Cosan avalia venda de fatia na Vale para reduzir a sua dívida, segundo fontes

Holding controlada por Rubens Ometto disse a investidores que todas as opções estão sobre a mesa para melhorar o seu balanço, segundo fontes que falaram à Bloomberg News

Vale
Por Rachel Gamarski - Gerson Freitas Jr - Felipe Saturnino - Vinícius Andrade
27 de Setembro, 2024 | 04:36 PM

Bloomberg — A Cosan, do bilionário Rubens Ometto, considera vender ativos, incluindo sua participação avaliada em US$ 2,2 bilhões na Vale, em uma tentativa de desmontar uma aposta frustrada na mineradora para reduzir a dívida alta, disseram à Bloomberg News pessoas familiarizadas com o assunto.

A empresa disse a investidores que todas as opções estão sobre a mesa para melhorar seu balanço, incluindo a venda de parte ou de toda a sua participação de 4,1% na Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, disseram as pessoas, que pediram para não ser identificadas porque as discussões não são públicas.

A joint venture da Cosan com a Shell, a Raízen (RAIZ4), também cogita a venda de seu ativo de distribuição de gasolina na Argentina, disseram as pessoas.

Leia mais: Moove, empresa de lubrificantes da Cosan, entra com pedido de IPO em Nova York

PUBLICIDADE

A Cosan – um império de açúcar e etanol que expandiu os negócios para áreas que vão desde a produção de lubrificantes e a distribuição de combustíveis até transporte ferroviário e fornecimento de gás natural – viu suas ações despencarem para o nível mais baixo em mais de quatro anos neste mês.

As ações da Cosan avançaram 2,4% na máxima do dia nesta sexta-feira (27) após a notícia da Bloomberg News, enquanto as da Vale recuaram 1,7% na mínima.

Investidores estão céticos quanto à sua capacidade de investir de forma eficiente desde a sua decisão, em outubro de 2022, de fazer dívidas para comprar uma participação minoritária na Vale, que, desde então, perdeu valor e proporcionou retornos considerados “medíocres” pelo BTG Pactual.

A Cosan disse que “observa continuamente as melhores oportunidades de desalavancagem e segue comprometida com a otimização na alocação de capital, principalmente em um cenário de altas taxas de juros e ambiente macroeconômico desafiador”. 

A empresa tem mais desafios pela frente, como as altas taxas de juros e os lucros menores do seu negócio de açúcar e etanol.

A empresa também tem lutado para abrir o capital de seus negócios de lubrificantes e gás.

Rubens Ometto em foto de 2017: empresário liderou a formação de uma das maiores holdings de negócios do Brasil

”A alavancagem da Cosan cresceu muito nos últimos anos e claro que isso assusta um pouco o investidor”, disse Marcelo Ornelas, gestor de renda variável da Kínitro Capital.

PUBLICIDADE

Uma janela de IPO ajudaria a [empresa a] desalavancar, mas, com esse ciclo de alta de juros agora, provavelmente não tem espaço para isso, o que dificulta o cenário.”

Ometto, 74 anos, disse que o mercado não gostou do investimento na Vale “porque não entendeu”. Desde que a operação foi anunciada,as ações da Cosan (CSAN3) caíram mais de 32% em dólar. No acumulado deste ano, os papéis recuam cerca de 39%, o que levou a uma redução de US$ 2,9 bilhões no valor de mercado da companhia.

A Vale (VALE3) passou por um processo de sucessão tumultuado que envolveu tentativa de interferência do governo, vazamentos de informações e brigas entre os membros do conselho.

Ometto propôs que um ex-presidente-executivo da Cosan, Luiz Henrique Guimarães, assumisse o papel de liderança na Vale, disseram as pessoas, mas o cargo será ocupado a partir de outubro pelo atual diretor financeiro da mineradora, Gustavo Pimenta.

Leia mais: Vale antecipa mudança de CEO e Gustavo Pimenta assume comando em outubro

O diretor financeiro (CFO) da Cosan, Rodrigo Araujo, reconheceu a necessidade de reduzir a dívida, dizendo aos investidores em teleconferência em agosto que a empresa está “altamente focada na alocação de capital e, obviamente, a alavancagem é uma prioridade da agenda”.

Araujo acrescentou ainda,que o tema é um “ponto preocupante”.

A oferta pública inicial (IPO) de ações recentemente anunciada da unidade de lubrificantes da Cosan, a Moove, ocorrerá em Nova York, mas o plano fez pouco para acalmar os investidores.

As ações tiveram pouca oscilação desde que a Bloomberg News reportou pela primeira vez que a Cosan tinha contratado bancos para a listagem da Moove.

A empresa também busca uma oportunidade para retomar seus planos de IPO da Compass, companhia do ramo de gás da Cosan, em uma transação que poderia levantar mais recursos, disse uma das pessoas.

Preocupação com a dívida

A dívida da Cosan eleva o mal-estar de investidores que já têm sofrido com uma decepção geral sobre as ações brasileiras.

O índice MSCI Brazil de ações cai 16% em dólar no acumulado deste ano, desempenho abaixo do índice mais amplo de ações emergentes.

Ao adquirir sua participação de 5% na Vale (VALE3) há dois anos, a Cosan pagou cerca de R$ 66,70 por ação, ante R$ 64,25 no fechamento de quinta-feira (26), segundo dados compilados pela Bloomberg. A visão de Ometto de que as empresas trabalhariam juntas também não se tornou realidade.

“A Cosan ainda não conseguiu concretizar plenamente essa cooperação, com a governança se tornando uma área de preocupação recentemente”, escreveu Thiago Duarte, analista de ações do BTG Pactual, em nota aos clientes.

Analistas seguem questionando se a Cosan tem retornos suficientes para suas aquisições e seus investimentos. Por meio de sua unidade Compass, a Cosan comprou recentemente uma participação na Cia. Paranaense de Gás por R$ 906 milhões, um preço que o Citigroup considerou cerca de R$ 325 milhões acima de sua estimativa de valor justo.

As taxas de juros não têm ajudado.

O Banco Central contrariou a tendência global de cortes de juros ao subir a Selic para 10,75% ao ano na semana passada, em uma tentativa de reancorar as expectativas de inflação.

Nos primeiros seis meses de 2024, a Cosan gastou R$ 2,17 bilhões com juros sobre a dívida líquida, um aumento de 19% em relação ao mesmo período de 2023.

“Isso leva a uma menor rentabilidade desses investimentos quando se considera o custo do financiamento”, segundo Regis Cardoso, analista da XP, que acrescentou que a empresa trabalha para reduzir os níveis de alavancagem.

Leia mais: Oncoclínicas prevê aumento de capital de R$ 1,5 bi para reduzir alavancagem

A holding provavelmente também evitará usar mais caixa para entrar em novos negócios, pelo menos por enquanto.

Ometto e Araújo reconheceram em reuniões privadas com investidores que a empresa perderá alguns investimentos enquanto leva tempo para reequilibrar o seu caixa.

Um exemplo foi a privatização, concluída em julho, da maior empresa de saneamento da América Latina, a Sabesp (SBSP3). Ometto ficou tentado pela ideia de se tornar um investidor estratégico na empresa, o que acrescentaria ao seu império a gestão de água da maior cidade da América Latina, mas acabou decidindo não seguir em frente, disseram as pessoas.

A participação na Vale é apenas uma entre uma série de opções que a Cosan poderia considerar para reduzir a sua dívida, observou Cardoso. “No entanto, na ausência de maiores desinvestimentos, essa desalavancagem deve ser gradual ao longo do tempo”, disse ele.

Veja mais em Bloomberg.com