Bloomberg — A Nippon Steel comprará a United States Steel por US$ 14,1 bilhões para criar a segunda maior empresa de aço do mundo — e a maior fora da China — com um papel fundamental no abastecimento de fábricas e de montadoras americanas.
O acordo encerra meses de incerteza sobre o futuro da US Steel, um ícone da indústria americana, que vinha considerando transações potenciais desde que rejeitou uma oferta da concorrente Cleveland-Cliffs por US$ 7,25 bilhões em meados de agosto.
Para a Nippon, maior produtora de aço do Japão, a transação proporciona uma grande presença na indústria siderúrgica americana em um momento em que a demanda está prestes a se beneficiar do aumento nos gastos com infraestrutura nos Estados Unidos.
A US Steel é um fornecedor chave, especialmente para o lucrativo mercado automotivo. A empresa japonesa tem buscado crescimento no exterior para compensar uma série de desafios enfrentados em suas operações atuais.
A Nippon pagará US$ 55 por ação em dinheiro, segundo comunicado das empresas.
O acordo anunciado na segunda-feira (18) representa um prêmio de 142% sobre o preço das ações da US Steel no último dia de negociação antes de anunciar a revisão e a Cliffs revelar a oferta. As ações da empresa saltaram 25% para US$ 49,30 às 9h36 em Nova York. A Cliffs subiu 7,2%.
O acordo criaria uma gigante do aço com fábricas que se estendem da Eslováquia a Osaka, passando pela Pensilvânia. Seria a segunda maior siderúrgica do mundo, com mais de 86 milhões de toneladas de capacidade, ultrapassando a ArcelorMittal, sediada no Luxemburgo, segundo uma apresentação da empresa e cálculos da Bloomberg. Apenas a estatal chinesa China Baowu Steel Group teria mais capacidade.
A Nippon tem buscado crescimento no exterior à medida que enfrenta uma desaceleração na demanda doméstica, a rápida desvalorização do iene e um aumento na concorrência na Ásia. A empresa vem fechando alto-fornos no Japão devido à fraca demanda.
Em uma apresentação, a Nippon disse que está expandindo sua presença nos EUA para se beneficiar de uma população em crescimento, energia barata e foco renovado na construção de infraestrutura. A empresa disse que obteve compromissos de financiamento para a transação de bancos japoneses.
Fim de uma era nos EUA
Para a indústria americana, a aquisição marcará o fim de uma era. A US Steel remonta a 1901, quando J. Pierpont Morgan fundiu uma coleção de ativos com a Carnegie Steel de Andrew Carnegie.
A empresa passou por uma mudança dramática nos últimos anos sob a liderança do CEO David B. Burritt, com o foco de investimento se afastando da produção tradicional de alto-forno de aço a partir de minério de ferro, em direção a plantas mais modernas e menos poluentes que fundem novamente sucata de metal.
A empresa assumiu o centro do palco na indústria global do aço em agosto, quando revelou ter rejeitado uma oferta da Cliffs e iniciado uma revisão estratégica.
O anúncio deu início a algumas semanas dramáticas, à medida que o influente sindicato United Steelworkers declarou apoio ao combativo CEO da Cliffs, enquanto um comprador pouco conhecido surpreendeu o setor com uma oferta ainda maior, antes de retirar abruptamente seu interesse dias depois.
Enquanto a US Steel considerava suas opções, analistas especulavam que certos compradores estariam mais focados na planta Big River Steel da empresa no Arkansas, que utiliza fornos elétricos a arco modernos e mais eficientes, enquanto buscavam descartar os ativos mais antigos de alto-forno.
O vice-presidente executivo da Nippon Steel, Takahiro Mori, disse que o plano da Nippon é continuar com os planos existentes da US Steel para a empresa, incluindo a conclusão do projeto Big River e a continuação das operações dos ativos legados de produção de aço. Mori não descartou mudanças no futuro.
“Somos favoráveis ao plano da US Steel”, disse Miro em uma entrevista. “Daqui a alguns anos, podemos pensar de outra maneira, mas neste momento estamos apenas seguindo o plano atual.”
Aprovações necessárias
O acordo requer aprovação dos acionistas da US Steel e precisará ser aprovado por reguladores, incluindo o Comitê de Investimento Estrangeiro nos EUA, ou CFIUS, na sigla em inglês. Alguns políticos americanos já criticaram a ideia de um comprador estrangeiro para a icônica empresa americana enquanto a US Steel avaliava ofertas potenciais.
Mori, da Nippon, disse que está confiante em superar esse obstáculo, apontando para a forte relação do Japão com os EUA. “Não tenho nenhuma preocupação em passar pelo CFIUS”, disse ele.
As duas empresas concordaram que a US Steel manterá seu nome e sede. A Nippon também disse que honrará todos os acordos que a US Steel tem com o USW, que repetidamente disse que não apoiará compradores estrangeiros.
As relações entre o USW e a US Steel permaneceram tensas. O presidente do USW, David McCall, disse ter recebido uma ligação às 6h da manhã, horário de Nova York, do CEO da US Steel, Burritt, que deixou um recado. McCall disse que teria sido a primeira vez que falou com o executivo desde que se tornou o principal oficial do sindicato em setembro, após a morte do ex-presidente Tom Conway.
“Não é assim que as coisas vão funcionar”, disse McCall em uma entrevista. “Não conhecemos a Nippon.”
O sindicato tem um direito transferível — que disse que passaria para a Cliffs — para fazer uma oferta concorrente após uma oferta pela US Steel como parte de seu acordo coletivo de trabalho.
No entanto, a Cliffs disse em comunicado que parabenizou a US Steel pelo acordo e desejou sucesso na transação. Goncalves, CEO da Cliffs, disse que a empresa vai refocar suas prioridades de alocação de capital em direção a recompras de ações mais agressivas.
O Citigroup atua como assessor financeiro da Nippon Steel, enquanto Barclays, Goldman Sachs Group e Evercore assessoram a US Steel.
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