Bloomberg — As turbinas eólicas geram dinheiro quando estão girando. Mas, quando tremem, isso pode custar bilhões de dólares em prejuízos. A Siemens Energy luta para conter as repercussões após descobrir que uma peça principal na estrutura de suas turbinas eólicas pode se mover ou torcer ao longo do tempo, potencialmente danificando outros componentes essenciais, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.
Executivos e membros do conselho estão preocupados com a hipótese de que corrigir o problema possa exceder em muito a estimativa da empresa de mais de € 1 bilhão (US$ 1,1 bilhão), disse uma das pessoas, que pediu para não ser identificada discutindo informações que não são públicas.
A magnitude do problema, que ainda está sob avaliação e pode envolver outras questões, pode determinar a viabilidade de um negócio no centro das metas climáticas de longo prazo da Europa e da segurança energética.
A descoberta marca o mais recente revés para a fabricante alemã desde que assumiu o controle de sua problemática divisão espanhola Gamesa. Isso desencadeou uma venda recorde das suas ações que fez com que cerca de US$ 6 bilhões fossem eliminados do valor de mercado da Siemens Energy quando ela alertou sobre os custos adicionais na semana passada. As perdas persistentes têm sido particularmente dolorosas em um momento em que a demanda por energia renovável só aumenta.
Histórico
As turbinas eólicas da Gamesa têm sido atormentadas por falhas de qualidade, incluindo problemas contínuos para expandir sua nova plataforma terrestre, conhecida como 5.X. Após expressar confiança em janeiro deste ano de que havia descoberto todos os problemas técnicos da Gamesa, a Siemens Energy se vê mais uma vez revelando as deficiências da unidade.
Com o tamanho do problema ainda incerto, o conselho de supervisão analisa a criação de um comitê especial para gerenciar a situação, e seus principais membros agendaram uma reunião para esta sexta-feira (7 de julho) para obter mais clareza sobre a extensão do problema, disse uma das pessoas.
Um porta-voz da Siemens Energy disse que o conselho de supervisão estuda como pode aconselhar e apoiar melhor a administração executiva e que nenhum comitê especial foi estabelecido até o momento.
Enquanto o fabricante lida com suas dificuldades, a Siemens anunciou na quarta-feira passada (28) que reduziu sua participação na Siemens Energy em 6,8%, ou seja, de 31,9% para 25,1%, após indicar no mês passado que provavelmente sairá do negócio no longo prazo. A fatia foi repassada para o fundo de pensão de funcionários da Siemens.
A empresa de engenharia alemã era a maior acionista da empresa desde a listagem de sua unidade de turbinas em 2020. As ações da Siemens Energy acumulam queda de 8,8% no ano.
Máquinas com defeito
A empresa afirmou que entre 15% e 30% das turbinas foram afetadas pelo problema. Ela não especificou o número de máquinas com defeito e provavelmente ainda não sabe.
No melhor cenário, as falhas recentemente divulgadas terão causado apenas danos limitados a componentes críticos. Mesmo nesse caso, dezenas de turbinas que estão centenas de metros no ar precisarão de manutenção, um empreendimento custoso que só pode ser feito com equipamentos especializados.
O analista do JPMorgan, Akash Gupta, estima que cada turbina com defeito custará até US$ 1,7 milhão para ser reparada. E, com base nas projeções da empresa e nas indicações de que o defeito se aplica às plataformas mais recentes, aproximadamente 1.000 turbinas podem enfrentar problemas, elevando o custo potencial para US$ 1,7 bilhão, estima Gupta. Isso incluiria o custo de substituição de pás e rolamentos.
No entanto, o custo pode aumentar à medida que a empresa expande sua investigação para ver se o problema também está presente em gerações mais antigas de turbinas e em seu negócio de energia eólica offshore, que é mais lucrativo e tem sido menos afetado por problemas técnicos.
Responsabilidades
Além dos custos de reparo, a Siemens Energy também enfrenta responsabilidade pela receita perdida de seus clientes relacionada ao defeito. E uma complicação adicional pode surgir se a empresa precisar fazer mudanças de projeto que desencadeiem um árduo processo de certificação que pode levar anos. Enquanto isso, a Siemens Energy pode não ter escolha senão continuar entregando máquinas que ela sabe que estão com defeito e incorrer em mais perdas nos próximos anos.
Os clientes começaram a se preocupar. Alguns que já encomendaram turbinas e outros que estavam em negociações com a Siemens Energy dizem que foram mantidos no escuro sobre os problemas, exceto pelo que a empresa disse em seu comunicado na semana passada. Com apenas um punhado de fabricantes de turbinas no mercado, os desenvolvedores de energia eólica não necessariamente têm uma alternativa simples.
Entre os preocupados está a Iberdrola SA, uma das maiores empresas de desenvolvimento de energia renovável do mundo e ex-acionista da Gamesa. A empresa comprou 11 turbinas eólicas da Siemens ainda não instaladas, com base na problemática plataforma 5.X. Agora, ela está conduzindo uma análise detalhada antes de decidir se instalará ou não as máquinas na Espanha, de acordo com uma carta vista pela Bloomberg News e confirmada por um porta-voz da Iberdrola.
Mas alguns clientes estão mais otimistas. Para a empresa sueca de energia renovável Arise AB, uma das maiores compradoras das turbinas 5.X, os problemas com as turbinas têm sido mínimos, disse o CEO Per-Erik Eriksson. A empresa teve que reduzir a produção em um parque eólico na Suécia quando o vento excede uma certa velocidade, mas isso não acontece com frequência. Eriksson disse que recebeu garantias da Siemens Energy e não hesitaria em comprar turbinas deles novamente no futuro.
“Temos alguns problemas em nosso projeto na Suécia, mas não espero que seja algo importante”, disse Eriksson em uma entrevista. “No longo prazo, acreditamos que a Siemens vai resolver isso.”
Fusão com a Gamesa
Quando a Siemens Wind Power se fundiu com a fabricante espanhola de turbinas Gamesa em 2017, a nova empresa enfrentou problemas desde o início, com conflitos entre as culturas corporativas. As margens de lucro diminuíram rapidamente à medida que a concorrência corria para reduzir os preços.
Após anunciar perdas em 2020 devido a desafios em seus negócios na Índia, a empresa demitiu o então CEO Markus Tacke em favor de Andreas Nauen, que estava no comando dos negócios de turbinas eólicas da Siemens, na tentativa de conter as perdas.
“Desde a fusão, eles têm enfrentado dificuldades para integrar a Gamesa e a Siemens”, disse Deepa Venkateswaran, analista da Bernstein. “A fusão foi um fracasso cultural e financeiro nesse sentido.”
Mas, à medida que Nauen tentava melhorar a empresa, o mundo “se voltou” contra ele. Restrições na cadeia de suprimentos causadas pela pandemia e o aumento dos preços das commodities prejudicaram amplamente a indústria de turbinas eólicas e contribuíram para que a Siemens Gamesa registrasse uma perda de cerca de € 626 milhões no ano fiscal encerrado em setembro de 2021.
Nauen prometeu que as coisas estavam melhorando e que a empresa voltaria a ser lucrativa.
As perdas aumentaram no ano seguinte. A Gamesa substituiu seu CEO novamente, trazendo o executivo e especialista em reestruturação da Siemens Energy, Jochen Eickholt. Desde então, Eickholt tem enfrentado problemas com as turbinas e registrado prejuízos.
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