Como Victor Wembanyama, sensação da NBA, pode ganhar US$ 1 bilhão em quadra

Francês de 20 anos pode se tornar o primeiro jogador do basquete a se tornar bilionário apenas com os contratos como atleta, sem contar os ganhos de patrocinadores

Victor Wembanyama Sets Course to Become a Basketball Billionaire Unlike Any Other
Por Randall Williams
21 de Janeiro, 2024 | 09:58 AM

Bloomberg — A sensação Victor Wembanyama pode se tornar o primeiro jogador profissional de basquete a ganhar US$ 1 bilhão em quadra. O fenômeno francês de 2,24 metros, que completou 20 anos em 4 de janeiro, foi selecionado pelo San Antonio Spurs como a primeira escolha no draft de 2023 da National Basketball Association (NBA).

O time o contratou por um contrato de novato (rookie) de quatro anos no valor de US$ 55,2 milhões, o maior acordo possível sob o atual acordo trabalhista da liga nos EUA.

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O acordo representa um primeiro passo para o que poderia ser uma carreira historicamente lucrativa. Enquanto vários jogadores de basquete conhecidos enriqueceram com contratos de patrocínio e outros empreendimentos comerciais, Wembanyama, que cresceu no subúrbio de Le Chesnay, em Paris, pode entrar para o grupo dos ultrarricos apenas amarrando seus tênis e pisando na quadra noite após noite - obviamente, ele já atrai o interesse de grandes marcas e ganha dinheiro dessa forma também.

De acordo com os limites de contrato atuais da NBA, Wembanyama poderia acumular mais de US$ 1 bilhão em ganhos com o basquete até os 33 anos.

Após o término de seu contrato de novato, ele poderia ser elegível para um contrato de extensão de novato de cinco anos que lhe renderia US$ 316 milhões.

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Em seguida, se ele continuar brilhando em quadra e permanecer saudável, ele poderia estar na fila para um chamado contrato supermax, no valor de aproximadamente US$ 529 milhões ao longo de cinco anos. Isso levaria seus ganhos na carreira para pouco mais de US$ 900 milhões.

Um segundo contrato supermax poderia então colocar o jovem astro acima da marca bilionária em seu primeiro ano. Esse contrato poderia valer US$ 760 milhões ao longo de cinco anos, de acordo com estimativas da Bloomberg.

“Não é algo que eu tenha pensado antes”, disse Wembanyama em uma entrevista à Bloomberg News. “Isso amplia o leque de possibilidades e impacto que posso ter.”

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Conhecido pelos fãs como “Wemby”, Wembanyama entrou na NBA com um nível de expectativa diferente de qualquer jogador desde LeBron James, que foi draftado pelo Cleveland Cavaliers 20 anos antes. Sua habilidade de pontuação lembra a do astro perene Kevin Durant, e sua envergadura de 2,44 metros pode transformá-lo em um destaque defensivo semelhante a Giannis Antetokounmpo e Rudy Gobert.

Poucas outras estrelas do esporte alcançaram o status de bilionário sem ajuda de negócios fora do campo.

Comparação: de Lebron a Jordan

O jogador de futebol Cristiano Ronaldo ganhou mais de um bilhão de dólares, segundo a Forbes, jogando pelo Manchester United, Real Madri e Juventus, além da mais recente jornada na Arábia Saudita.

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Shohei Ohtani, o astro japonês do beisebol que assinou com o Los Angeles Dodgers no mês passado por US$ 700 milhões ao longo de 10 anos, no contrato único mais rico de qualquer esporte profissional, poderia chegar perto de alcançar US$ 1 bilhão durante sua carreira.

Lebron James, aos 39 anos, é o jogador mais bem pago da história da NBA, ganhando US$ 479 milhões em contratos de basquete.

A Forbes estimou que a fortuna do astro do Lakers ultrapassou a marca dos dez dígitos - US$ 1 bilhão - no verão passado, impulsionada por empreendimentos bem-sucedidos como a SpringHill Company, uma empresa de entretenimento que atingiu uma avaliação de US$ 750 milhões em 2021; um acordo com a gigante de tênis Nike no valor de mais de US$ 1 bilhão; e uma participação acionária na Fenway Sports Group, que é proprietária do Boston Red Sox e do Liverpool Football Club.

A lenda da NBA Michael Jordan atingiu o status de bilionário em 2014 e agora seu patrimônio está avaliado em cerca de US$ 3,5 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index. Enquanto Jordan, que se aposentou da NBA em 2003, ganhou US$ 94 milhões como jogador, ele arrecadou múltiplos disso com a venda do Charlotte Hornets, um acordo inovador de tênis com a Nike ainda na década de 1980 e contratos de endosso com marcas como McDonald’s, Gatorade e Hanes.

Wembanyama indicou que não quer imitar seus antecessores. Até agora, ele tem preferido acordos menores que ele vê como mais alinhados com seus valores pessoais.

“Eu preferiria não fazer nada do que fazer algo sem sentido”, disse ele.

Alcance global e Olimpíada

O valor de Wembanyama se estende a ajudar a NBA a se expandir no exterior.

A liga tem trabalhado - e lutado - para aumentar sua audiência internacional há anos. Jogadores como o pivô chinês Yao Ming, “draftado” pelo Houston Rockets em 2002, ajudaram a impulsionar brevemente sua popularidade na Ásia. A liga já sediou jogos da temporada regular no México e na Europa; Brooklyn Nets e Cleveland Cavaliers jogarão em Paris neste mês.

