Como o Mustang se tornou um dos destaques de vendas para a Ford no Brasil

Montadora americana consegue um salto na demanda de seu modelo esportivo icônico mesmo em momento de salto do dólar e de ascensão de elétricos no mercado automotivo

Ford Mustang Mach-E GT
20 de Outubro, 2024 | 11:20 AM

Bloomberg Línea — O Mustang, um dos carros esportivos mais icônicos do mundo, completa 60 anos de existência em 2024. E, no mercado brasileiro, o modelo passa por um de seus melhores momentos em termos de vendas. Para a Ford (F), esse pode ser apenas o começo de uma nova fase no mercado brasileiro.

“Temos uma oportunidade no Brasil de continuar a crescer entre o público com renda mais alta”, disse o diretor de marketing da Ford na América Latina, Marcel Bueno, em entrevista à Bloomberg Línea.

Modelos como o Mustang, o Camaro, da Chevrolet, e o Charger, da Dodge, têm em comum a potência, o design “musculoso” e o “ronco” do motor e ainda carregam muitos fãs ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde a cultura dos chamados muscle cars é ampla e difundida.

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No Brasil, há uma oferta mais restrita de modelos que disputam esse segmento de mercado.

O Mustang é um deles, sendo oferecido em duas versões: no motor V8 (gasolina), a partir de R$ 529 mil, e no motor 100% elétrico, com preços a partir de R$ 486 mil.

A nova geração do esportivo, o Mustang GT Performance, chegou ao mercado local em março deste ano e foi o responsável pelo crescimento expressivo das vendas do modelo em 2024. No acumulado até setembro, a montadora emplacou 542 unidades (a combustão) e 216 do Mach-E (elétrico).

Para o consolidado do ano, a Ford estima um crescimento das vendas de aproximadamente 65% sobre 2023. “Há um desejo muito grande por essa geração do carro”, disse Bueno. “O segmento está bastante aquecido e devemos fechar o ano com um ritmo alto [de vendas].”

O mercado de esportivos no Brasil saiu de aproximadamente 2.900 unidades em 2019 para cerca de 5.400 em 2024, segundo projeção da Bright Consultoria Automotiva.

O desempenho em um momento de dificuldades da indústria automotiva de voltar aos patamares pré-pandemia nos segmentos mais populares.

“De 2019 para 2024, a participação dos esportivos nas vendas totais do mercado mais do que dobrou”, afirmou o diretor da Bright, Murilo Briganti.

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Atualmente, a Porsche lidera o segmento de esportivos no país, seguida da Ford com o Mustang. Briganti disse que isso se deve em grande razão pelo posicionamento da marca alemã, que no Brasil optou por uma estratégia de preços mais competitivos.

Para Bueno, a dinâmica entre oferta e demanda tem que ser equilibrada. “Não queremos um crescimento descontrolado, mas que seja consistente ao longo do tempo. Quando a relação com o cliente é apenas transacional, decepciona quem compra”, disse.

Estratégia de longevidade

O diretor da Ford disse que o público-alvo do Mustang no Brasil é 90% masculino, na faixa etária acima dos 45 anos e com alta renda.

Isso significaria, portanto, não ter que enfrentar o desafio de outros segmentos do mercado de atrair jovens da Geração Z (15 a 27 anos de idade), menos apegados à posse de bens, especialmente os mais caros.

Mas o executivo disse que a Ford busca, sim, aproximar o Mustang das novas gerações. A estratégia passa pela oferta de tecnologia, além do apelo da versão eletrificada (veja mais abaixo).

Há uma estratégia mais agressiva de marketing de influência, segundo ele, com a nomeação de embaixadores que possam gerar conexões com a marca. O executivo citou como exemplos a skatista profissional e piloto de drift Letícia Bufoni, além de seu colega de esporte Diego Higa.

Interior do Mustang

“Nosso foco não é somente em quem pode comprar o carro hoje, há uma estratégia de construção de imagem. Também miramos aqueles que talvez possam comprar o Mustang no futuro”, disse Bueno.

Apelo da eletrificação

Enquanto a indústria automotiva global luta para expandir a oferta de carros elétricos, a Ford aposta que o consumidor do segmento esportivo também vai abraçar a eletrificação.

Com 487 cavalos de potência, o Mach-E promete acelerar de 0 a 100km/h em 3,7 segundos. “Temos conseguido atrair um público diferente do Mustang V8, cujo cliente é mais conservador. Com o Mach-E, temos atraído consumidores também adeptos da tecnologia de eletrificação.”

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No geral, os esportivos têm se mantido afastados das oscilações econômicas.

“O Mustang atua em uma categoria que é menos afetada no curto prazo por variações, seja de dólar, seja da economia”, disse Bueno.

O executivo afirmou que a montadora acompanha as movimentações do dólar e da economia, mas a estratégia visa passar uma mensagem de consistência de posicionamento ao cliente, evitando variações.

Em sua avaliação, a Ford tem uma grande oportunidade no Brasil. “Com a evolução do agronegócio e de outros setores do país, teremos recursos para o crescimento do mercado. Prova disso é o volume crescente das vendas de esportivos e essa tendência deve continuar”, afirmou.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.