Como a volta ao trabalho presencial impacta o mercado de escritórios em 2025

CBRE, Cushman & Wakefield e Newmark projetam de queda das taxas de vacância ao aumento do preço do aluguel no mercado corporativo em São Paulo e em outras capitais

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Bloomberg Línea — No auge da pandemia, o home office chegou a ser celebrado como o futuro do trabalho. Cinco anos depois, o cenário é outro: cada vez mais companhias retomam o modelo presencial, que era norma no mercado corporativo antes do isolamento.

Grandes corporações globais, como Amazon, AT&T e o jornal Washington Post, além de bancos de Wall Street, já exigiram o retorno dos funcionários em regime totalmente presencial neste ano. Entre as brasileiras, o modelo híbrido ainda é o mais adotado, com 57% de adesão.

Os dados foram compilados em uma pesquisa da KPMG divulgada no segundo semestre de 2024 e mostraram que o escritório continua a ganhar força em detrimento do home office. Mesmo no regime híbrido, é mais comum que os funcionários tenham que ir ao escritório - de duas a três vezes na semana (50,9%), com 5,5% quatro dias na semana - do que fiquem em casa.

Apenas uma em cada cinco empresas (20,6%) permite a ida ao escritório apenas uma vez por semana ou de forma flexível – mesmo percentual daquelas que já possuem trabalho 100% presencial. O trabalho totalmente remoto, por sua vez, tem apenas 3,6% de adoção no país.

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Um dos principais termômetros da “virada de chave” vem do mercado imobiliário, que tem mostrado forte retomada do apetite por espaços corporativos. A vacância dos escritórios no Brasil está em seu nível mais baixo desde 2021, segundo levantamentos de três entre as maiores consultorias de gestão imobiliária no país: CBRE, Cushman & Wakefield e Newmark.

Segundo os dados da Cushman & Wakefield, a taxa estava em 18,20% no terceiro trimestre de 2024 (dado mais recente divulgado); para a CBRE, em 19,3%, e, para a Newmark, em 20,9%.

Os números para o ano de 2024 ainda não foram fechados, mas a expectativa é que tenha se mantido o patamar já apontado, próximo a 20% – e abaixo da média em torno de 25% registrada em 2021.

Principal indicador de demanda, a absorção líquida (locações menos devoluções) também tem avançado. Nos cálculos da Newmark, foram 220,5 mil metros quadrados locados até o terceiro trimestre de 2024 – um avanço de 55% frente ao ano anterior e quase o dobro da média histórica anual, de 120 mil m².

“Se tudo correr como estamos prevendo, os números devem se aproximar da maior absorção líquida da história, registrada em 2017. As empresas voltaram a alugar mais espaços, e acreditamos que o aquecimento da demanda deve se consolidar em 2025″, disse Mariana Hanania, diretora de pesquisa de mercado da Newmark no Brasil, à Bloomberg Línea.

Mas, mesmo com a retomada do apetite pelos escritórios, Hanania disse acreditar que o modelo híbrido deve continuar como protagonista entre as empresas, especialmente por ser visto como um benefício para os contratados. O que deve mudar é a frequência.

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“A maioria dos nossos clientes continua no modelo híbrido, mas aqueles que tinham um modelo de dois dias presenciais na semana já passam a querer fazer três.”

As companhias alegam que o retorno ao escritório reforça a cultura organizacional de uma forma que seria difícil de replicar no home office predominante. O retorno, no entanto, traz desafios de layout: é preciso abrir lugar para os funcionários contratados durante a pandemia e reorganizar o escritório de forma mais atrativa, fatores que têm impulsionado a absorção de novos espaços de escritório.

“As empresas hoje buscam, em média, uma estação de trabalho para cada 12 metros quadrados. Antes da pandemia era uma estação a cada sete metros quadrados, um formato muito mais adensado”, estimou Felipe Giuliano, diretor de Locação, Brokerage, Saúde e Pesquisa da CBRE no Brasil.

A Amazon foi uma das companhias que teve que adiar o retorno ao presencial por causa da falta de espaço para os funcionários no escritório. O retorno, que estava programado para o início de janeiro, foi adiado em quatro meses para sete cidades americanas, incluindo Austin, Dallas e Phoenix.

A empresa não quis comentar sobre o caso de seu escritório em São Paulo - nem se deve buscar a aquisição de novos espaços. Mas, segundo apuração da Bloomberg Línea, os funcionários da sede brasileira só devem iniciar a jornada presencial em março – dois meses após o planejado.

O impacto do retorno nos preços

O aumento na frequência de uso dos escritórios (seja em modelo híbrido ou presencial) deve impulsionar ainda mais a queda da taxa de vacância ao longo deste ano, especialmente porque o número de entregas de novos prédios irá cair em 2025. Giuliano, da CBRE, estima que serão entregues apenas dois edifícios AAA (mais alto padrão de qualidade) em São Paulo neste ano.

“É algo que pode ‘espalhar’ a demanda e fazer com que as empresas dividam as ocupações entre back e front office – algo que não se via acontecendo desde 2011″, afirmou. “É uma retomada mais forte que o período pré-pandemia porque o novo estoque não está acompanhando [a demanda].”

A falta de novos escritórios na Faria Lima, região mais premium do mercado corporativo paulistano, vem pressionando os preços e pode beneficiar áreas próximas como Berrini, Chucri Zaidan e Pinheiros.

A consultoria Cushman & Wakefield calcula que a locação do metro quadrado corporativo paulistano esteja, em média, em R$ 130,19. Na Faria Lima, onde já eram comuns alugueis a R$ 300/m², hoje já é possível encontrar locações a R$ 400/m² – 200% mais que a média da cidade.

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“A baixa vacância tem levado a Faria Lima a testar os limites de preços. É algo que leva a demanda a transbordar para as regiões adjacentes”, disse Renato Almeida, gerente de transações imobiliárias da Cushman & Wakefield no Brasil.

Almeida projeta que o movimento de retomada gradual para o escritório deve se espalhar de São Paulo para outras capitais brasileiras ao longo de 2025.

“Algumas praças, como o Rio de Janeiro, ainda estão um pouco atrás no movimento. Existe uma forte presença de empresas de óleo e gás, públicas e telecom – todas com regime muito acentuado de trabalhar em casa. Mas é inevitável a mudança para o híbrido: o escritório se mostrou indispensável.”

O maior movimento vem da Vale. A mineradora vai trocar seu modelo híbrido de acesso eventual ao escritório para a presença de, no mínimo, três vezes por semana a partir deste ano.

O principal risco para que as projeções se concretizem, por ora, é o cenário macroeconômico. A expectativa para 2025 é a de juros em alta, o que pode impactar o apetite das empresas por novas contratações e, consequentemente, por mais espaço para o trabalho presencial.

“Vemos um mercado aquecido para este ano, mas a economia é um grande desafio. O risco é a economia atrapalhar: o índice de emprego e contratação está muito ligado ao mercado corporativo. Se a economia for mal, as empresas podem não ter fôlego para contratar”, disse o diretor da CBRE.

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