Brasil — A Cyrela vai lançar em junho deste ano seu primeiro edifício corporativo. Com 120 metros de altura e design assinado pelo estúdio italiano Pininfarina, o prédio será a nova sede da empresa a partir do terceiro trimestre de 2026.
O edifício terá elementos de outros projetos especiais da Cyrela, como a vista livre proporcionada pela altura acima da média da cidade em região já elevada, além da assinatura de design de uma marca de luxo.
“O diferencial único para uma cidade como São Paulo é a vista. O cliente muitas vezes não sabe que essa vista existe”, afirmou Efraim Horn, co-CEO da Cyrela, em entrevista coletiva a jornalistas.
Efraim é o filho mais velho de Elie Horn, fundador da Cyrela. Desde 2014 divide o comando da incorporadora com o irmão Rafael, que cuida da gestão. Efraim é o responsável pela visão de produtos e marca.
Segundo ele, o objetivo da nova sede é inspirar a equipe da construtora, que não costuma ter acesso ao produto final da empresa.
O processo de construção na Cyrela dura em média sete anos entre a escolha do terreno e a entrega das chaves, momento em que o edifício é entregue aos clientes e a construtora fica sem acesso ao produto.
“A empresa que sonhou, planejou, cuidou, negociou e resolveu todas as dívidas [do terreno] não pode mais entrar no prédio no dia da entrega. Este é diferente: vai ser para nós”, disse.
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A construtora de alto e médio-alto padrão já desenvolveu edifícios corporativos estruturados por meio de parcerias com a CCP (Cyrela Commercial Properties), braço de ativos comerciais criado em 2007 e desmembrado da companhia em 2020, que deu origem à SYN Prop & Tech, que hoje atua de forma independente.
O novo lançamento deve ser o único edifício corporativo construído 100% pela Cyrela.
A Cyrela não tem ambição de entrar no segmento corporativo, e o motivo principal são os prazos mais alongados para obter um retorno do investimento. É preciso esperar que o edifício esteja pronto para venda ou locação, diferentemente da incorporação residencial que tem fluxos recorrentes durantes as obras.
A construtora (CYRE3) irá ocupar os seis últimos dos 25 andares da nova sede – à exceção do rooftop, que será aberto para eventos. Efraim não abre os nomes dos interessados nas demais lajes, mas estima que a locação inicial deve ficar em torno de R$ 130 o metro quadrado nos andares mais baixos, chegando a R$ 160 nos mais altos.
A localização do prédio será no encontro entre a rua Oscar Freire e a avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste, próximo da Avenida Paulista – região que, à exceção do Pico do Jaraguá, tem a maior altitude da cidade.
O valor cobrado nos aluguéis fica até 23% acima da média da cidade na faixa mais alta. Ainda assim, é quase metade do piso de R$ 300/m² cobrado na região da Faria Lima.
A ‘vista’ nos números
Em seus lançamentos, Efraim costuma brincar que os espigões da Cyrela têm a vista tão livre que é possível sentir a brisa fria que chega do Sul do país ou o cheiro de café de Minas Gerais. A nova sede da Cyrela acompanha a recente guinada nos lançamentos da companhia.
Dos seis edifícios mais altos do portfólio da Cyrela, cinco foram lançados nos últimos dois anos. O maior de todos é o Vista Cyrela, que, além da altura, conta com mobiliário assinado pela Armani/Casa. O prédio próximo ao Jockey Club terá 216 metros de altura e será o residencial mais alto da capital paulista.
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Existem, porém, desafios construtivos.
Acima de 150 metros de altura, não é feita pintura na fachada, por exemplo. “Tanto os brises [material de revestimento] quanto as paredes do Armani vão subir içados e montados”, explicou Efraim.
Considerado um sucesso de vendas, o Vista Cyrela teve um impacto de 15% na receita bruta da incorporadora no último trimestre de 2024 nos cálculos da XP Investimentos.
O co-CEO, no entanto, disse que a empresa tem 90 canteiros de obras em seus três estados de atuação e que um único projeto não tem grande impacto no ano, dado o método contábil - os efeitos ocorrem conforme o andamento do empreendimento, com receitas e despesas distribuídas ao longo da construção.
Questionado sobre o apetite da companhia por mais “verticalização”, Efraim disse que esse “com certeza não é o principal foco” da construtora.
Os “espigões” serão projetos pontuais que envolvem um método construtivo mais caro e com prazo de entrega maior, em torno de cinco anos, quando a média, em geral, é de três. E, por essa razão, exigem um perfil de cliente que consiga arcar com esse custo.
Ainda assim, a companhia terá ao menos dois lançamentos dessa linha neste ano. A Cyrela lançou neste mês de março a segunda torre do projeto com a Armani, que deve ter preços de metro quadrado entre R$ 30 mil e R$ 60 mil a depender da altura do apartamento.
Outro projeto programado para junho é um empreendimento assinado pela Pininfarina com 210 metros de altura. Nele, a expectativa é começar com unidades a R$ 33 mil/m² nos andares inferiores, chegando a R$ 50 mil/m² na cobertura.
O metro quadrado mais caro da Cyrela segue com o Heritage, prédio no Itaim Bibi lançado em 2017, também em parceria com a Pininfarina. “É o prédio mais desejado em São Paulo. Existem propostas formais para que o proprietário venda por R$ 95 mil/m²”, disse Efraim.
A ação da Cyrela é top pick entre analistas para o setor de média e alta renda diante de sua resiliência mesmo em um cenário de juros mais altos.
A incorporadora dobrou seu lucro líquido no quarto trimestre em comparação a 2023 para R$ 497 milhões, impulsionado pelo melhor trimestre de vendas da história da companhia.
Para 2025, quando os juros podem chegar a 15% ao ano, a companhia não pretende baixar preços para conquistar clientes com menor acesso ao financiamento.
“Estamos conservadoramente positivos [para 2025]. Sabemos que precisamos ser mais artistas, mais ousados e criativos, e não mais flexíveis em preço – não se trata disso”, afirmou.
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