Ele contou que o mandato dos fundos de energia do grupo é voltado para toda a América Latina. No setor, o investimento mais relevante fora do Brasil foi feito no Chile e no Peru, em projetos de energia eólica e pequenas centrais hidrelétricas. “Também estamos buscando novos investimentos na Colômbia.”
O Pátria está em negociação para desenvolver 600 megawatts (MW) em projetos solares no país vizinho e as obras devem começar ao longo dos próximos meses.
Souza ressaltou que a gestora segue monitorando leilões na região, inclusive na América Central. “Alguns países têm marco regulatório interessante, como Panamá, República Dominicana e México.”
Principal mercado
O Brasil continua sendo o principal destaque para o Pátria em infraestrutura, especialmente em energias renováveis. A gestora fundou em 2020 a Essentia Energia, voltada para o segmento, com uma base de ativos de aproximadamente R$ 3 bilhões. Os dois parques em desenvolvimento pela companhia terão capacidade produtiva de 900 megawatts.
“[Energia] renovável já é competitiva no mundo todo. O custo médio para viabilizar esse tipo de projeto está cada vez mais baixo”, apontou Souza.
O executivo acrescentou que o Brasil evoluiu muito na disponibilidade de fontes de financiamentos no setor. “Há 20 anos, tínhamos o BNDES e eventualmente alguns bancos [de fomento] regionais. Hoje, temos o mercado de capitais financiando muito mais esses projetos através das debêntures incentivadas, ou mesmo os [bancos] multilaterais atuando mais fortemente no setor”, observou.
Eletrificação de frotas é tese estudada
Ele ressaltou que o objetivo permanente do grupo é desenvolver projetos novos em infraestrutura, desde que o Pátria tenha o controle dos ativos. “Somos controladores para garantir disciplina técnica. Pontualmente, podemos comprar participação minoritária, mas é pouco provável.”
Um exemplo de novos negócios avaliados pelo grupo é a eletrificação de frotas. “Uma tese que estamos estudando no Brasil é da a eletrificação da frota. Grandes indústrias precisam de uma solução completa e um player como o Pátria pode oferecer essa solução, que vai além da infraestrutura de carregamento dos veículos”, disse Souza.
Para o sócio da gestora, a matriz energética global vai se tornar cada vez menos dependente dos combustíveis fósseis. “A transição energética vai acontecer, é irreversível no mundo inteiro.”
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