Bloomberg Línea — Nascida do spinoff de uma centenária empresa do ramo de construção civil, a Azevedo & Travassos Energia (ATE) começa a acelerar a expansão no mercado de óleo & gás.
Com uma produção ainda reduzida em campos terrestres (onshore), a companhia planeja expandir as operações por meio de aquisições (M&A) e até da exploração de novos campos, negócio que historicamente se restringiu às grandes petroleiras.
Na última sexta-feira (14), a companhia de óleo & gás concluiu a sua listagem na B3 sob o ticker AZTE3. A Azevedo & Travassos SA segue com o ticker AZEV4.
A empresa “mãe”, fundada em 1922, originalmente atuou como uma prestadora de serviços de engenharia e construção; na década de 1980, o grupo resolveu investir na produção e na exploração de campos de petróleo - e chegou a descobrir campos no Rio Grande do Norte. Em meados dos anos 2000, porém, a empresa foi vendida.
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Foi somente duas décadas mais tarde, em 2023, que executivos do grupo identificaram a oportunidade de voltar ao setor como uma empresa independente.
Segundo o CEO da Azevedo & Travassos Energia, Ivan Carvalho, apesar dos atuais volumes menores de produção, a companhia tem planos ambiciosos. “Estar entre as maiores operadoras independentes do país é uma meta”, afirmou o executivo à Bloomberg Línea.
A Azevedo & Travassos Energia possui contratos de concessão em campos e blocos exploratórios, além de parcerias comerciais voltadas para o desenvolvimento da produção de óleo e gás terrestre na Bacia Potiguar, com foco na região de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
No começo deste mês, no último dia 7, a empresa celebrou com a Brava Energia (BRAV3) - nome do grupo resultante da fusão da 3R com a Enauta - um contrato de compra de 13 concessões na Bacia Potiguar por US$ 15 milhões, em parceria com a PetroVictory. Os ativos incluem os polos terrestres Porto Carão e Barrinha.
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Os campos possuem cerca de 125 milhões de barris de óleo e produziram, em média, 253 barris de óleo equivalente por dia (boed) em 2024.
Com a aquisição, a Azevedo & Travassos Energia passou a acumular 22 campos produtores.
O caminho para se posicionar entre as líderes entre operadoras independentes será marcado por desafios.
Trata-se de um mercado com empresas que se destacam como a Prio (ex-PetroRio), que produz em média 70.000 barris por dia (segundo dados do balanço do terceiro trimestre de 2024), e a própria Brava, que soma uma produção diária média de 58.000 barris.
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A meta da Azevedo & Travassos Energia, segundo o presidente do conselho de administração, Gabriel Freire, é atingir uma produção diária de 10.000 barris por dia no longo prazo.
“Não dá para pensar nisso em menos de cinco anos, porque depende de fatores exógenos. Crescimento inorgânico depende da vontade do outro de vender. Mas acredito que, com um pouco de sorte e fazendo um bom trabalho internamente, é possível atingir essa meta”, disse o executivo.
Ele acrescentou que a produção da companhia pode alcançar 2.500 barris por dia nos próximos três anos. “Temos planos de crescer por meio de aquisição de empresas ou ativos, mas também temos outro viés da tese de crescimento que é a exploração de novos campos.”
Segundo o executivo, por conceito, as junior oils nasceram a partir da compra de campos maduros de petroleiras exploradoras como a Petrobras (PETR3, PETR4). “Na Azevedo, excepcionalmente, conseguimos trazer a tese exploratória dentro de algo conhecido, que é a região do Rio Grande do Norte”, afirmou.
A exploração ocorrerá por meio de uma parceria com a PetroVictory, que há alguns anos adquiriu os últimos campos ainda não desenvolvidos da região. Freire destacou que a fase exploratória é a que apresenta mais riscos, dado que os investimentos são vultosos e, o retorno, incerto.
“Vamos trazer ao acionista uma oportunidade que nenhuma outra junior oil oferece, que é a exploração [de campos] de petróleo. Acredito que teremos um grande sucesso nesse plano de expansão.”
Apesar do planejamento no segmento, o executivo disse que a ATE não tem ambição de se tornar uma companhia exploradora de óleo e gás. Ele lembrou que as chamadas majors são todas exploradoras e que o valor delas está nas descobertas de novos campos.
“A petroleira existe para isso, para criar novas fronteiras. Nascemos com a vontade de nos tornarmos centenária como nossa empresa ‘mãe’, e isso leva obrigatoriamente a companhia a se tornar exploradora também”, contextualizou.
“O Brasil tem muitas oportunidades de exploração em campos onshore”, acrescentou.
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Preço do barril
A ATE trabalha com um preço médio do Brent na casa dos US$ 60 ao longo dos próximos três anos. Segundo Freire, a cadeia de fornecedores de óleo e gás está aquecida, diante da demanda também em alta. No segmento de junior oils, o cenário não é diferente, ressaltou.
“Hoje existe um mercado de prestação de serviços para junior oils bem estruturado. Por termos uma produção ainda incipiente, as soluções de manutenção e de continuidade da produção ainda são muito verticalizadas e dependem mais da força de trabalho que construímos dentro da Azevedo”, disse
Ele afirmou que a operação da companhia permite acompanhar de perto de investimentos (capex e opex) a compra de materiais e reformas. E acrescentou que o objetivo principal é reduzir ao máximo o custo operacional médio para extrair um barril de petróleo, o chamado lifting cost.
Segundo dados reportados pela Brava, o custo de extração nos campos comprados pela ATE giram em torno de US$ 20. “Nosso objetivo é reduzir esse custo pela metade.”
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Com o aumento contínuo da produção, o executivo disse que o modelo de grande verticalização começa a perder o custo-benefício. “Não se trata de uma matemática exata, mas acredito que conseguimos ter esse modelo de operação até o ramp up da produção de 5.000 barris”, disse.
A Azevedo & Travassos Energia não abriu o valor de investimentos, mas Freire explicou que a companhia vai investir preferencialmente com recursos captados via dívida. Segundo ele, a empresa nasce com alavancagem zero, uma vez que todo o investimento veio da “empresa mãe”, via equity.
“Essa é outra vantagem da empresa. Temos um ativo que é uma commodity, com grande longevidade, o que traz muita segurança financeira para que a empresa consiga estruturar dívidas de longo prazo a um custo muito baixo.”
Ele disse que a curva de juros brasileira está “proibitiva”. Nesse contexto, o plano da companhia é captar recursos no exterior. “Temos um enorme espaço no balanço para novas aquisições.”
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