Bloomberg Línea — O ano de 2025 começará nos próximos dias sob o sentimento de incertezas e de cautela na economia brasileira, com juros em trajetória de alta, que pressionam as finanças das empresas.
No cenário externo, as atenções estarão voltadas para o segundo mandato de Donald Trump na Casa Branca e sua agenda de impor - ou ameaçar impor - tarifas comerciais mais elevadas para defender os interesses da maior economia do mundo.
Medidas protecionistas dos Estados Unidos podem gerar efeitos em cascata no comércio global, com a reação em especial de China e União Europeia. O aumento potencial de tarifas pode encarecer os produtos importados e afetar empresas brasileiras que dependem de tais insumos.
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No Brasil, Gabriel Galípolo estreia no comando do Banco Central, depois de seis anos de liderança de Roberto Campos Neto, com o desafio de reancorar as expectativas para garantir a estabilidade monetária após um quarto trimestre de alta dos juros e de contínua desvalorização do real frente ao dólar. Investidores e empresários vão observar o grau de independência na prática do novo presidente do BC.
Nesse contexto de riscos e incertezas, a equipe editorial da Bloomberg Línea ouviu participantes do mercado, como empresários, executivos e consultores, e analisou relatórios de bancos e corretoras para elaborar a lista de 10 empresas que merecem entrar no radar de investidores no ano que começará.
A seleção não é um ranking com critérios objetivos como projeções de faturamento, geração de caixa ou outros indicadores financeiros, mas, sim, uma relação de companhias com potencial de destaque - positivo ou negativo - em suas respectivas áreas de atuação nos próximos trimestres.
1. Banco do Brasil
O maior banco estatal voltado para o varejo, liderado por Tarciana Medeiros, representa um dos casos que serão observados mais de perto por investidores e analistas em 2025. Por um lado, a deterioração de indicadores de inadimplência do agronegócio, segmento que sofreu com a queda de commodities, segue como um dos principais pontos de atenção do Banco do Brasil (BBAS3). O resultado do quarto trimestre de 2024, a ser divulgado em fevereiro, deve ainda apontar uma piora na qualidade da carteira de crédito rural, segundo analistas, e melhorias só devem vir no segundo semestre de 2025. Por outro lado, há áreas do banco com perspectiva mais positiva. É o caso da Brasilprev, empresa de previdência privada controlada pelo BB, que espera expandir sua base de clientes com iniciativas como a venda de planos via WhatsApp. Estratégias comerciais mais agressivas em parceria com a Cielo também devem gerar mais resultados.
2. Nubank
Um crescimento significativo de dois dígitos nos resultados financeiros é a expectativa consensual para o banco digital liderado por David Vélez, Cristina Junqueira e Lívia Chanes, que acumula recomendações de compra para sua ação (NU), listada na Bolsa de Nova York. É o caso do Goldman Sachs, que projeta aumento de 29% do lucro (US$ 2,9 bilhões) em 2025. A expansão internacional também está no radar após o recente aporte no banco digital Tyme Group, com foco em mercados emergentes e presente na África do Sul e nas Filipinas - e isso sem contar o avanço orgânico no México e na Colômbia. O banco digital, o mais valioso player financeiro do Brasil, também deve acelerar as apostas para reforçar o ecossistema de serviços, a exemplo do NuCel, seu plano de celular, e na disputa por contas PJ e no segmento de alta renda.
3. Azzas 2154
A house of brands (AZZA3) idealizada e liderada por Alexandre Birman deve começar a apresentar resultados em um novo patamar de receitas, como reflexo de sinergias capturadas da fusão entre Arezzo e Grupo Soma. O avanço da internacionalização de marcas como a Farm é um dos desafios diante um cenário de juros e dólar elevados, segundo analistas. A recuperação das vendas da Schutz, após remodelação, também é aguardada. Por outro lado, investidores vão acompanhar novos passos do processo de otimização do portfólio, que foi reduzido para 30 marcas após a descontinuidade da Alme, Dzarm, Reversa e Simples. Segundo a companhia, também está em fase de estudos alternativas para as marcas BAW, Paris-Texas e TROC. Para analistas do BTG Pactual, ainda é momento de “aguardar para ver” dada a complexidade da integração.
4. iFood
O iFood tem acelerado a estratégia de diversificação e de aumento da rentabilização em cima de uma base com 80 milhões de clientes no mercado brasileiro - com uso crescente de IA e a liderança de Diego Barreto. Apostou, entre outras iniciativas, em salões de restaurantes parceiros, com totens para que os consumidores possam fazer os pedidos com mais agilidade, e reforçou o iFood Pago, que procura posicioná-lo como o banco dos restaurantes, com a estruturação de uma esteira de crédito. As novas frentes reforçam a tese de um ecossistema de negócios, conectado aos mercados de delivery de alimentos e outros produtos. A integração aguardada para o segundo semestre com a Decolar, recém-adquirida pela Prosus, sua holding controladora, vai possibilitar a oferta de pacotes de viagens para essa base, o que reforçará o cross-sell.
