Black Friday: Casas Bahia e GPA usam apelo de compra antes de alta do juro

Empresas varejistas têm expandido o crédito aos consumidores em relação ao ano passado a fim de promover compras antes do esperado encarecimento dos empréstimos

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Bloomberg — Casas Bahia e Pão de Açúcar estão entre as varejistas que tentam fazer com que os consumidores façam suas compras de Black Friday mais cedo e antes dos iminentes aumentos da Selic.

As empresas estão expandindo o crédito aos consumidores e oferecendo melhores negócios do que no ano passado. O objetivo é promover compras e garantir vendas para o que se espera ser mais um período difícil à frente.

A Selic está em 11,25% ao ano e deve subir ainda mais em dezembro, com possível aceleração no ritmo de aperto monetária.

Um ambiente de juros mais altos pode desacelerar o consumo e certamente pesará nos balanços dos varejistas, que frequentemente operam com altos níveis de dívida a taxa flutuante. As companhias já passaram por processos de reestruturação de dívidas no passado recente.

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O setor varejista do Brasil tem enfrentado dificuldades altos níveis de dívida e a concorrência de gigantes do comércio eletrônico, como Amazon e Mercado Livre.

Embora o comércio eletrônico tenha remodelado o varejo nos Estados Unidos e na Europa, uma confluência de circunstâncias econômica, financeiras e logísticas manteve o Brasil relativamente isolado.

Isso significa que as falências, fusões e mudanças estratégicas que se espalharam pelo setor em outros lugares agora estão atingindo o Brasil.

Diante desse cenário, os varejistas estão adotando uma nova abordagem, incluindo o início das vendas da Black Friday já na última semana de outubro.

No Pão de Açúcar (PCAR3), também conhecido como GPA, promoções antecipadas estão impulsionando as vendas em categorias como vinho e café, disse o diretor comercial da empresa, Joaquim Sousa, em entrevista à Bloomberg News.

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Oferta de crédito

As empresas também estão estendendo mais crédito para aumentar as compras. No Brasil, os varejistas oferecem empréstimos aos seus clientes por meio de seus braços de empréstimos internos.

A aposta é que ajudar os clientes a financiar compras aumentará as vendas, mas isso pode ser uma faca de dois gumes porque as redes arcam com o peso de quaisquer perdas em seus empréstimos.

Casas Bahia (BHIA3) aumentou a oferta de crédito em 25% para a temporada de Black Friday, oferecendo até R$ 1 bilhão para financiar compras de clientes durante as festas de fim de ano.

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A empresa, que também iniciou sua estratégia de Black Friday no final de outubro com foco em eletrônicos, disse que as vendas até agora estão de acordo com suas expectativas, mas se recusou a fornecer números específicos.

João Machado, de 37 anos, é exatamente o tipo de comprador que os varejistas estão tentando conquistar. Ele estava pensando em comprar um telefone e outros eletrônicos há alguns meses, e todas as ofertas o levaram a fazer essas compras agora.

Varejistas sob pressão

Os varejistas estão entre os piores desempenhos no índice de referência Ibovespa. As ações da Casas Bahia caíram mais de 60% no acumulado do ano, enquanto o GPA caiu cerca de 30% no mesmo período. Enquanto isso, o Ibovespa caiu cerca de 3%.

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A expectativa é que as receitas das vendas de fim de ano aumentem as vendas no próximo trimestre, mas o setor precisa ver mudanças mais amplas em sua dinâmica para melhorias a longo prazo.

“Números positivos podem ajudar no curto prazo, com alguns papéis reagindo bem”, disse Rafael Ito, analista e cofundador da Acuto Capital. “Mas não é uma tendência de longo prazo, e o setor de varejo continuará ruim.”

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