Cyrela vê incerteza em 2025 após registrar seu melhor trimestre em vendas

Construtora de médio e alto padrão teve lucro líquido de R$ 497 milhões no quarto trimestre de 2024, o dobro do registrado um ano antes

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Bloomberg — A Cyrela dobrou o lucro líquido no quarto trimestre em comparação a 2023, um resultado acima do esperado pelo mercado e que veio ancorado em um recorde de vendas para a companhia.

A construtora teve lucro de R$ 497 milhões nos últimos três meses do ano ante R$ 248 milhões no mesmo período do ano anterior. No ano, o lucro foi de R$ 1,65 bilhão, alta de 75% ante 2023.

O CFO da Cyrela, Miguel Mickelberg, apontou a frente de vendas como o principal motor do resultado. “Foi provavelmente o trimestre mais forte da história da Cyrela”, afirmou em coletiva com jornalistas para comentar os resultados divulgados na quinta-feira (20).

A construtora lançou 54 empreendimentos em 2024, com VGV (valor geral de vendas) potencial de R$ 9,6 bilhões, avanço de 45%. As vendas líquidas, por sua vez, alcançaram R$ 9,3 bilhões – ganho de 44%.

Boa parte do fôlego veio do quarto trimestre. Foram 21 lançamentos com VGV potencial de R$ 4,9 bilhões, valor 184% superior ao apurado no mesmo período do ano anterior. As vendas líquidas, excluindo permutas, avançaram 93%, para R$ 3,5 bilhões.

As ações da Cyrela (CYRE3) fecharam em alta de 0,21% nesta sexta-feira (21), depois de avançarem até 1% durante a manhã, em reação à divulgação do balanço.

O resultado indica uma resiliência da construtora em um cenário macroeconômico mais desafiador com juros de dois dígitos. Mickelberg reforça, no entanto, que 2024 foi um ano positivo para o mercado da construção civil como um todo, especialmente em São Paulo.

“Talvez se esperasse um movimento diferente com os juros altos, mas vemos ainda a economia forte, com desemprego baixo e alta demanda”, disse.

Apesar do volume recorde em lançamentos, a construtora fechou o quarto trimestre com 57% deles vendidos.

O CFO disse que é difícil prever se a demanda vai se manter em patamares elevados em 2025.

“Esse ano traz mais incerteza que a média. As taxas de financiamento imobiliário para os clientes começaram a subir agora em janeiro, então, precisamos ver o comportamento do mercado lançamento a lançamento”, afirmou.

Mickelberg avalia que a Cyrela tem capacidade para apresentar um volume relevante de lançamentos se as condições permitirem, levando a um “ligeiro” crescimento frente aos números de 2024. “Se as condições não ajudarem, com certeza lançaremos menos que ano passado.”

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A companhia ainda não percebeu impacto de alta de juros nos distratos, mas já existe uma mudança comportamental: os clientes de média e alta renda estão optando por quitar os imóveis com recursos próprios.

Historicamente, 45% dos clientes Cyrela tomam financiamento imobiliário em comparação com 70% daqueles que compram produtos Living, bandeira para a média renda. Em 2024, os financiamentos em Cyrela caíram para 41% e em Living para 62%.

Houve mudança ainda no mix de lançamentos. A presença da Vivaz, marca do segmento econômico, aumentou de 18,5% para 23,4% do VGV lançado entre 2023 e 2024.

O alto padrão também ganhou espaço, aumentando a fatia de 51,9% para 58,8%. O médio padrão, por outro lado, encolheu de 29,5% para 17,7%.

Em 2025, há espaço para que o segmento voltado ao Minha Casa Minha Vida (MCMV) ganhe ainda mais espaço.

“A baixa renda é menos vulnerável a juros dado que o programa tem as taxas pré-definidas. Diria que nesse segmento há uma chance maior de crescer”, afirmou.

O executivo vê ainda com bons olhos a possibilidade de criação de uma nova faixa do MCMV para famílias que ganham entre R$ 8 mil e R$ 12 mil.

“Se ocorrer, consideramos bastante positivo porque aumenta o mercado endereçável, especialmente em cidades como São Paulo onde terrenos, mão de obra e custo de construção são mais caros”, disse.

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