5. Mobly
Após a fusão com a endividada Tok&Stok, a companhia (MBLY3) estará sob olhar atento de investidores para que comece a entregar as sinergias prometidas, da ordem de R$ 80 milhões a R$ 135 milhões ao ano no Ebitda em cima de integrações em frentes como verticalização, logística e cadeia de fornecedores. O maior player de móveis do mercado brasileiro começará a apresentar uma estratégia de marketing e de atendimento de um público que vai das classes A/B, com a Tok&Stok, à C, com a Mobly. A demanda por programas de moradia como o Minha Casa, Minha Vida melhora a perspectiva para as vendas de móveis de entrada, mas a inflação, o aperto monetário e a consequente desaceleração econômica serão um desafio.
6. Cantu
A Cantu Inc, fundada e liderada pelo empresário Humberto Cantu, opera o maior marketplace de pneus do país, com presença no exterior. E tem reforçado o modelo de negócios e segue à espera de uma janela para buscar executar um já manifestado plano de abertura de capital - conta como investidor o fundo de private equity L Catterton, da família de Bernard Arnault, da LVMH. Em 2024, depois de levantar R$ 650 milhões com nova emissão de debêntures, a empresa adquiriu a Drivesul Participações, dona da concorrente GP Pneus. O movimento marcou a entrada da Cantu no varejo físico, com uma rede de 117 lojas com a oferta de serviços automotivos, como geometria, balanceamento, manutenção de freios e suspensão.
7. PRIO
Junior company de petróleo, ou operadora independente, a PRIO (PRIO3) tem conseguido atender às expectativas de investidores de maneira recorrente. Segundo analistas, a companhia demonstra capacidade de execução de projetos, mesmo diante de oscilações do preço do barril e da instabilidade da oferta de ativos no mercado brasileiro – ainda dominado pela Petrobras. A visão consensual é que a PRIO, que tem Nelson Tanure como um de seus principais acionistas e seu filho Nelson Queiroz Tanure no comando do conselho, consegue aliar crescimento da produção e alto retorno. A aquisição recente do campo Peregrino e o início da operação de Wahoo, previsto para o final de 2025, devem contribuir para sua expansão.
8. Equatorial
Com ampla atuação de destaque no setor de energia elétrica, a Equatorial ganhou os holofotes em 2024 ao se tornar acionista de referência da Sabesp, no mais aguardado leilão de privatização do ano. A conquista de uma fatia de 15% na empresa é considerada a principal aposta para crescer no setor de saneamento, sob a liderança de Carlos Augusto Piani, um dos executivos mais influentes e bem-sucedidos do país. Anteriormente, a Equatorial tinha uma concessão de água e esgoto no Amapá. Para analistas, o movimento da empresa deve trazer não só receita adicional mas também expertise em um dos setores mais promissores no Brasil, diante do plano nacional para atingir a universalização do saneamento até 2033.
9. JSL
A JSL, do grupo Simpar, é uma das maiores transportadoras do país no modal rodoviário e tem conseguido se destacar no segmento de transporte - no terceiro trimestre, acumulou R$ 4,5 bilhões em novos contratos. Trabalha com grandes clientes de diversos setores, de montadoras a papel e celulose. Apesar do cenário de juros elevados, analistas veem uma operação mais sólida para a JSL, com crescimento sem comprometer as margens. A empresa tem diversificado as operações para reduzir a exposição às intempéries do mercado, com aposta em armazenagem e distribuição, em alta devido ao avanço do e-commerce.
10. JHSF
Com modelo que aposta na resiliência do público de alta renda tanto para incorporação como para consumo, a companhia (JHSF3) avança no desenvolvimento de novos empreendimentos e tem feito ampliações estratégicas. As principais linhas de negócios - shoppings, locação, aeroporto e hotéis - estão com projetos em expansão. Dois dos destaques aguardados para 2025 são o Fasano Club e o São Paulo Surf Club, ambos na capital paulista e que representam o avanço do grupo no concorrido mercado de clubes para a alta renda. Em outra frente, a Aeroporto Catarina, no interior paulista, tem apresentado crescimento “impressionante”, segundo recente relatório do Santander, que projeta continuidade do crescimento nas vendas imobiliárias, expansão da divisão de hospitality e melhoria nos resultados da divisão de gastronomia.
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