Corrida por novas reservas de petróleo em LatAm leva a investimento recorde

Sete “majors” do setor, como são conhecidas petroleiras como ExxonMobil, Shell e BP, devem investir de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões por ano até 2029 na região, segundo consultoria

Pré-sal brasileiro ainda apresenta potencial, mas incertezas sobre novas campanhas exploratórias são risco para produção no futuro
20 de Junho, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — As principais petroleiras globais estão em busca de novas reservas na América Latina com um volume recorde de investimentos. As oportunidades se estendem do pré-sal brasileiro até os campos de óleo não-convencional - o shale gas - na Argentina e passa por águas profundas na Guiana. O objetivo é garantir a sustentabilidade da produção no médio e longo prazo.

As sete “oil majors” – como é chamado o grupo de super petroleiras composto por ExxonMobil (XOM), Chevron (CVX), Total (TTE), Shell (SHEL), BP (BP), Equinor (EQNR) e Eni (E) – devem investir cerca de US$ 127 bilhões na região no período de 2015 a 2029, conforme levantamento da consultoria especializada Wood Mackenzie.

Segundo Luiz Hayum, analista de upstream da consultoria, trata-se de um recorde histórico na América Latina.

“Os investimentos das majors na região vão dobrar. A indústria sai de um patamar de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões por ano entre 2015 e 2021 para US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões anuais entre 2024 e 2029″, apontou o especialista.

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A Guiana tem ganhado destaque na América Latina, embora o Brasil siga com posição central no volume estimado para o período, acrescentou. Dos US$ 10 bilhões previstos para a região em 2024, cerca de US$ 4,2 bilhões serão destinados a projetos no país.

Ainda de acordo com a consultoria, a americana Exxon lidera os investimentos na região, seguida da anglo-holandesa Shell, que tem ampla atuação no pré-sal brasileiro. A norueguesa Equinor aposta na Argentina e em projetos de águas ultraprofundas no Brasil.

Outras gigantes como a britânica BP e a francesa Total também estão em crescimento na região, com projetos em Trinidad e Tobago e Suriname.

Na avaliação de Hayum, dos novos projetos de exploração previstos para a região, Guiana e Suriname têm as oportunidades mais claras.

Em paralelo, há uma fronteira exploratória considerada promissora no sul do continente: a Bacia de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Com características geológicas similares às de uma grande reserva de petróleo recém-descoberta na Namíbia, a região também envolve áreas na Argentina e no Uruguai.

“Existe a crença de que a Margem Sul de Brasil, Uruguai e Argentina de alguma forma seja análoga à grande reserva descoberta na Namíbia. É provável que perfurem poços na região”, disse o analista.

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“A Argentina avançou primeiro nesse sentido e o sucesso do país deve destravar os investimentos no Uruguai e no Brasil”, acrescentou.

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Pré-sal lidera investimentos

Nos próximos cinco anos, os investimentos na América Latina serão alocados principalmente no pré-sal brasileiro, segundo a Wood Mackenzie.

Hayum afirmou que os recursos extraídos são facilmente comercializados, em poços “ultra produtivos”, o que confere níveis reduzidos de emissões de carbono se comparados a óleos extraídos em outras localidades. “As majors estão em busca de projetos mais sustentáveis.”

O especialista disse que, em geral, as reservas na região são grandes, resilientes e com breakeven (ponto de equilíbrio do negócio) alcançado com o barril abaixo de US$ 30.

Um dos projetos mais promissores desenvolvidos atualmente na América Latina é o de Argerich, que deve explorar pela primeira vez as reservas offshore (em alto-mar) da Argentina. “É a maior promessa da região hoje”, destacou.

Equinor, YPF e Shell detêm os direitos de exploração de Argerich, a cerca de 300 quilômetros do Porto de Mar del Plata. A predominância é de óleo nesse poço – diferentemente do shale gas prevalente no megacampo de Vaca Muerta –, mas a bacia também tem áreas com gás natural, disse Hayum.

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No Suriname, a expectativa é que o desenvolvimento do projeto Bloco 58 pela Total em parceria com a APA Corporation seja altamente promissor. As estimativas apontam um volume da ordem de 700 milhões de barris para os campos de Sapakara Sul e Krabdagu.

Já Trinidad e Tobago é um dos maiores exportadores globais de gás natural liquefeito (GNL). Atualmente, o país recebe investimento significativo para sustentar a oferta do insumo para plantas locais, incluindo dois projetos greenfield com participação das majors: Calypso e Manatee.

Incertezas aos projetos

Apesar da promessa de grandes reservas, no Brasil ainda há o desafio de viabilizar a produção em novos campos. “Os projetos existentes no pré-sal começam a declinar depois de 2030″, disse Hayum.

As dificuldades em novas campanhas exploratórias, como na Margem Equatorial, por exemplo, trazem incertezas para o setor de óleo e gás no Brasil no médio e longo prazo. Neste contexto, as majors têm buscado alternativas como a área do pós-sal.

A recém-empossada CEO da Petrobras (PETR3, PETR4), Magda Chambriard, defendeu a aceleração da exploração na costa brasileira, o que inclui a Bacia de Pelotas, em entrevista coletiva no fim de maio. Ela também criticou a demora no licenciamento para perfuração na Margem Equatorial.

Já na Argentina, onde as expectativas são grandes principalmente em Vaca Muerta, antigos problemas ainda colocam em dúvida o escoamento da produção: os gargalos de infraestrutura.

“Há movimentos importantes acontecendo na Argentina para superar os gargalos de infraestrutura no setor. Não começaram no atual governo, mas estão se materializando agora”, observou Hayum.

Na Guiana e no Suriname, por sua vez, as incertezas estão concentradas no curto prazo, disse. “Os recursos [de petróleo] estão provados, e a infraestrutura, contratada, mas há dúvidas sobre a execução e a entrega dentro do prazo e os custos estimados”, afirmou.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.