Ao mesmo tempo, mais talentos de alto nível vêm de fora dos EUA. Wembanyama foi um dos quatro jogadores franceses escolhidos no draft de 2023. Nas últimas cinco temporadas, o prêmio de MVP (sigla em inglês para Jogador Mais Valioso) da liga foi conquistado por um jogador nascido no exterior, entre eles as estrelas Giannis Antetokounmpo (Grécia e Nigéria) e Nikola Jokić (Sérvia).

No entanto a NBA ainda não conseguiu atrair a atenção de espectadores globais em comparação com competições como a Premier League, a liga de futebol do Reino Unido.

A ascensão de Wembanyama à fama coincide com a Olimpíada deste verão - um dos maiores eventos esportivos do mundo - em Paris. Wembanyama será uma estrela do time anfitrião, potencialmente aumentando o interesse na NBA. A cultura do basquete “não é tão profunda na França”, disse ele, mas “expandir o jogo em casa é uma de minhas prioridades no futuro distante”.

Uma pegada global maior poderia permitir que a NBA obtivesse acordos de TV mais volumosos, e os jogadores provavelmente buscariam uma parcela maior dessas recompensas.

O atual acordo de mídia da NBA, no valor de US$ 24 bilhões, expirará após a temporada 2024-2025. Seu próximo acordo poderia chegar a algo entre US$ 70 e US$ 80 bilhões. O acordo coletivo atual, por sua vez, expirará em 2030, com a opção de qualquer lado optar por sair após a temporada 2028-2029.

As redes de TV esperam que Wembanyama atraia espectadores.

Os Spurs estão programados para jogar um total de 19 partidas televisionadas nacionalmente este ano, ainda que conte com um recorde de 8 vitórias e 34 derrotas até este sábado (20), uma das piores performances na liga. Wembanyama é fundamental para os planos da franquia de retornar ao status de campeã - ela ganhou o último título em 2014, ainda com Tim Duncan, Manu Ginobili e o também francês Tony Parker.

Embora Wembanyama esteja quase certo de impulsionar a NBA, é menos claro o quanto ele será um ativo para marcas normalmente associadas a estrelas do esporte.

Muitos jogadores de basquete complementam sua renda com contratos de tênis e endossos de bebidas esportivas. Restaurantes de fast-food, fabricantes de videogames, seguradoras e gigantes da tecnologia também contrataram jogadores da NBA como garotos-propaganda.

Jogadores jovens como Wembanyama, no entanto, que são mais conscientes de sua marca pessoal e ganham mais jogando do que as gerações anteriores, estão mais seletivos.

“Há trinta anos, os jogadores aceitariam qualquer coisa de qualquer um porque estava disponível e os salários eram mais baixos”, segundo Mark Patricof, fundador da Patricof Co., uma plataforma de investimento e consultoria esportiva. Atletas agora “têm uma visão de mundo muito mais ampla”.

Um exemplo é o acordo de Wembanyama com a Barcode, fabricante de uma bebida à base de plantas fundada por Mubarak “Bar” Malik e o ala-pivô do Washington Wizards, Kyle Kuzma. Em vez de oferecer um grande pagamento inicial, a Barcode conquistou Wembanyama dando a ele a oportunidade de investir.

“Eu sabia monetariamente que não poderíamos competir com as ofertas das grandes marcas a curto prazo”, disse Malik em uma entrevista por Zoom. “No longo prazo, com o que temos planejado, haverá uma oportunidade para ele possuir uma quantidade significativa da empresa e ganhar muito dinheiro se fizermos as coisas da maneira certa.”

Malik se conectou com Wembanyama por meio de um investidor em Paris e voou para a capital francesa para conhecer a família do jogador. Quando chegou, a mãe de Wembanyama, nutricionista e massagista, ficou empolgada ao ver que as vitaminas que ela dava ao filho quando criança estavam na bebida, disse Malik.

Wembanyama teve ofertas lucrativas de concorrentes como Gatorade e BodyArmor, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, mas o francês disse que a Barcode estava mais alinhada com suas prioridades. O tamanho de sua participação não foi divulgado.

“Fazer parceria com uma marca que não seria saudável e que eu não beberia seria inautêntico”, disse Wembanyama. “Isso seria eu perdendo minha identidade.”

Ainda assim, há alguns contratos de endosso nos quais Wembanyama seguirá os passos de estrelas como Jordan e James. Ele está conectado à Nike desde que se tornou profissional na França aos 15 anos e espera ter seu próprio tênis.

“Quero que o meu pareça leve e esteja alinhado com o meu jogo”, disse Wembanyama. “Tem que ser flexível para que as pessoas possam se movimentar rapidamente.”

Metas: ampliar o acesso à água

Wembanyama disse que espera utilizar parte de seus ganhos para aumentar o acesso à água em lugares onde ela se tornou escassa. Em outubro passado, a Bloomberg News informou que 3,6 bilhões de pessoas têm acesso inadequado à água pelo menos um mês a cada ano. A Organização Meteorológica Mundial espera que esse número ultrapasse 5 bilhões até 2050.

“A coisa de que os seres humanos mais precisam na vida é água”, disse Wembanyama. “Uma grande parte da população mundial em países do terceiro mundo não tem acesso a água limpa.”

As regiões mais afetadas pela escassez de água no mundo estão no Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia. O Instituto de Recursos Mundiais afirma que há 25 países, representando um quarto da população global, que estão expostos a um estresse hídrico extremamente alto.

Wembanyama disse que investir seu dinheiro em causas como essa é outra maneira de moldar sua identidade.

“Todos estão em busca daquela grande oportunidade nos negócios”, disse ele, “mas, na verdade, ainda estou tentando me encontrar”.

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