Da Aegea à Iguá: novas tecnologias reduzem perdas e levam eficiência ao saneamento

Grandes empresas privadas apostam em inovações como uso de satélites para identificar pontos de vazamento, em política apontada como necessária para ampliar o acesso ao serviço

operação da Aegea
08 de Janeiro, 2025 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — Uma tecnologia empregada para detectar a presença de água em Marte agora mapeia possíveis pontos de vazamento na rede de saneamento da cidade do Rio de Janeiro.

O processo envolve imagens feitas por um satélite israelense, que escaneia com precisão o subsolo e, com uso de softwares inteligentes, identifica resíduos de cloro – o que pode indicar eventuais vazamentos. A partir da análise dos dados, a concessionária responsável pela operação, a Aegea, envia uma equipe ao local para confirmar se há necessidade de realizar reparos.

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“Só na capital fluminense, foram identificados mais de 2.700 pontos de investigação”, afirmou o diretor de novos negócios de águas industriais da Aegea, Rafael Rossi, à Bloomberg Línea.

Segundo o executivo, a tecnologia evita que equipes sejam deslocadas desnecessariamente, o que se traduz em redução de custo e otimização das operações. A companhia atende, hoje, mais de 30 milhões de pessoas em 15 estados.

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Segundo o coordenador técnico da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Romário Júnior, o setor tem avançado no uso de novas tecnologias, com destaque para Internet das Coisas (IoT) e Business Intelligence (BI).

Ele afirmou que equipamentos de medição inteligente, como hidrômetros com leitura remota, têm reduzido as perdas de água, combatido fraudes e melhorado o relacionamento com os clientes. “Além de gerar ganhos operacionais e ambientais”, destacou.

A Iguá Saneamento, que detém oito operações em quase 130 municípios, por sua vez, tem implantado medidores inteligentes em hidrômetros para transmitir a leitura do consumo de água diariamente, e não apenas uma vez por mês. O dispositivo é especialmente útil para clientes comerciais e industriais, segundo explicou o diretor de operações do grupo, Murillo Borges.

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Atualmente, cerca de 4,5% dos clientes da Iguá têm hidrômetros com essa tecnologia instalada. E mais de 40% do volume total de água fornecido pelo grupo já opera com esse dispositivo.

“Ainda não conseguimos reduzir custos porque precisamos manter os ‘leituristas’, pois muitos clientes querem a conta em papel”, afirmou Borges. Segundo o executivo, para a operação se tornar totalmente digital, isso vai demandar uma mudança geracional do ponto de vista dos clientes.

As novas tecnologias de hidrômetros da Iguá também permitem realizar a suspensão do abastecimento de água de forma remota em caso de inadimplência. “Esse tipo de tecnologia é algo transformacional no setor”, disse Borges.

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A IoT nos hidrômetros permite ainda que dados anormais de consumo gerem um alerta ao cliente sobre possíveis vazamentos. Do lado da concessionária, esses movimentos atípicos sinalizam com mais velocidade possíveis vazamentos nas operações, reduzindo as perdas.

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Em projetos-piloto em Cuiabá, no Mato Grosso, e em Paranaguá, no Paraná, a implantação da tecnologia resultou em redução de perdas de 180 mil litros de água em um mês. “Nosso processo é começar com pilotos e estender a implantação diante de resultados positivos”, explicou Borges.

A Iguá criou uma divisão dedicada ao desenvolvimento e à implantação de novas tecnologias nas operações, batizada de Fluxx.

“As metas do novo marco do saneamento são arrojadas e a Iguá não enxerga como cumpri-las sem a adoção de tecnologias”, disse Borges, que é diretor de operações da Fluxx.

Segundo o gerente-executivo de engenharia da Aegea, Moisés Salvino, as empresas do setor só vão atingir a universalização em 2033 por meio do aumento de ganho de eficiência.

“Temos consciência do grande desafio do setor de saneamento, pois há muito a ser feito. A universalização é uma etapa importante para o Brasil e a performance operacional é o que temos que respirar no dia a dia”, disse.

Ele acrescentou que as ações para atingir as metas do novo marco, como a redução de perdas, vão sendo aos poucos multiplicadas para as diversas concessões da companhia. “Temos investido fortemente nessas novas tecnologias e algumas estamos desenvolvendo dentro de casa.”

O executivo ressaltou que a Aegea tem avançado com a instrumentalização, colocando sensores e equipamentos de redução de pressão para controlar o sistema de forma mais automatizada. “Antigamente, tudo isso era feito por operadores. Hoje, temos atuado com muito mais automação e tecnologias embarcadas, contribuindo para a redução de perdas.”

Em sua visão, entretanto, esse é um processo gradual e que levará tempo, dado que os serviços de saneamento no Brasil são amplamente desiguais, com operações ainda pouco automatizadas em diversas localidades. “Temos muitos ‘Brasis’ dentro do Brasil”, observou.

Universalização e investimentos

Os investimentos previstos para alcançar a universalização dos serviços de água e esgoto até 2033 – exigência do Novo Marco Legal do Saneamento – ultrapassam R$ 893 bilhões, de acordo com a Abcon, dos quais mais de R$ 436 bilhões destinados exclusivamente a sistemas de esgotamento sanitário.

Em 2019, as concessionárias privadas operavam em 5% dos municípios brasileiros. Atualmente, estas empresas respondem por 30% dos serviços de saneamento das cidades do país.

Desde o início da vigência do marco legal do setor, em julho de 2020, foram realizados 57 leilões em 20 estados, com o investimento comprometido acumulado de R$ 161,1 bilhões, segundo a Abcon. Para 2025, estão previstos R$ 77,3 bilhões em investimentos em 27 projetos de 850 municípios.

“Esses números destacam a necessidade urgente de ampliar os aportes no setor, já que a média anual de investimentos tem ficado abaixo do necessário para atingir a meta [de universalização]”, disse Junior.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.