‘Como falar Faria Limês’: o que está por trás do uso de Venvanse no mercado

No último episódio do videocast da Bloomberg Línea, Edu Rocha, da Clínica Movimente, e Erica Maia Alvarez, da plataforma Conexa, falam sobre saúde mental no mercado financeiro

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Bloomberg Línea — O ambiente de cobrança por performance no mercado financeiro pode ser um terreno fértil para o estresse e o esgotamento mental, com carga de trabalho excessiva em um cenário de alta competição.

Esse quadro se reflete em sintomas como exaustão física e mental, presenteísmo (distanciamento mental do trabalho ou negativismo), associados em muitos casos à síndrome de burnout, uma classificação ocupacional reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022 e que está presente também entre trabalhadores da Faria Lima, o centro do mercado financeiro de São Paulo.

Nesse contexto, mas também de busca por performance, alguns profissionais passaram a recorrer a certas formas para trabalhar mais, como o uso de medicamentos estimulantes, ainda que esse uso não necessariamente tenha indicação médica, como deveria ocorrer.

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O Venvanse e a Ritalina são dois dos medicamentos utilizados por parte dos profissionais do mercado financeiro por serem substâncias cujos efeitos incluem o aumento da concentração e, por tabela, da produtividade.

O uso sem indicação médica ou considerado abusivo desses neuroestimulantes pode ter consequências para a saúde mental e física, além do risco de dependência, segundo alertam especialistas.

“O que é estresse para nós? Se eu visse um urso na minha frente, meu coração iria acelerar, minha pressão, subir. Isso é o estresse previsto para a biologia humana”, disse Erica Maia Alvarez, médica psiquiatra e gerente de saúde mental da Conexa, plataforma de atendimento digital de saúde, no novo episódio de “Como falar Faria Limês”, nova série da Bloomberg Línea.

“O estresse do trabalho é artificial. Cobranças, prazos, entregas, tudo isso nosso cérebro entende como fatores estressantes. Não temos tempo de voltar ao normal porque somos expostos a esses estímulos todos os dias. É como se estivéssemos de frente para um urso [o tempo todo]”, comparou a psiquiatra.

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Segundo ela, o aumento do uso de medicamentos não-prescritos para aumentar o foco e a concentração tem efeitos que podem ser considerados positivos em um curto prazo, mas que se convertem em dependência prejudicial no longo prazo. Isso porque, com o uso indiscriminado e prolongado, os efeitos da medicação não passam a neutralizar o estresse contínuo do ambiente de trabalho.

“Quando os pacientes chegam até mim, indicados por psiquiatras, é porque a situação já está crítica”, disse Edu Rocha, que é fundador da Clínica Movimente, empresa voltada para o tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos com a ajuda de exercícios físicos e do xadrez.

“O paciente precisa entender que é um trabalho de longo prazo. É possível melhorar muito, e vai em escala, no trabalho, em casa. Já tive pessoas que decidiram mudar de emprego, porque conseguiram enxergar que estavam melhor de saúde mental e precisavam de um ambiente mais saudável”, contou.

Como Falar Faria Limês

A conversa com Erica Maia Alvarez e Edu Rocha faz parte do videocast “Como Falar Faria Limês”, nova série da Bloomberg Línea que foi gravada nos estúdios da B3, em São Paulo. A série com oito episódios tem como convidados profissionais de diferentes áreas para mergulhar no coração do mundo financeiro e corporativo brasileiro de forma divertida, acessível e esclarecedora.

Os debates abordam desde conceitos fundamentais de negócios até questões sociais e culturais, incluindo a presença de mulheres na Faria Lima e o espaço da comunidade LGBTQIA+. Todos os episódios estão disponíveis no YouTube e no Spotify.

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