Bloomberg News — Aos 18 anos, Nick Mowbray abandonou a faculdade em sua Nova Zelândia natal e se mudou para a China com seu irmão mais velho, Mat. Eles não falavam mandarim ou outro dialeto, tinham poucos contatos e pouca experiência em negócios. Mas tinham uma ideia: abrir uma fábrica perto de Guangzhou, uma cidade portuária em rápido crescimento no sul do país, onde produziriam brinquedos.
Com um empréstimo de NZ$ 20.000 (cerca de US$ 11.550) dos pais, compraram uma máquina de injeção de plástico e começaram a trabalhar. “Vivíamos com cerca de R$ 7 por dia”, disse Nick Mowbray, co-fundador do Zuru Group, em uma entrevista à Bloomberg News. “Comíamos apenas arroz e legumes.”
Mais de duas décadas e várias fábricas depois, o Zuru se tornou um gigante no mercado de brinquedos. Seus “lançadores” de dardos de plástico competem com os Nerf da Hasbro nas prateleiras do Walmart e da Target.
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Uma linha de colecionáveis — pequenos brinquedos com prêmios desconhecidos dentro — gera clientes repetidos. Kits de balões d’água prometem diversão fácil e acessível para dias quentes de verão.
O sucesso transformou Nick e Mat Mowbray em bilionários, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg. E sua fortuna pode crescer ainda mais. A receita da Zuru deve atingir NZ$ 3 bilhões (US$ 1,72 bilhão) em 2024, com crescimento anual de até 30%. Brinquedos respondem por dois terços das vendas, com o restante vindo de apostas em outros bens de consumo.
Categorias obsoletas
A estratégia da Zuru tem como premissa encontrar categorias de bens de consumo estagnadas, especialmente aquelas dominadas por poucos players, e se infiltrar nelas.
No mercado de brinquedos, isso significou enfrentar gigantes como Mattel e Hasbro. A Zuru usa uma cadeia de suprimentos de baixo custo — produz tudo na China e possui todas as suas fábricas — para oferecer preços mais baixos que os dos concorrentes.
A manobra também atraiu críticas de rivais.
A Lego, por exemplo, processou a Zuru por infringir sua marca registrada, alegando que os brinquedos de tijolos de plástico da Zuru eram compatíveis com seus conjuntos. A Lego venceu a primeira audiência. A Zuru recorreu e o caso ainda está em andamento nos tribunais da Nova Zelândia.
A Zuru, com sede em Hong Kong, emprega mais de 5.000 pessoas em mais de 30 locais globais. A empresa expandiu-se além dos brinquedos há seis anos e entrou em mercados como o de shampoo e o de ração para cães. Suas marcas de fraldas — Millie Moon e Rascals — disputam espaço com gigantes globais como Huggies e Pampers.
A expansão é possível, disse Nick Mowbray, graças ao controle rigoroso da cadeia de suprimentos da Zuru e ao foco na automatização.
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Mas essa força pode se tornar sua maior fraqueza rapidamente.
A maior parte das vendas da empresa vem dos Estados Unidos, onde o presidente eleito Donald Trump prometeu tarifas de até 100% sobre produtos chineses. Ele também prometeu impor uma taxa adicional se Pequim não ajudar a conter o fluxo de fentanil pela fronteira sul do país.
“Obviamente, tarifas não nos beneficiam”, disse Nick, de 39 anos, que vive com sua esposa em uma mansão fora de Auckland. “Mas a cadeia de suprimentos da China ainda é insuperável, mesmo com tarifas. Não podemos superá-la em eficiência.”
Ele já havia enfrentado crises no país anteriormente.
Quando a Covid-19 surgiu e as empresas correram para sair, a Zuru explorou um renminbi (moeda chinesa) fraco para comprar fábricas com grandes descontos. Mão-de-obra e talentos se tornaram abundantes. Foi “a melhor coisa para nós”, disse ele. “Nós apenas decidimos apostar novamente na China”, disse Nick.
Primórdios na feira de ciências
Nos primórdios, no final dos anos 90, o irmão mais velho de Mowbray criou um mini balão de ar quente feito de uma lata de refrigerante e um saco plástico, que conquistou o primeiro lugar na feira de ciências da Nova Zelândia.
Com a ajuda de seu pai, Mat e Nick transformaram o brinquedo infantil rudimentar em um pequeno negócio. O duo fez cópias em casa, enchendo latas com metila e algodão.
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“Nós fazíamos isso na garagem de casa e depois vendíamos de porta em porta”, disse Nick. “Nós fazíamos voar esses sacos plásticos básicamente em chamas.”
Seus pais mais tarde permitiram que eles montassem uma fábrica básica no celeiro de sua fazenda leiteira em Tokoroa, uma cidade rural perto do centro da ilha Norte da Nova Zelândia. Em troca, o casal pulverizava ervas daninhas e ordenhava vacas uma vez por semana.
Mat foi o primeiro a abandonar a universidade para se concentrar nos negócios. Nick logo seguiu. Eles dormiam no trabalho — Mat na fábrica, e Nick, no showroom de Hong Kong —, mas lentamente conquistaram contratos. Sua irmã, Anna, eventualmente se juntou ao casal na Ásia.
IPO nos planos
A empresa cresceu organicamente desde então, com seus fundadores recusando-se a pedir financiamentos após o empréstimo inicial dos pais. Ultimamente, no entanto, discussões sobre uma oferta pública inicial (IPO) ganharam força. O motivo? Uma aposta grande demais para o crescimento orgânico, de acordo com Nick.
A Zuru tenta automatizar completamente a produção de casas para oferecer habitações baratas em todo o mundo. Ela comprou uma fábrica que ocupa 10 hectares na China, tem construído casas-teste e planeja enviá-las para Los Angeles no próximo ano, em 2025. Uma vez que comprovem o conceito, a Zuru precisará de capital externo para escalar rapidamente o projeto, disse ele.
A espinha dorsal da aposta é um software chamado DreamCatcher, que permite aos clientes projetar casas que são traduzidas em instruções precisas para uma fábrica automatizada. O software é tão simples que “até uma criança de 10 anos” poderia usá-lo, disse Nick.
“No fim do dia, acho que o que estamosconstruindo com esse projeto de habitação vai eclipsar tudo o que já fizemos”, disse ele.
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